Quatro razões para ler Americanah

#LeiaComASubjetiva

Carol Correia
Revista Subjetiva
5 min readMay 4, 2020

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Retirado de Roendo Livros

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— para o desafio literário de tema literatura africana, escolhi a obra Americanah, em qual retrata uma jovem nigeriana, escrito também por uma nigeriana, Chimamanda Ngozie Adichie. Esse livro estava em minha estante desde que foi lançado pela Companhia de Letras no Brasil.

Sinopse

Americanah é um romance em qual Ifemelu e Obinze se conhecem enquanto adolescentes na Nigéria, em tempos que a Nigéria vive sob um governo militar, e vivem seu primeiro amor. No entanto, devido a dificuldades providas pelo governo, Ifemelu busca por mudar-se ao Estados Unidos a fim de completar a faculdade. Nos Estados Unidos ela percebe que é vista como negra, pela primeira vez na vida. As dificuldades de ser uma mulher negra e imigrante viram tema de seu blog, em qual consegue se manter, enquanto vive sua vida nos Estados Unidos. Quando a mesma decide voltar a Nigéria, ela precisa reencontrar a Nigéria, pois tudo parece diferente de suas memórias de adolescente. O tempo pode ter passado e tanto Ifemelu e Obinze terem vividos outros romances, mas ainda há um laço entre eles que os leva a procurarem um ao outro.

Estou tentando não trazer nenhum spoiler dessa obra, pois ela se tornou uma de minhas favoritas e detestaria estragar essa leitura para outra pessoa. Mas o presente texto trará spoilers. Decidi elencar quatro razões para você ler Americanah.

Vamos lá.

1 Ifemelu

Ifemelu é a protagonista da história. Ela é desbocada, provocadora, divertida, muito carismática. Ela erra, ela tem suas falhas e seus problemas pessoais, mas ainda é uma personagem interessante e autêntica.

Nos Estados Unidos, ela passa a se encontrar muito sozinha, por tanto estar sem a presença física de sua família, amigos e seu país de origem, como estar encontrando dificuldades inesperadas de conseguir documentação para trabalhar, conseguir trabalhos que não sejam humilhantes e passar a lidar com uma vida em que ser uma mulher negra e imigrante implica em dificuldades a mais. Esse foi um dos períodos difíceis da personagem que apenas retrata o cotidiano de inúmeras pessoas.

Ela vive outros romances, além daquele com Obinze, nos Estados Unidos, em qual é interessante observar ela na dinâmica do namoro. Além do que ela observa as diferenças entre namorar com um branco e namorar com um negro americano.

Seu período enquanto blogueira provoca tanto diversão quanto reflexões, o que apenas nos mostra quão inteligente e divertida ela é.

É interessante ver a personagem passar de adolescente para adulta, suas relações com amigos antigos e familiares se ajustando conforme sua idade. A naturalidade da vida de Ifemelu nos é apresentada em Americanah.

2 Um romance em que o amor não é romantizado

É ridiculamente comum em romances que noções machistas sejam perpetuadas. Felizmente, esse não é o caso em Americanah. Ifemelu e Obinze se apaixonaram, viveram um amor, perderam contato, reencontraram-se no final.

Noções de que a mulher precisa mudar para conseguir conquistar o homem, de que a mulher é utilizada como centro de reabilitação para o homem, de que o amor apenas é um sentimento abstrato e que não há trabalho na relação não existem.

Quando separados, eles vivem romances com outras pessoas; eles são capazes de prosseguiram com a vida com tranquilidade [nesse âmbito]. A conexão de um com o outro não é “escrita nas estrelas”, ela apenas continuou existindo, porque ambos continuaram significando muito um ao outro.

A forma com que os problemas do casal são discutidos, após estarem junto novamente é arrebatador.

O amor entre os dois não é um conto de fadas, mas um amor contemporâneo. Eles tem seus problemas, mas desejam estar juntos. Eles se amam e desejam continuar se amando. Para mim, não há nada mais belo do que isso.

3 Crítico a Racismo, a Machismo, ao Imperialismo e outras coisas

O olhar de Ifemelu é perspicaz desde sua adolescência, quando ela fica preocupada com a relação dependente de Tia Uju com um militar casado, especialmente quando soube que a mesma não tinha dinheiro em seu nome.

Mas ela fica mais alerta e crítica conforme cresce. Seu blog que destrincha de modo divertido questões raciais nos Estados Unidos é grande prova disso. Sua preocupação em igbo se tornar uma língua de brigas para Dike, de tanto que tia Uju apenas reclama em igbo.

As críticas são feitas de forma explícita através da escrita de Ifemelu e as conversas de seus amigos politizados, mas também de forma implícita. Pela recusa do salão em cuidar de seu cabelo crespo, pelos comentários que sua família fazia sobre seu cabelo natural a fazer parecer “desleixado”.

Há nuances em suas críticas que não precisam ser ditos, mas são apontados, tais como sua amiga negra de pele clara, que é vista como a mais bela na Nigéria, por possuir a pele mais clara e se intitular de mestiça, mas em terras americanas ela se considerar birracial. Assim como a descrença de Ifemelu quanto a importância de saúde mental — e crer que “depressão é apenas uma coisa de americanos para tomarem remédios”.

É interessante observar o choque cultural enquanto Ifemelu aprende a adquirir novos hábitos nos Estados Unidos e depois precisa reaprender hábitos corriqueiros na Nigéria.

e 4 Chimamanda Ngozie Adichie

Com isso eu quero pontuar a forma como a escritora escreve. Sendo a história longa, é de se pensar que a narrativa ficaria cansativa. No entanto, isso nunca acontece.

Chimamanda é comovente no decorrer da narrativa, é pontual na descrição dos lugares e das pessoas e escreve personagens tão carismáticos, que não importa quão falhos eles sejam, você torce para o bem estar de cada um.

Considerações finais

—Esse foi meu primeiro contato com as obras de Chimamanda e estou completamente apaixonada. Já a conhecia por suas palestras no Tedx, que posteriormente se tornaram livros, Sejamos todos feministas, O Perigo de uma História Única e Para Educar Crianças Feministas. mas ainda não tinha lido seus romances.

Americanah ganhou meu coração, entrou nos meus favoritos e, a partir de então, lerei mais livros de Chimamanda Ngozie Adichie — e acredito que o mesmo acontecerá contigo.

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Carol Correia
Revista Subjetiva

uma coleção de traduções e textos sobre feminismo, cultura do estupro e racismo (em maior parte). email: carolcorreia21@yahoo.com.br