“Projeto Gemini” interessa pela tecnologia empregada, mas não se sustenta na fraqueza do seu roteiro

Andressa Faria de Almeida
Revista Subjetiva
Published in
3 min readOct 12, 2019

No cinema a tecnologia inovadora se basta sozinha no desenvolvimento de um bom filme, ou apenas serve para potencializar os resultados de um ótimo roteiro? Para mim é fundamental que uma história bem construída preceda técnicas diferenciadas por mais incríveis que elas sejam, porque uma bela forma nunca vai nos impactar a longo prazo tanto quanto um bom conteúdo.

Esse é o maior problema de “Progeto Gemini”, antigo projeto do diretor Ang Lee que enfim chega aos cinemas mundiais duplamente protagonizado por Will Smith, rodado em 3D Plus (que melhora o brilho e contraste da obra, tornando a definição e a profundidade muito maior) e em 120 quadros por segundo (que faz com que a imagem se acelere, deixando-a ainda mais natural, mas nos cinemas brasileiros está sendo exibido no máximo a 60 quadros por segundo).

A premissa original do longa não é exatamente complexa, é importante dizer, mas se bem trabalhada seria interessante. Ela se baseia em Henry Brogan, um assassino de elite a serviço do governo americano, que para os seus empregadores não é mais confiável. É nesse momento que o diretor de um projeto secreto (interpretado por Clive Owen com claro cansaço) entra em ação, mandando a arma perfeita para matar o ex-fuzileiro: um sujeito que possui todas as suas habilidades, mas é menos afetado por suas fraquezas, adquiridas com a experiência de vida e de batalha.

Trata-se de um clone seu, que tem apenas metade da sua idade e que foi criado em um ambiente protegido, sendo preparado desde cedo para a sua sina. O drama começa quando caça e caçador percebem as suas similaridades e as suas diferenças, precisando mudar completamente de direcionamento ou tentar cumprir suas respectivas missões, ainda que isso se mostre cada vez mais difícil!

Se não pelo enredo a produção poderia empolgar pela competência de um cineasta do calibre de Ang Lee e pela performance dupla de Will Smith, e com certeza é a presença desses dois artistas consagrados que vai garantir uma venda maior de ingressos. A questão é que a preocupação desde o ínicio em “Projeto Gemini” pareceu ser somente com os atributos tecnológicos trazidos pela trama, como os já citados 3D Plus e os 120 ou 60 quadros por segundo, além da construção totalmente digital do clone de Henry Brogan (que se mostra bastante falha em cenas onde a fotografia é um pouco menos escura).

Claramente não houve no roteiro um capricho mínimo, e assim o vemos repetir situações óbvias, falas clichês e momentos mais do que imagináveis. Não há surpresa alguma e nos percebemos rapidamente cansados de toda a história que estão nos contando, contruída a seis mãos por David Benioff, Billy Ray e Darren Lemke.

É uma pena, realmente, porque “Projeto Gemini” foi uma obra pensada e idealizada por mais de duas décadas, então a sua estreia nos circuitos se sustentar apenas em avanços tecnológicos de imagem acaba se tornando a sua maior fraqueza, já que evidencia uma certeza que todos os cinéfilos têm: o cinema depende de ótimas histórias para se sustentar no tempo, e sem isso até o trabalho mais caro e esmerado se perde!

Nota: 5,0

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