Poesia em toda parte
Com João Doederlein, Yasmin Gomlevsky, Rafael Vitti e Charles Peixoto, sob mediação de Viviane Mosé.
A primeira mesa que participamos foi esta que leva o título desse artigo e que aconteceu na Arena Sem Filtro, contando com poetas da nova geração e da geração que é conhecida por ser “consagrada”, tanto dentro quanto fora da academia. A proposta da mesma era debater os rumos da poesia nos dias atuais, com acesso a tecnologia e informação, dialogando com jovens que possuem não mais referências sólidas, mas sim cada vez mais globais e líquidas.
João Doederlein alimenta um perfil no Instagram com o pseudônimo de “akapoeta” e possui mais de 400 mil seguidores, “Ressignificando” é o nome do seu projeto que o mesmo atribui novos significados à palavras e poetiza em cima delas. Lançando seu primeiro livro na Bienal, fala sobre a mídia democrática que é a Internet e que por isso quis publicar . O autor acredita que “tudo que eu [João] ponho no papel tem um motivo”, aposta na sinceridade em seu conteúdo e na identificação do leitor com suas palavras e que, segundo ele, “a escrita ela é sincera, sou eu que estou escrito ali”, “não é preciso palavras difíceis para terem significados”.
Ao ser perguntado pela mediadora da mesa: “Porque poesia? O que te move?”, ele diz que só sentiu que precisava colocar algo para fora de algum jeito, aconteceu de ter saído em verso e ele entendeu que aquilo é poesia, por mais que sinta afinidade com o verso, é apaixonado por prosa, acredita que “reentender quem eu sou” é fundamental, diz que ao escrever “eu tô conversando comigo mesmo” e que por isso “escrever virou um vício”.
Charles Peixoto é um consagrado poeta, começa suas obras na época da Ditadura Militar fazendo parte da juventude que se colocava contra aquela República. Ao ser perguntado pela mediadora se a repressão foi boa para a poesia, ele diz: “não sei, eu acho que não necessariamente, na nossa época aconteceu, era diferente, mas [esse processo] é bem reativo”.
Rafael Vitti e Yasmin Gomlevsky dividem a poesia com a dramaturgia. A autora começa citando Voltaire: “escrever é a arte de colar palavras”, da seus primeiros passos na escrita ao lançar um blog de poesia chamado ‘Chega de Mangas’, alimentou-o e, segundo a autora, se viciou em escrever, postar e, quando viu algo interessante, resolveu publicar seu livro ‘Fogo frio’. Yasmin acredita que há um preconceito por parte de quem oferece possibilidades de emprego para quem é artista e tem várias habilidades, segundo a autora, a arte são “expressões diferentes de uma arte que existe em mim que sai por vários buracos”.
Vitti diz que fica mais feliz quando é reconhecido por ser escritor do que por ser ator. Escrita foi fundamental para o seu processo de construção de indivíduo e “com as outras pessoas que são semelhantes”. A poesia, para ele, foi quase que natural, “saiu em forma de verso”, “as minhas poesias no meu livro ‘Quer se ver no meu olho?’ são poesias manuais”, a maioria dos seus poemas do primeiro livro foram escritos a mão. Segundo o autor, “conversar consigo mesmo e olhar para aquelas palavras de outra forma promove mudança”. Acredita que poesias mais acessíveis são fundamentais, para que as pessoas possam saber que outras passam por aquilo, assim se cria uma maior identificação entre autor e leitor. “É uma forma de compartilhar e ninguém se sentir sozinho”.
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