Quando a música desperta sensações

Rafael Moreno
Revista Subjetiva
Published in
4 min readApr 9, 2020
Direitos de Imagem: Nintendo

Sempre quis falar de música por aqui, mas nunca soube, ao certo, “qual tom usar”, se é que me entende. Será que faço uma crítica a um álbum? Análise de uma letra ou crônica e pensamento que determinada música de determinado artista despertou em mim?

Não sei ao certo.

As músicas sempre mexeram com as minhas sensações, me transportando para um lugar em que me fazia sentir que, aquilo que escutava, fazia parte daquele momento em que vivia.

Bem, de tantas lembranças, canções e letras que percorrem a minha cabeça me colocando dúvidas e mais dúvidas do que escrever para vocês, e até mesmo pra mim, me pego pensando em trilhas sonoras de jogos do meu antigo super Nintendo.

Antes que pensem, não, não sou um gamer. Mas, como toda a experimentação, sempre me propus cair de corpo e alma naquilo que fazia. E esses jogos não foram diferentes.

Aliás, as músicas que tratei aqui fazem parte de um momento em que tudo fazia sentido e que me senti ali dentro do que seus compositores propuseram. A história, os personagens e a exata fase onde a música tocava. Para um garoto de doze anos que mal entendia sobre o que fazia, aquilo fez total sentido e hoje entendo o porquê.

Elas eram perfeitas.

Donkey Kong — Aquatic Ambience

Sério, sinta essa vibe

A essa altura do campeonato, já havia passado por fases como florestas e cavernas, no meio do sol e debaixo de chuva. Mas foi na quarta fase que me peguei maravilhado pelo que ouvia.

David Wise compôs Aquatic Ambience, apresentando um clima calmo, sereno e, ao mesmo tempo, profundo e misterioso. Comandar as duplas Donkey Kong e Diddy Kong submersos em uma fase aquática, que, aliás, sempre considerei uma das mais chatas em qualquer jogo de plataforma, me soou diferente daquela vez.

A serenidade que a música trazia me fez entender o ritmo diferente que a fase exigia: movimentos mais lentos e, em contrapartida, mais graciosos, como um respiro em meio a toda aquela correria no mundo de cima.

Claro, sem deixar a seriedade e o compromisso de passar por uma fase que, por mais relaxante que pareça, se mantinha desafiadora, como todas as que passaram e as que estariam por vir.

Dragon Ball Z Super Butoden 2

Essa faixa do Trunks não sai da minha cabeça

Tenho um carinho especial por esse jogo porque ele carrega uma das histórias mais divertidas da minha infância.

Peguei a fita emprestada de um amigo. Ela não tinha uma capa, era apenas um pedaço de folha de caderno escrito Dragon Ball Z. E o jogo, para nós, não era nada funcional, uma vez que era inteiramente em japonês.

Certa vez aconteceu um bug na fita e, ao escolher os lutadores, apareceram dois novos, que mais tarde descobrimos serem personagens secretos que são ativados com uma sequência de apertar botões na tela inicial: Goku e Broly.

Meu irmão e eu chamamos todos da rua para ver essa coisa inacreditável que aconteceu. Não desligamos o videogame o dia inteiro, pois sabíamos que, ao ligar novamente, eles não estariam lá. O ato de desligar, no final do dia, com todos os amigos voltando para as suas casas, soou como uma despedida aqueles personagens secretos.

A música tema de cada personagem trazia sua identidade no campo de batalha. Movimentos duros, cheios de pixels, cenários divididos em dois planos e a possibilidade de cada personagem voar.

Quando a música tocava, cara, era algo inexplicável. Até hoje me pergunto como pôde terem acertado tanto. Ao menos comigo. Ouvir cada tema nos fones, hoje, é um deleite que me faz imaginar se, no novo Dragon Ball Z, os gráficos maravilhosos não abafaram as personalidades de cada guerreiro, trazendo-o contigo, cada qual uma música.

Destaque para os temas de Gohan, Trunks, Vegeta, Piccolo e Cell.

São obras primas!

Top Gear

E aqui chegamos ao auge

Seria impossível falar de trilha sonora dos jogos sem citar o maior jogo de corrida de todos os tempos: Top Gear.

A única coisa que me vem a cabeça perguntar para o Barry Leitch é: como conseguiu construir isso? De verdade, não sou o maior fã de carros. Só conheço lendo seus nomes na traseiras e, dias desses, entendi o que seria um sedã. Mas quando a introdução começa, seguida da música da primeira corrida, senti como se ali fosse o meu lugar o tempo inteiro.

Aquilo era corrida e sua música me fazia querer correr o mais longe possível! Vencer campeonatos colocando o nome do meu personagem de Senna, sem nunca te-lo visto correr, apenas pela ótica do meu pai, me fez compreender, pelo menos um pouco, de qual é a sensação que o piloto tinha com a largada.

No final das contas

Sempre pensei em escrever sobre a música, muito mais focado na sensação que ela me proporcionava, do que em seus méritos vocais ou de acordes.

Porque acho que as sensações, ainda mais essas despertadas pelas músicas, são coisas para se sentir, sem a preocupação de compreende-las em sua totalidade.

Quando jogava esses três jogos, jamais me passou na cabeça entender como eles foram uma experiência diferente para mim. Talvez todo o seu formato, a maneira como foi pensada e cada detalhe, desde as fases até a trilha sonora, fosse justamente para que pudesse sentir o que o jogo transmitia.

Nesses três casos, senti pela música. E sinto que ela cumpriu seu papel de ser.

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