“Pretos no topo” e a falsa escada que não nos leva ao podium

Hadassa Nunes
Revista Subjetiva

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Esse título está escrito há exatos 30 dias, essas palavras descritas aqui, entaladas há alguns meses. A verdade é que, um texto antes de nascer já mora dentro de nós, mas ele demora para amadurecer e cair. As letras são pessoais, palavras sentidas, frases vivenciadas. Normal que isso demore para ganhar um formato de texto.

“Pretos no topo”

A frase que surgiu ano passado fruto de uma outra frase, “Poetas no topo”, projeto do canal Pineapple. As gravações de clipes com diversos artistas da nova cena do rap ganhou a internet com diversas edições de cyphers no Youtube. Mas não é sobre isso que eu quero falar, então voltemos a frase inicial. “Pretos no topo” ganhou uma nova roupagem e significado para o povo preto, ela permite que nos enxerguemos no topo do pódio. Nem coadjuvante, nem segundo lugar. O negro, que por tantas vezes ocupa o último lugar na escala social, dentre tantas outras estatísticas, não quer mais pertencer a essa local. Ele quer crescer, subir, alcançar o mais alto patamar. Negros de sucesso, reconhecidos, respeitados, desejados e de referência.

A ideia é simples, quem sobe um degrau leva mais um junto. Um verdadeiro ciclo de crescimento coletivo, afinal, ninguém cresce sozinho, não é mesmo?

Isso seria perfeito se fosse verdade, é exatamente aí que eu quero chegar.

Claro, falar sobre estar no topo não diz respeito apenas a negros e negras. Então, qualquer um que ler esse texto vai conseguir se identificar. Mas por que fazer um recorte racial sobre esse tema? Bem, eu disse que o negro ocupa o último lugar na escala social, infelizmente, para muitos alcançar boas condições de vida, estudo, dentre outras necessidades básicas como moradia e saúde, é um grande caminho a se percorrer. Um processo árduo a ser alcançado. Quando penso que posso crescer e levar mais uma pessoa comigo, bem, eu estou contribuindo para algo maior, um plano que não é só meu, uma felicidade que não é só minha, ela é compartilhada. Não se trata mais de mim, mas de nós.

O coletivo de uma pessoa só

Para dez pessoas que acreditam nesse processo coletivo, existe uma que usa esse discurso de forma errada, ele visualiza um método de manipulação. É exatamente aí que mora a minha insatisfação. Usar o próximo como escada para ter acesso ao pódio de espaço único, onde não se divide méritos, muito menos privilégios. Uma escada individualista, baseada em interesses onde apenas uma pessoa recebe toda credibilidade da conquista. Adivinhe só, essa pessoa não é/será você. Nasce o processo de crescimento coletivo onde o plantio é plural mas a colheita singular.

Trabalhos sociais, militâncias e diversos outros projetos voltados a espaços comunitários, muitas das vezes, se implodem durante o processo de crescimento. Ego, liderança, choques nas relações e diversas pessoas com personalidades extremamente fortes, quando unidas em um único espaço perdem o verdadeiro propósito. Muito trabalho e cobrança, pouco dinheiro e reconhecimento. Quem disse que seria fácil?

Entre tantas disputas invisíveis — também é vivenciada em locais de trabalho tradicionais — , nascem conflitos para mostrar quem é mais esperto, inteligente, criativo e até mesmo, mais ambicioso que você. Isso se estende a ambientes de trabalho formais e informais. Resultado, um estado de relação caótica.

Em meio a tudo isso, o que eu sei é que eu não conseguiria crescer sozinha, bem como não nasci para ser escada de ninguém.

Que nós não sejamos escadas, que não vivamos para o sonho e sucesso do outro. Escolha em quem se apoiar, pelo que sonhar. Também escolha ser um apoiador e incentivador, puxe mais alguém com você. Sejamos criativos, ousados, resilientes e determinados. Que possamos construir uma escada larga, onde caibam muitos e que subamos juntos. Mas definitivamente, não se trate como uma escada. Não sirva de apoio para alguém que não quer dividir o podium com você.

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