Rachel Green, a real protagonista de FRIENDS

De garota mimada a empresária de sucesso: o arco narrativo da fashion girl e eterna líder de torcida.

Bruno Tavares
Revista Subjetiva

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Friends é uma série com seis personagens principais, mas se você tiver que nomear um protagonista, aquele que teve o maior desenvolvimento ao longo das temporadas, a escolhida provavelmente será Rachel Green. O show começa com a ela tomando uma decisão que irá mudar toda sua história. A garota foge de Barry, seu noivo ortodontista, no dia do casamento e deixa para trás um futuro abastado, porém apático. Com isso, dá adeus à sua zona de conforto e segue rumo a uma vida nova.

Nesta fase, Rachel abraça seus vinte e poucos anos e recebe ajuda dos novos amigos para compreender que está por conta própria. Eles, por sua vez, estão cansados das aventuras da solteirice (menos o Joey) e começam a buscar realizações pessoais mais profundas, como casamento, filhos e uma situação financeira estável. Ao longo do caminho, a jovem reflete se fez a escolha correta e, mesmo vivendo alguns desapontamentos, alegra-se ao compreender que não gostaria de viver a existência morna e entorpecida nos subúrbios que seria seu destino. Dessa forma, mais do que qualquer outro personagem, Rachel incorpora valores como experimentação, imperfeição e esforço.

De maneira lenta, mas constante, ela trilha o caminho das pedras em sua carreira, vida amorosa (na maioria das vezes com o Ross) e ganho de independência. Green é a prova viva de que as escolhas que fazemos com essa idade podem nos transformar completamente. Ela mesma passa de garotinha mimada à executiva experiente e mãe atenciosa graças a muitos tropeços, lições aprendidas e momentos vividos com os amigos. Assim, podemos dizer que Rachel é a verdadeira protagonista por ser quem mais vive o conceito da série. Ela cresce e se torna a melhor versão de si mesma ao investir em amizades verdadeiras e aceitar a bagunça que é se tornar adulto.

Além de ser a peça que faltava no grupo, a garota personifica o público, uma vez que entramos no mundo de Friends junto com ela. Todo o episódio piloto se estrutura ao redor de sua jornada pessoal que inclui mudar para a casa de Mônica, encontrar um trabalho (no Central Perk) e adquirir independência financeira dos pais. Na verdade, se observarmos, o primeiro ano da série é focado mais em Rachel do que em qualquer outro indivíduo, enquanto ela se ajusta a esse novo estilo de vida.

Por vezes o show é criticado por jogar uma camada de açúcar sobre as experiências vividas entre os 20 e os 30 anos. Entretanto, Green enfrenta vários problemas universais que vão de crises financeiras às adversidades de se procurar por um apartamento em uma cidade grande. Ao longo desse processo, os demais personagens se mantêm interessados no progresso da moça, uma vez que Rachel é marinheira de primeira viagem em uma enormidade de situações do dia a dia. Isso faz com que ela veja ocasiões corriqueiras com um olhar novo e se comporte de maneira entusiasta até mesmo quando lava roupas.

À medida em que a série evolui ela se torna menos ingênua, mas continua tendo um lado adoravelmente sem noção. Dessa forma, conseguimos sempre nos identificar com sua vontade de experimentar o novo, mesmo que isso a leve em direção a tropeços colossais.

A Rachel que ela poderia ter sido

Os pais relapsos e as irmãs invejosas da personagem representam a pessoa que ela poderia ter sido caso permanecesse em sua bolha privilegiada e segura. Podemos confirmar essas suspeitas ao assistirmos um par de episódios onde vemos uma timeline onde Rachel não se divorciou de Barry e vive num constante estado de tédio e insatisfação. Aqui, ela é uma dona de casa pouco interessante e rasa, incomparável à mulher decidida que estamos acostumados ver. Algumas vezes testemunhamos as consequências da educação dos Green na jovem, quando age de maneira egoísta ou elitista. Mas esses momentos são raros e Rachel geralmente rejeita tais traços de sua personalidade. Admitamos: é preciso coragem para abandonar hábitos que antes eram tão naturais e agora são rechaçados por seus parceiros. Enquanto esse novo estilo de vida nos encanta, ele não parece tão maravilhoso para outros, como o casal Geller ou a família Green. Mesmo assim, vemos a mãe de Rachel invejar a filha por esta ter conseguido fugir de uma vida insatisfatória, enquanto ela sente-se presa. A longo prazo, a friend mimada escapou de uma boa.

Ross e Rachel — Ícones Românticos

Até aqui constatamos que os plots de Rachel dialogam com o público. Dona de um estilo único, a garota virou um ícone da moda e marcou uma geração com seu corte de cabelo singular. Ela é bonita, doce e um pouco desmiolada, assim como muitas heroínas de comédias românticas. Para completar, seu arco narrativo é positivo e bem conhecido: jovem se muda para cidade grande, trabalha duro, colhe os frutos e constrói uma sólida reputação.

Nesse contexto, seu relacionamento com Ross, um dos mais shippados da história da TV, agrega camadas para ambos os personagens. Por meio desse romance, comprovamos que existe um quê satisfatório ao vermos uma garota popular namorando o nerd de bom coração. É curioso notar como Rachel demonstra maturidade ao se envolver com Ross. No colégio, a eterna líder de torcida ignorou o geek. Na vida adulta, ser capaz de ver as qualidades do amor do paleontólogo é um sinal de que ela se tornou mais profunda e genuína.

