Polarizado pra quem?

Rafael Moreno
Revista Subjetiva
Published in
4 min readSep 1, 2021
Protestos ocorridos no dia 19 de junho, contra o Bolsonaro e a favor da vacina. Direitos de Imagem: Bruno Santos/Folhapress

Em meio ao caos social, ambiental, econômico e de saúde em que vivemos, uma afirmação parece rondar os principais veículos de informação a respeito das eleições de 2022.

O Brasil está polarizado entre Bolsonaro e Lula.

Ou senão, o Brasil está dividido entre o Bolsonaro e o PT.

Bem, não é o que diz as recentes pesquisas de intenção de voto, em que o ex-presidente Lula lidera e vence seus opositores, incluindo o Bolsonaro, em todos os cenários.

Só pra termos uma ideia, na pesquisa de intenção de voto realizada pela XP Investimentos/Ipesp, entre 11 e 14 de agosto, e divulgada no dia 17, Lula teria 40% das intenções de votos, enquanto Bolsonaro teria 24%. Se falarmos do segundo turno, a diferença é mais gritante ainda. Lula venceria com 51% das intenções de votos contra 32% do atual presidente. Não preciso nem comentar que o ex-presidente Lula mantém a liderança nos demais cenários com os demais candidatos.

O país não me parece tão dividido assim como sugerem, não é mesmo? Sequer notamos a população tão dividida como o termo “polarizado” sugere.

É quando chegamos ao título desse texto.

Se o Brasil está polarizado, está polarizado pra quem?

A narrativa é construída, não por acaso, por boa parte daqueles que participaram diretamente pela eleição do Bolsonaro.

Não podemos negar a existência de uma complexidade para entender como ele alçou o poder. Um movimento que ocorre desde as jornadas de 2013, com o advindo e avanço de um conservadorismo cool, a disseminação (e a demora na compreensão) das fakes news, passados pela condução duvidosa da operação Lava Jato, contribuindo para o distúrbio social que passamos.

Posto isso, não podemos nos esquecer o Bolsonaro teve apoio da direita.

Isso mesmo.

Direita.

Desde o Partido Novo e PSDB (como não lembrar do BolsoDória?), até organizações como MBL, o alto comando do exército com ameaças golpistas às vésperas das eleições, passando por cantores e um certo apresentador que pedia uma chance ao Bolsonaro, há todo um universo grande demais para se ignorar.

Não estamos onde estamos à toa.

Houve projeto. Cálculo. Quem incentivou sua eleição sabia exatamente o que estava fazendo. Ou vai me dizer que a crença no liberalismo do Paulo Guedes foi a única desculpa?

Aqui nasce o movimento pela terceira via e o discurso que Bolsonaro e Lula são dois extremos, como equivalentes, e o Brasil não pode ficar a mercê deles.

Qual a solução para o problema? A necessidade de uma terceira via. Esta, fatalmente de direita.

O afastamento desses representantes da direita com o representante da direita eleito por eles se configura nessa linha de raciocínio, como também na famosa "foi a esquerda que elegeu o Bolsonaro".

Pera lá, se em nosso sistema eleitoral, vence quem tiver mais votos válidos, o Bolsonaro com certeza não foi eleito pelos votos da esquerda, certo?

Não seria esse o momento de uma autocrítica da direita?

De repente assumir que o Bolsonaro está no espectro a direita e parar de disfarçar isso com "Bolsonaro x PT", "Bolsonaro x Lula", "Bolsonaro x Esquerda", e tentar algo mais honesto como "o segundo turno pode ser entre um representante da direita e um da esquerda".

Outra autocrítica válida seria assumir a estranha condução da Lava Jato e sua influência política.

De repente, algo mais direto. Ao invés de "a suspeição de Moro", dizer que ele agiu ilegalmente na condução dos casos do Lula, mantendo contato com os acusadores e combinando as provas que seriam utilizadas para a condenação.

Afinal de contas, o vazamento bombástico da Vaza Jato, publicada inicialmente pelo The Intercept e transmitida para tantos outros veículos de comunicação, elucidando as atrocidades cometidas pela Lava Jato, não obteve a devida cobertura nos canais televisivos que merecia, tamanho a sua importância para o entendimento do presente.

Muito me surpreende hoje, com o Brasil de volta no mapa da fome, mais de 500 mil mortes evitáveis durante a pandemia por conta de um governo corrupto, a desidratação da cultura e da educação, o desemprego em escala recorde, o retrocesso social, o descaso com o meio ambiente e as constantes ameaças a democracia, o questionamento que ronda a cabeça é "temos que pensar em uma terceira via".

O distanciamento histórico desse “passado recente” e a importância da história hoje, nos mostra a que preço e como chegamos, e o meios utilizados, para nos encontrarmos nesse ponto.

Não se trata um simples maniqueísmo pintado como "Bolsonaro x Lula".

Trata-se de, ao ficarmos cara a cara com a urna eletrônica, usarmos o poder democrático conquistado pelo povo para expulsar o pior presidente da história e colocá-lo de volta a sua insignificância.

As pesquisas mostram o caminho a ser seguido para que isso aconteça.

O cenário está dado e a única possibilidade de supera-lo também.

Vencer é a nossa única opção.

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