“Precisamos assumir que escrever — expressar uma ideia, tocar alguém — é difícil”

Revista Subjetiva
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4 min readFeb 23, 2018

O Vozes da Subjetiva é um projeto que visa valorizar os colunistas da Revista Subjetiva, fazendo com que nossos leitores os conheçam mais a fundo. O roteiro respondido pelo (a) autor (a) busca explorar suas experiências pessoais, profissionais e suas opiniões sobre determinados assuntos.

Retomamos neste ano de 2018 após o sucesso da entrevista com a Verônica Machado e com o Guilherme Aniceto. Ana Paula Risson é professora universitária, graduada em Psicologia, mestra em Ciências da Saúde, atua em conjunto à coletivos, imigrantes, dentre outros; escreve sobre cinema, Psicologia, direitos das mulheres e é colunista da Revista Subjetiva.

1) Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória até aqui, liste para nós quais foram os momentos de maior importância para sua carreira enquanto escritora e acadêmica.

Me chamo Ana Paula Risson, sou Psicóloga (graduada em 2012), Mestra em Ciência da Saúde (finalizado em 2016), professora universitária e iniciando uma formação clínica.

Avalio que o interesse pela mundo acadêmico deu-se gradativamente, e que seu início foi durante a graduação, quando comecei a me envolver com grupos de pesquisa e estudos — foi um caminho sem volta (risos).

Minha experiência profissional sempre foi voltada a coletivos que encontram-se marginalizados, como grupo de catadores de material reciclável, usuários de CAPS, imigrantes, pequenas associações ou cooperativas de artesãos e agricultores. Neste campo de atuação, me senti convidada a me responsabilizar por estes grupos, enquanto profissional e enquanto ser humana. Em sala de aula, gosto e prezo por mostrar aos alunos sobre estes lugares de atuação.

No mestrado em Ciências da Saúde pude exercitar a escrita acadêmica. Ainda estou aprendendo a me encaixar na escrita acadêmica, que em vários momentos me frustra.

Li, certa vez, que devemos escolher nossas armas e trincheiras de lutas. As minhas armas são o compromisso, ética e ferramentas profissionais e minha trincheira é a sala de aula, é nela que me coloco para mostrar outras possibilidades, mudar, instrumentalizar outras pessoas.

2) Você é professora universitária, logo, acredito que haja uma demanda para artigos científicos a serem publicados. Você vê numa escrita mais livre uma forma de se “libertar” das exigências acadêmicas ou não?

Avalio que exista mais artigos científicos escritos do que as possibilidades para submissão. Na área de humanas e de saúde, muitos acadêmicos e docentes estão encontrando dificuldade em terem seus estudos/artigos aceitos para publicação. Além disso, as respostas/pareceres são demorados. Esta demora angustia pois há um necessidade explícita de estarmos com nossos currículos atualizados a todo momento, especialmente para quem almeja concursos, melhores oportunidades ou doutorado/pós-doutorado.

Quando decidi criar uma conta no Medium, não sabia muito bem o que queria, ou melhor, não sabia ao certo que tipo de conteúdo publicaria. Criei e comecei a escrever conteúdos aleatórios. Utilizo o Medium para escrever o que no campo científico não tem espaço ou precisa de um rigor metodológico que aqui não pretendo seguir.

3) Um dos temas mais pertinentes dos seus textos é a luta pelos direitos das mulheres, quando essa pauta entrou em sua vida?

Esta pauta entrou na minha vida depois de formada, me aproximando de coletivos femininos, participando de manifestações, conhecendo pessoas. Não pensei sempre da mesma forma que penso agora. Aprendo diariamente com a luta pelo direito das mulheres.

4) Você costuma dialogar muito com filmes e séries em seus textos, para você, qual a importância de fazer essa intercessão entre a escrita e o audiovisual?

Imprescindível. Qualquer dispositivo audiovisual me chama atenção. Procuro assistir conteúdos que me traga alguma provocação. Estes recursos também levo para sala de aula.

5) Conte-nos um pouco sobre suas grandes inspirações no mundo da escrita.

Vou tentar elencar alguns, mas certamente me esquecerei do óbvio (risos). Na literatura, Fiódor Dostoiévski, gosto da sua precisão e detalhamento dos cenários e personagens. No cotidiano, Marcia Tiburi, Cortella, Eliane Brum, Ricardo Antunes. Na poesia, Pablo Neruda, Paulo Leminski, Clarice Lispector. No mundo acadêmico, são muitos, tanto na área da Psicologia, quando na área da saúde, mas, grifo: Emerson Merhy, Laura Feuerwerker, Michel Foucault, Bauman, Gilles Deleuze.

6) Se você pudesse deixar uma dica para quem lhe lê agora, que quer pegar firme na escrita e não sabe como, qual seria?

Escreva, leia, escreva. Precisamos assumir que escrever — expressar uma ideia, tocar alguém — é difícil. São poucos que conseguem fazer isso com facilidade. Entendo que quanto mais você ler e escrever (exercício) com mais facilidade, conseguirá escrever o que quer e expressar o que deseja. Ainda, sugiro começar escrevendo por assuntos que você mais gosta.

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