Por que devemos votar em candidatas mulheres nessas eleições?

Ana Clara Barbosa
Revista Subjetiva
Published in
4 min readSep 10, 2018
Carlota Pereira de Queiroz, primeira mulher brasileira a ser eleita deputada federal. Arte: Plenarinho.

Se você pensou que as eleições de 2014 seriam as mais polarizadas da nossa história recente, provavelmente não imaginou que o Brasil passaria por tantos conflitos nesses últimos quatro anos. Bom, o fato é que muita coisa aconteceu, e estamos aqui, mais uma vez, com uma tarefa nada fácil: escolher quais candidatos nos representarão daqui pra frente.

Apesar de conflituosos, esses últimos anos nos mostraram em definitivo a importância de elegermos muito bem também os cargos além da presidência. São os deputados e senadores, afinal, que tomam as decisões mais importantes na nossa estrutura de poder.

Com este contexto, é essencial trazermos o debate da representatividade também para o âmbito eleitoral. Precisamos de pessoas que vivam nossas lutas para podermos colocá-las em prática. É claro que isso não é uma garantia de nada, mas a tentativa é importante. Um exemplo bem claro:

Na decisão do impeachment, você se sentiu representado pelo voto dos deputados e senador que você escolheu nas últimas eleições?

Muitas pessoas sequer lembravam quais foram seus candidatos. E esse tipo de coisa precisa acabar, urgentemente. Nossa estrutura de governo vai além do presidente e do governador. Nós temos que ser representados por t-o-d-o-s aqueles que elegemos.

Eu, como mulher, busco candidatos que trazem possíveis soluções para as questões de gênero. E, claro, são as próprias mulheres que estão mais ligadas à essas pautas. Obviamente os homens — na política e fora dela — também devem lutar contra esses problemas, mas é colocando mulheres no poder que podemos mudar a estrutura patriarcal da sociedade.

Se pensarmos na história do Brasil, o voto feminino ainda é muito recente — ele passou a ser válido apenas em 1932. O que, sem dúvidas, reflete até os dias de hoje. A política ainda é muito machista, afinal, ela é um reflexo da nossa sociedade.

Por conta disso, em 2018, foi determinado que uma porcentagem dos recursos recebidos pelos partidos para as campanhas eleitorais deve ser destinado às candidaturas femininas. Este tipo de atitude mostra que há, de fato, um entendimento sobre a importância da representatividade na política, mas isso só não basta. Essa “cota” não é garantia que as candidatas serão mais votadas.

O Brasil tem 6 casos de estupro por hora, de acordo com dados coletados para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de homicídios praticados contra mulheres teve um aumento de 6,1% entre 2016 e 2017. Outro dado alarmante: de acordo com o IBG, a diferença salarial entre homens e mulheres passa dos 30%.

Isso só mostra que o patriarcado ainda domina nossa sociedade, e isso traz consequências brutais para as mulheres. Os homens não podem achar que eles têm direitos sob nossos corpos, que pertencemos à eles, que somos inferiores e, por isso, não merecemos salários iguais. Mas essa violência, física e psicológica, não vai acabar da noite para o dia. É cultural, precisamos mudar a raiz do problema. Isso vai desde a educação das crianças até o lugar que mulheres precisam começar a ocupar na estrutura da sociedade.

Para isso, nós precisamos construir uma relação de confiança na figura feminina. O eleitorado — formado tanto por homens quanto por mulheres — precisa desconstruir a imagem do sexo frágil e inábil para tomar decisões importantes. É um ciclo que, se continuar assim, será eterno. Enquanto não ocuparmos posições de poder, a estrutura da sociedade não muda. Para as mudanças acontecerem, precisamos acabar com certos padrões. E tudo isso só é posto em prática quando confiamos em mulheres ocupando cargos importantes.

O machismo existe. Ignorá-lo não vai fazê-lo desaparecer. Nós não podemos escolher os candidatos baseadas apenas na afinidade política, precisamos entender o peso que esta escolha têm, o que ela representa. Colocar mais homens héteros e brancos, mesmo que eles se dediquem às questões que nos dizem respeito, dificilmente mudará a estrutura da nossa sociedade. Precisamos quebrar paradigmas, precisamos de mulheres, de negros, de gays e transexuais na nossa política. Diversidade é a palavra, tudo aquilo que desafia o padrão pode gerar uma mudança.

Por isso, sugiro que você reserve um tempo no próximo mês para escolher em quais candidatos votará em outubro. Não faça nada no automático, pense que sua escolha tem um peso enorme para a eternização de estruturas que já não nos servem mais. As eleições de 2018 serão a personificação de debates que estamos tendo nos últimos anos. É a nossa chance, mesmo que pareça tão pequena, de mostrarmos que o poder emana do povo. E as mudanças também!

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Ana Clara Barbosa
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