Quanto estamos distantes da “sociedade Black Mirror”?

Ana Paula Risson
Revista Subjetiva
Published in
4 min readNov 12, 2017

Black Mirror é um série britânica de ficção científica, de Charlie Brooker, que teve seu primeiro episódio lançado em 2011. Atualmente está disponível na Netflix e é avaliada pela IMDb com nota 8,8. Seus 13 episódios são independentes e todos abordam a relação do humano com a tecnologia.

Minha experiência com Black Mirror

No final de 2016, um amigo me disse: “se você assistir Black Mirror, vai ficar muitos anos querendo discutir sobre ela”. Ele, mesmo me conhecendo pouco naquela época, foi assertivo. Devorei a série em uma semana de férias e assisti alguns episódios mais de uma vez. Ao final de cada episódio era paralisada por uma mistura de sentimentos e sensações. Lembro-me que em pleno verão, eu e minhas primas, indo fazer trilha, e discutindo sobre como uma série de ficção se aproximava tanto do cenário atual .

E se este mundo for o inferno de outro planeta? (Aldous Huxley)

Nem tão distante assim

O que no início parece ser “apenas” uma série de ficção científica, aos poucos mostra elementos intrigantemente semelhante à sociedade contemporânea ou, então, nos provoca a reflexão se a sociedade da série é factível.

Nos, ainda, fictícios mundos da série:

  • As pessoas necessitam de “notas” para manter um “status social”, aquelas que não recebem são marginalizadas. É impossível não correlacionar isso com os likes das redes sociais. Mais recentemente correlacionei isso com as notas que atribuímos e recebemos ao utilizarmos o Uber. Você utilizaria um Uber com avaliação baixa?
  • Os smartphones aparecem em alguns episódios como uma extensão do corpo humano. É como se na (nova/futura) anatomia humana os membros superiores fossem divididos em braço, antebraço, mão e smartphone.
  • O ser humano é facilmente “plugado” à máquinas. A vida e a memória humana são integrados de várias maneiras.
  • Psicotrópicos são administrados pelo computador para um microchip que está implantado no cérebro. Não há mais a necessidade de ingerir psicotrópicos, eles foram substituídos por microchips que emitem ondas magnéticas para o cérebro capazes de modificar comportamentos e percepções.
  • A morte recebe um novo significado. O corpo físico pode ser ressuscitado e a vivência emocional eternizada e mantida em outro plano.
  • Mostra e denuncia como as pessoas facilmente podem ter suas vidas e intimidades expostas aos riscos da internet.
  • As memórias pessoais são arquivadas em um chip no cérebro e podem ser acessadas a qualquer momento, por meio de um pequeno dispositivo manuseável.

Ficção ou não, a série nos alerta de como podem ser, numa sociedade futurista, os vínculos entre as pessoas, a interferência da tecnologia em nossas vidas e a organização da sociedade.

Os doze episódios da série permitem pensarmos sobre bioética, relação do ser humano com a tecnologia, as interferências da tecnologia na vida das pessoas (pelo/para o bem e mau), possibilidades de organização do estado, poder, marcos regulatórios, vida e morte, interrelações, dentre outros.

As mudanças são gradativas, talvez nem as percebemos. As aceitamos sem refletirmos sobre as implicações de a aceitarmos. E claro, muitas vezes, nem temos a opção de não aceitarmos a tecnologia em nossa vida, ela simplesmente estará. Afinal, por exemplo, quem abriria mão de tudo que a internet permite?.

Em tempo, não se trata de criticar os avanços tecnológicos, refere-se a como nos relacionamos com a tecnologia.

That’s what we’re aiming for with Black Mirror: each episode has a different cast, a different setting, even a different reality. But they’re all about the way we live now – and the way we might be living in 10 minutes' time if we’re clumsy. And if there’s one thing we know about mankind, it’s this: we’re usually clumsy. And it’s no use begging Siri for help. He doesn’t understand tearful pleading. Trust me, I’ve tried.” (Charlie Brooker)

Os episódios

Todos os episódios me impactaram, seja pela relação direta com a atualidade, seja pela relação distante com a atualidade.

Mas, meus 10 episódios preferidos foram (seguem nome original e na versão brasileira):
1. Nosedive (Queda livre)
2. Shut Up and Dance (Manda quem pode)
3. The Entire History of You (Toda sua história)
4. The National Anthem (Hino nacional)
5. Be Right Back (Volto já)
6. San Junipero
7. Men Against Fire (Engenharia reversa)
8. White Bear (Urso Branco)
9. White Christmas (Natal)
10. Fifteen Million Merits (Quinze milhões de méritos)

Quarta temporada

Já está no forno!

Para continuar a reflexão:

Esta série me fez lembrar:

  • Livro: “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley.
  • Filme: “O show de Truman”

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