Porém, mesmo quando ambos descobrem seus sentimentos mútuos, a dupla não fica junta. Isso porque Rachel descobre uma lista de prós e contras que Ross escreveu comparando-a com Jully, sua atual namorada. Esse pequeno pedaço de papel mostra que, apesar de suas recentes escolhas, os outros ainda a veem como uma patricinha mimada. Por uma questão de princípios, ela se recusa a ficar com alguém que não acredite em seu verdadeiro potencial. Com o andamento da trama, o casal eventualmente se forma e podemos ver a felicidade de ambos na segunda e terceira temporadas.

Mas, como sabemos, eles terminam devido ao incidente do “we were on a break”. Mesmo que o debate aqui não seja se o fato é uma traição, vemos que Rachel não pode perdoar Ross. Ao olharmos mais de perto, é possível perceber que este evento em específico é um sintoma e não a real causa da separação. Alguns episódios antes, Rachel finalmente começa a fazer um progresso significativo em sua carreira e Ross, guiado por ciúmes excessivos, não lida muito bem com a situação. Aqui vale questionarmos se o comportamento imaturo do paleontólogo é mesmo relacionado a Mark ou ao fato de que agora, a jovem tem algo mais substancial em sua vida além do relacionamento com ele. Por mais que torçamos pela dupla, neste momento eles não estão no mesmo patamar.

A separação é um momento decisivo para a garota pois, até então, a série nos leva a acreditar que ela estava no caminho de conquistar tudo o que sempre sonhou. Esse passo para trás é um lembrete de que seu arco narrativo é muito mais sobre aprender a se ajustar às situações da vida do que ter alguém para suprir suas carências. Ao longo das próximas sete temporadas, o show nos engana com as idas e vindas entre o casal, que só irá se reunir de vez nos episódios finais.

Durante os anos vividos apenas como amigos, Rachel constrói uma identidade verdadeira e desenvolve uma carreira sólida. Enquanto isso, Ross passa a vê-la como uma pessoa mais centrada e se livra dos pensamentos obsessivos que nutria desde o Ensino Médio. A evolução de ambos possibilita sua tão esperada re-união.

Rachel, Mônica e o roubo de holofotes

Desde o início de sua aventura na cidade grande, Rachel conta com o apoio incondicional de sua amiga Mônica. Seu relacionamento data do Ensino Médio, época em que ambas eram pessoas completamente diferentes. Contudo, o comportamento de Green parece não mudar em relação à amiga, o que aponta uma certa falha de caráter.

Seu passado como líder de torcida lhe rendeu uma necessidade em estar no centro das atenções. Dessa forma, nas ocasiões em que os holofotes se voltam para Mônica, a jovem Green demonstra seu egoísmo. Quando Mônica fica noiva, Rachel beija Ross. No casamento Geller-Bing, a jovem revela estar grávida. Para completar, Rachel batiza sua filha com o nome que Mônica sempre sonhou. Mesmo que Rachel não perceba, ela mantém o protagonismo em seu relacionamento com Mônica, assim como estava acostumada a fazer na escola.

Desafiando Expectativas

A estória de Rachel, quando analisada sob o microscópio, gira em torno de abraçar o desconhecido e sair de sua zona de conforto. Quando se dá conta que seu trabalho no Central Perk não vai levá-la a lugar nenhum ela pede demissão mesmo não tendo outras experiências profissionais. A garota vai atrás de sua carreira no mundo da moda, ainda que isso pareça um sonho inalcançável. Todavia nós a vemos subir no mundo corporativo desde o seu primeiro emprego, passando a um cargo melhor na Bloomingdale’s, até suas grandes conquistas na Ralph Lauren. A personagem sai de sua bolha de insegurança e alcança alegria no trabalho que realiza.

O público não imaginaria que a Rachel da primeira temporada seria capaz de chegar tão longe e, por isso, seu desenvolvimento é tão agradável de acompanhar. Ele supera nossas expectativas. Primeiro, a jovem passa no teste de se mudar para uma cidade grande sem dinheiro, sem marido e sem emprego. Depois de vencida essa assustadora realidade, a garota abraça seus maiores medos e isso a faz sentir-se completa na vida pessoal e profissional. Quando Mônica e Chandler decidem morar juntos, por exemplo, ela sai do único apartamento que já viveu em Nova York e prospera nas experiências com seus outros roomates. Quando fica grávida de Ross, Rachel evolui novamente e se torna mãe, mesmo se questionando ao longo do caminho.

Diante de tantos fatos, a série nos ensina uma lição importante. Se realmente nos comprometermos com nossos sonhos, independente do que os outros acham de nós, no final seremos capazes de realiza-los. Ao longo de Friends, Rachel descobre que sua maior qualidade é ser forte diante das bolas curvas da vida. Com isso, o final do show pode surpreender por vermos ela escolher Ross em detrimento de sua carreira. Entretanto, esse fato fecha um arco narrativo. Enquanto no piloto Rachel escapa de um relacionamento que ela não quer, no finale ela escolhe viver um amor que sabe que merece. Após trabalhar muito duro, ela enfim conseguiu provar seu valor.

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Bruno Tavares
Revista Subjetiva

Um publicitário que adora viajar, seja nos livros, nos filmes ou na vida real