Porque eu decidi sair da casa dos meus pais

bih denizot
Revista Subjetiva
4 min readSep 11, 2017

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Achei importante escrever um texto sobre isso. Esse mês completo o primeiro trimestre fora da casa dos meus pais e percebi que precisava falar sobre o que motivou a minha saída — e porque eu acho que todos que possuem essa oportunidade deveriam abraçar esse momento.

Não se engane, eu reconheço meus privilégios. Classe média, pude focar total na minha formação acadêmica e a decisão de sair da casa dos meus pais foi unicamente minha — não houve nenhuma grande tragédia que me deixou desesperada para fazer isso sem análise e planejamento. No entanto, também reconheço minhas conquistas: reconhecer meus privilégios não é algo que irá diminuir o meu sentimento de realização.

Sair da casa dos meus pais foi um chamado. Eu ainda me lembro do dia que tomei a decisão. Estava no centro, indo pegar o ônibus para ir para a faculdade. A decisão estava tomada nesse momento: há cerca de dez minutos eu havia percebido que era necessário ficar sozinha para me conhecer, viver todos os meus processos e vencer meus medos. Ironicamente, um dos maiores medos na história da minha vida é lagartas (e borboletas, porque porra, borboletas são lagartas com asas. DEUS QUE ME LIVRE).

Quando meu ônibus finalmente passou e eu entrei, consegui um lugar nos bancos do fundo. Olhei pela janela e de relance vi algo que me fez suar frio e gritar por dentro: tinha uma lagarta na manga do meu moletom. Isso mesmo, no meu braço.

Eu não gritei, mas deu pra sentir o gosto do coração na boca. Dentro da minha cabeça veio uma voz “você não pode se desesperar agora, precisa lidar com essa situação”. Respirei fundo, rezei o pai nosso mais rápido da história do cristianismo e comecei a dar uns petelecos no canto da blusa. Ela caiu no chão do ônibus e eu, bem classuda e fingindo costume, mudei de lugar (claro que eu ficava de cinco em cinco segundos observando os movimentos do demônio pra ter certeza de que ele não subiria nas minhas pernas. E, claro também, que ao chegar na faculdade pedi minha amiga pra analisar TODA A MINHA ROUPA pra ter certeza que não haviam outros bichinhos por lá — mas isso a gente pode relevar).

Eu não sei no que você acredita, se você acredita em Deus, ou em uma energia cujo nome você ainda não sabe. Eu só sei que eu acredito tanto em Deus quanto nessa energia, e que naquele momento eu tive a certeza de que aquilo era uma forma do universo me mostrar no que eu estava entrando: sair da zona de conforto significa ter que lidar com os seus maiores medos. Mas eu tava preparada. Eu não gritei, eu não chorei, e por mais que eu sentisse o desespero umedecendo minhas axilas, eu consegui lidar com a situação da melhor maneira possível.

Quando eu pensei em sair da casa dos meus pais, a primeira coisa que me veio na cabeça foi a necessidade de me dedicar à mim. Eu reconheço meus processos e percebi que para evoluir em várias coisas que eu precisava, seria necessário ficar sozinha. E ficar sozinha significa ser totalmente responsável por mim mesma, me colocar no mundo e ficar extremamente vulnerável, sem a proteção dos meus pais 24h por dia.

Acho que evoluir enquanto ser humano e ser divino é isso, né? Entender, respeitar, aceitar e vivenciar todos os seus processos.

O autoconhecimento foi a minha principal motivação para buscar um cantinho que fosse totalmente meu, e não poderia estar sendo melhor. A cada dia que passa, mais coisas sobre mim são postas na mesa: minhas inseguranças, minhas habilidades, características e responsabilidades que eu nunca pensei que existiriam dentro de mim.

No meu primeiro dia com as chaves, instalei um chuveiro sozinha. Aprendi a fazer manutenção na pia da cozinha, e até a descascar laranja (mãe, cê acredita?). Meu armário nunca esteve tão organizado (mãe, você leu isso certo), e a pia nunca tem louça suja (sim, mãe, sou eu mesma!). Dia desses me perdi em um canal sobre finanças e acabei organizando minhas contas da melhor forma possível. Aprendi a fazer listas de tarefas e realmente segui-las. Aprendi a traçar objetivos — manter um blog ativo é uma parte deles. Estou aprendendo, também, a ser honesta e comprometida comigo mesma, e esse objetivo está junto com o blog.

Posso propor um exercício? Pegue uma caneta, um papel e escreva tudo que te deixa triste no dia a dia. Você vai perceber que muitas das suas chateações são causadas por coisas que estão dentro de você. Lembre dessa frase sempre: o que está acontecendo em mim que faz com que isso me incomode?*

Esse é o primeiro post, e espero que nos encontremos novamente!

* essa frase é válida para muitas coisas na vida, menos para situações de abuso.

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bih denizot
Revista Subjetiva

Caneta, papel e uma vontade imensa de abraçar o mundo. Gosto de compartilhar tudo que vivo: comportamento, evolução e consciência.