Passagem para a Escuridão: uma fantasia medieval que lhe põe entre o bem e o mal

Lucas Machado
Revista Subjetiva
Published in
5 min readNov 27, 2017
Divulgação

Ficha Técnica

Título: Passagem para a Escuridão — Livro 1
Autor: Danilo Sarcinelli
Ano de Lançamento: 2017
Nº de páginas: 348
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Resenha

O livro “Passagem para a Escuridão”, escrito pelo autor brasileiro Danilo Sarcinelli, nos leva a Tibéria, um reino pertencente a ilha de Cipria, um grande pedaço de terra em meio ao Mundo dos Homens. A paz, até então, reinava para todos os tiberianos por 10 anos, mas nem sempre foi assim, justamente no período anterior a este quase houvera uma guerra civil iniciada por uma atitude, no mínimo, fanática do príncipe Cesar Dante, herdeiro do trono e filho de Augusto Dante, atual rei da Tibéria, que condenou ao fogo os primos do grande aliado da família real, os Martino, por culto aos demônios, o que gerou um grande desacordo entre as duas famílias, mas que foi resolvido após o exílio do presunçoso príncipe.

O nosso protagonista, príncipe Lúcio Dante, é neto de Augusto Dante e da rainha Lívia Armina, o mesmo cresce em um ambiente privilegiado, porém carrega consigo o peso da morte de sua mãe, Flávia Dante, durante o parto que lhe concedeu a vida, e também de seu pai e filho do conde Sila Martino, Sávio Martino, que beijou a morte durante uma viagem de barco. Pelos olhos de sua avó, Lívia, Lúcio é o responsável pela morte de sua mãe, por isso a mesma nutre um sentimento dúbio com relação ao mesmo, justamente por isso ela se apega ao único filho restante, César, que retorna do exílio após 10 anos. Esse retorno trás consigo muitos episódios que de coincidência não possuem nada, como o atentado a vida de Lúcio, que desacorda e parte para o mundo dos sonhos, ou melhor, dos pesadelos, pois o mesmo se encontra com um misterioso demônio que lhe dirá mais sobre o seu destino…

“Devia ter uns dois metros de pura monstruosidade. Sua pele era de cinza doentio, esticada sobre músculos esguio. Tinha garras afiadas nas mãos e pés e nem um fio de cabelo sequer. Sua face era dura e angulosa, com olhos tão negro quanto poços de piche. Da fronte projetavam-se chifres retorcidos de Touro e uma tanga marrom lhe cobria o sexo.”

O exilado César se apresenta enquanto vilão para esta história, pois o mesmo não se conforma com a sua sentença e nem com a aproximação do pai, rei Augusto, para com o príncipe Lúcio, porque isso o distância ainda mais do trono, que é sua maior ambição até então. O grande problema de César com seu sobrinho também tem haver com a sua linhagem, pois o Lúcio também possui sangue Martino, e seu tutor é Maximiliano Martino, irmão de seu pai.

Justamente por possuir tal linhagem, seu fanatismo religioso e sublime a Ravi, o bom deus desse universo que nos é apresentado, o impede de se aproximar de qualquer Martino, que para ele está mais próximo de Arkmal, o Senhor das Trevas deste universo que fora isolado no submundo por anos, tendo os registros de tais batalhas no Grimório, o livro sagrado e perdido até sua volta.

“A verdadeira escuridão que espreita o coração dos homens é a abulia e o vazio moral.”

A paixão de Pandora, serva da realeza, por Lúcio, príncipe da Tibéria, é recíproca, porém o amor de ambos é proibido justamente por essa distância entre seus status na sociedade. A palavra “status” descreve bem as relações entre as instituições, as poderosas famílias e a igreja, essas três referências possuem interesses específicos não apenas enquanto unidade, mas também enquanto indivíduos.

A trama de “Passagem para a Escuridão” se passa justamente nesses conflitos de interesses entre todos os personagens, não sendo aconselhável se apegar a nenhum deles, pois a reviravolta é inevitável e o autor deixa isso bem claro na terceira parte, intitulada de “Céu Carmesim”, em que a volta do príncipe César é o estopim para o fim da paz, o seu presente para o seu pai e para a Tibéria, ou melhor, “Cavalo de Troia”, faz com que cada máscara caia diante dos olhos do leitor, mostrando a natureza humana de cada personagem em sua forma mais real possível.

O jovem Lúcio é o grande centro desses conflitos, porém mistérios sobre sua origem, a morte de seu pai e sobre seu destino são revelados no livro, fazendo com que o mesmo fique entre a luz e as trevas por assim dizer, tendo que abdicar da visão condicionada pelo seu tio, Pandora e Augusto como era até então, necessitando adquirir uma independência e um amadurecimento precoce em meio as circunstâncias que lhes são apresentadas durante os recentes episódios, incluindo o assassinato de pessoas próximas, que participaram de sua jornada. Mas afinal, qual será o caminho que Lúcio irá escolher? Viaje até a Tibéria e aventure-se em “Passagem para a Escuridão”.

“Sua vida até aquele momento havia sido um lindo sonho de luz e de paz. Não passava de uma fantasia, uma ilusão. A dura realidade desabafa com um balde de água fria em cima de sua cabeça. O futuro dali em diante seria uma trilha escura cercada por sombras nefastas”.

Veredito

O livro começa em um ritmo lento, pois o autor possui uma grande preocupação em apresentar os personagens, os conflitos entre eles e o que está em jogo nisso tudo. Essa apresentação se alonga pelas duas primeiras partes, “A Águia Dourada” e “Noite de Festa”, a segunda, entretanto, possui algumas reviravoltas que começam a dar um maior fôlego ao livro, sendo ela o “prólogo” de “Céu Carmesim”, que foi o capítulo que fez valer toda a experiência, me prendendo do início ao fim do mesmo.

O ritmo muda totalmente, sendo diferente dos dois primeiros que eram carregados de diálogos e pobres em batalhas, nesta última parte, vemos batalhas sendo travadas e vidas chegando ao seu fim. A inocência de Lúcio é posta em cheque, fazendo com que o personagem que antes não possuía autonomia nenhuma, agora ganhe a sua certa independência, tendo que tomar decisões que antes não lhe eram necessárias. O vilão, César, não é um dos mais concretos, pois o mesmo se torna genérico em algumas ocasiões, fazendo com que eu comece a duvidar sobre seus atos, não acreditando que o mesmo com sua personalidade conseguiria tomar decisões importantes sozinho.

A edição do livro é bem coerente com sua proposta, este é apenas o Livro I, então o autor se preocupou em apresentar-nos a Tibéria e seus conflitos, no próximo livro acredito que o mesmo terá uma maior liberdade para explorar o potencial gigantesco dos seus personagens, alguns, inclusive, acredito que não tiveram esse potencial explorado, morrendo antes mesmo de mostrarem a que veio.

Nota: 3.5/5

  • Originalidade: 0.5/1
  • Edição: 1/1
  • Personagens: 0.5/1
  • Desenvolvimento: 0.5/1
  • Ponto extra: 1/1

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Lucas Machado
Revista Subjetiva

Cientista social, professor de Sociologia e criador da Revista Subjetiva