Pra não dizer que não falei de Jessica Jones.

Uma breve observação sobre racismo, animalização e hipersexualização.

Andressa Vasconcelos
Revista Subjetiva
3 min readApr 2, 2018

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Imagem: Divulgação/Netflix.

Se você odeia spoiler, pare de ler agora!

Uma breve observação da 1º temporada, do Ep 1 ao 6.

Quando Jessica Jones foi lançada, o burburinho em torno da série foi imenso. Era ano de 2015, ano em que o feminismo — branco — estava em alta. Assuntos como gaslighting, que é retratado na série, estava em todos os lugares.

Na época assisti inúmeros youtubers — brancos — falarem sobre Jessica Jones e principalmente em como era revolucionário, se tratando de uma série que retrata uma mulher — branca — que revoluciona o cenário. E obviamente, como era de se esperar, deixaram uma chuva de racismo passar.

Para entendermos o racismo presente na série, primeiro temos que entender as relações de poder.

É de suma importância entendermos primeiramente que, em uma sociedade racista, mulheres brancas têm total poder hierárquico sobre o homem negro.

Quando falamos de racismo, estamos falando de uma opressão que engloba todas as outras duas: classe e gênero. Ou seja, o racismo, em prática, é deveras mais complexo do que as outras duas opressões.

Você agora deve estar falando “espera aí, mas opressões não se medem”. Em partes não se medem, é inclusive “injusto” medir, porém, com base na complexidade do sistema racista, devemos ter em mente que o racismo engloba a opressão de gênero e classe para com o povo negro. Entendido até aí? Então podemos continuar.

As relações de poder presentes em Jessica Jones.

Jessica Jones é uma mulher branca, revolucionária para o âmbito feminista justamente por quebrar os padrões estabelecidos para mulheres brancas, principalmente o da fragilidade. Jessica não é frágil, é uma heroína que tem uma força sobre-humana, com resistência telepática, o que a faz resistir ao gaslighting; pode voar, entre outras habilidades que Jessica usa para combater vilões . E seria incrível se não esbarrasse com o racismo, como o esperado.

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que a relação de respeito aos homens não-brancos presentes na série é abaixo de zero, o que explana o poder de Jessica, enquanto branca, a todos eles.

Precisamos nos atentar a relação de Jessica com Luke Cage, o homem negro que aparece a série inteira para alimentar a heroína sexualmente.

Na série, quase todas as vezes em que Luke esteve presente foi somente para alimentar Jessica Jones sexualmente. Sem romance, sem aquele clichê que aparece em todas as séries de heróis. Sexo, apenas. Para piorar a relação de poder de Jessica sobre Luke, além da animalização e hipersexualização de um homem negro, qual ela usa única e exclusivamente para sentir prazer, há também perseguição.

É de uma tristeza enorme termos que retomar as discussões sobre as relações de poder e, principalmente sobre como namorar ou transar com pessoas negras não faz de ninguém não-racista, ainda mais em uma época em que os debates sobre racismo, animalização e hipersexualização estão em alta e eu não acredito que, em 2015, quando Jessica Jones foi ao ar pela primeira vez, esses debates não estavam em pauta ainda.

Novamente volto a dizer, é compreensível que Jessica Jones tenha parecido extremamente revolucionário para feministas que o assistiram, afinal, ela é a mulher que foge dos padrões de fragilidade e, principalmente, evita o gaslighting. Porém, para nós, mulheres negras, assistir Jessica Jones é desconfortável e desrespeitoso.

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