Precisamos aprender a conversar
Nos espaços familiares, de amizades ou de relacionamentos (reais ou virtuais), falamos pouco, ou quase nada, sobre as questões que realmente importam na experiência humana.
Estamos a todo momento fingindo que está tudo bem.
A Internet é um terreno fértil pra isso.
Pra fingir que está tudo bem, usamos a nossa noção de “sucesso pessoal” e a partir dela tentamos legitimar nossa existência no mundo.
Estamos o tempo todo focados na nossa própria história e em buscar algum preenchimento com coisas grosseiras. Se externamente aparentamos estar bem, então defendemos essa “verdade” com unhas e dentes. Nunca queremos nos mostrar vulneráveis ou cheios de dúvidas.
Delimitamos barreiras ao redor de nós mesmos, e definimos até onde o outro pode participar ou não.
Dificilmente sentamos enquanto coletividade para conversar.
Dificilmente pensamos enquanto coletividade.
Somos a geração da auto-promoção e da eterna busca por pertencimento e aprovação. Somos a geração que vive uma relação com o tempo que nos deixa ansiosos a todo momento.
São milhões de fotos de corpos “perfeitos” no Instagram, são milhões de pessoas mais interessantes que você, são milhões de visualizações em vídeos que possuem auto-play, são infinitas notícias que nos deixam cada vez mais reativos, fazendo críticas rasas ou apenas reproduzindo discursos sem nem pensar.
Mal pensamos sobre responsabilidade afetiva. Nos relacionamos com números e status. Mal pensamos sobre o impacto que a nossa ação no mundo tem sobre as outras pessoas, sobre o coletivo.
Não compreendemos a cultura e a política como construções que são criadas por todos nós, a todo momento. Não entendemos a vida como uma entidade relacional. Insistimos em não abraçar a nossa coletividade.
E se nunca conversamos sobre as questões que nos inquietam nas nossas escalas mais íntimas, tratamos questões que são COLETIVAS como problemas pessoais.
Se, coletivamente, nunca conversamos sobre depressão ou suicídio, direcionamos o problema apenas para quem sofre com ele, e tiramos a responsabilidade que temos de construir relações onde os laços criados extrapolem a dor da vida.
O sofrimento não decorre da sua incapacidade de se manter positivo o tempo todo. O sofrimento é natural da existência humana. Precisamos falar sobre isso. Precisamos sentar e falar. Precisamos aprender a conversar.