Quem vai nunca vai completamente

A grandeza do sentimento permanece viva no coração

Julia Caramés
Revista Subjetiva
4 min readOct 2, 2017

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As melhores memórias são as que eu guardo reluzentes no coração. Tem efeito vagalume e vivem flutuando ao meu redor. Incandescentes, não apagam.

Não foi amor à primeira vista. Ao contrário, a construção foi árdua e imatura, digna de duas adolescentes millennials, na Era dos celulares coloridos e início das redes sociais. Muitos depoimentos no Orkut, por sinal. O crédito desse arquivo é que são quase nulas as pastas problema, não houve espaço no HD.

Eu terra, ela ar. Eu orgulho, ela compaixão. Me lembro como num num filme de Super 8, tantas tardes embaixo dos eucaliptos perto da minha casa. O reflexo do sol entre as folhas infinitas naquele céu era quase que meditação para nós. Guardo bem os passeios na beira da praia, cantando Kid Abelha, desejando o mundo, o infinito, as estrelas e o depois. Mesmo sem saber muito bem o que era esse tal de depois. Eram os quinze anos, todos os sonhos mais malucos e descobertas do mundo. Éramos invencíveis.

Éramos muito, na aventura de sair escondido da escola. Éramos pequenas, diante de um mundo que chicoteava quem transbordasse amor demais. Eu dizia pra ela, pega leve. Fomos fracas, quando nos resultamos em nada. Fomos dor e mágoa, quando insistimos no silêncio. E eu fui medo, quando a deixei de lado. Ela, que era a personificação da compreensão. Ela, que me enxergava melhor do que eu mesma. Ela, que espalhava beleza por onde passava e era tão luz quanto um vagalume, preferia entender do que brigar. Eu, queria ter brigado um pouco mais.

Nos desmontamos pra nos encontrarmos de novo. E eu entendi que o tempo não era nada e ainda sim era tudo. E que nós ainda éramos donas do mundo, do nosso mundo. Pra entender o depois, que se instalou no antes, e nos separou, para se transformar em estrela e brilhar por aí de outro jeito. Todo amor dura enquanto brilha, o meu permanece aceso na memória e coração.

Dia desses, eu sonhei com ela me dizendo que a gente vive e morre o tempo todo. E que todos os dias compõem pequenas mortes, pra nascermos outra vez. Enquanto eu durmo, acho que somos eternas. Queria que desse tempo de dizer que a dor passou, que a gente não ia chorar pra sempre pelo mesmo garoto e que a viagem pra Argentina ainda tá de pé. Queria ter feito mais quando eu pude. Queria ter sido a corda de salvação e queria que ela soubesse que se eu pudesse ter sido toda a força, eu seria. Que eu entendi, enfim.
Na verdade, eu acho que ela sabe.

Se a gente se encontrasse de novo, eu também queria dizer que as lágrimas não me acabrunham mais, a dor já não existe e a saudade é um jeito de morrer de amor e continuar vivendo. E que somos e seremos, melhores amigas sempre, em muitas dimensões, coexistindo por aí, galáxias a fora. Isso é um jeito de perpetuar o amor e foi ela quem me ensinou isso também.

Eu aprendi e ainda estou aprendendo. O pedaço dela que ficou comigo, foi esse amor que resplandece e eu guardo pra poder distribuir por aí. Quando chegaram os dezessete e ela se foi, eu que fiquei pouco inteira, despedaçada, me reconstruí e entendi que naquela época os tempos eram difíceis e eu sei que pra nós, tinha de ser assim. Mas graças a ela, eu também aprendi a me olhar e olhar melhor pro mundo. Também saí pregando por aí que tem saída e dá pra encontrar o caminho. Quando foi a minha vez de ver o chão se abrir, foi ela que me ajudou. Mesmo não estando mais aqui, eu sei que se ela estivesse é o que ela faria. Não há dor no mundo que não possa evaporar depois de um sol bem quente, um abraço apertado e um amor maior que o impossível.

Saí contando nossa história por aí e ajudou uma porção de gente. A vida é quase sempre um cenário de filme e até o que poderia ter sido, foi em algum lugar. Nós continuamos invencíveis e a maior lição é que nunca vamos deixar de acreditar e lutar. Seja aonde for e como for, fundo e superfície.

Se escolheram a cor amarelo pra esse mês, pra simbolizar a vida, tenho pra mim que é porque foi feito pra brilhar igual ao sol. Igual a ela também. Infinita na sua coragem e no seu amor. Estamos todos juntos, fortes.

Quem vai, nunca se vai por completo. Quem fica, fica pra aprender e ensinar.

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