Reforma Psiquiátrica Brasileira em 7 filmes.

Ana Paula Risson
Revista Subjetiva
Published in
6 min readFeb 23, 2018
Fonte: Clemente, ator do filme Epidemia de cores (abaixo)e participante das Oficinas de Criatividade.

A reforma psiquiátrica brasileira foi um movimento social, político e institucional pela extinção da maneira como pessoas com sofrimento mental eram tratadas nos manicômios. O sofrimento e morte de milhares de pessoas nos manicômios infelizmente faz parte da história da saúde mental brasileira.

Os manicômios e as práticas desumanas exercidos dentro deles foram substituídos por políticas de saúde mental inclusivas, em que o objetivo é promover saúde, cidadania e inclusão às pessoas com sofrimento mental. No entanto, ainda faz-se necessário resgatar este pedaço da história manicomial brasileira, para acabarmos não somente com os prédios, mas com as concepções e práticas que ainda excluem pessoas no contexto da saúde mental, bem como, evitar retrocessos.

“Desconstruir o manicômio não é só implodir o edifício, é desconstruir as práticas teóricas, os conceitos, as teorias que fundam o manicômio, que fundam a ideia de doente mental, a ideia de diferença, de inferioridade e de tudo o mais.”

(Paulo Amarante)

1) Epidemia de Cores (2016)

Começo por este filme, que foi um feliz achado no Google Play. Dirigido por Mário Eugênio Saretta Poglia, este filme conta histórias de integrantes das oficinas de arte que acontecem no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre — importante instituição no cenário manicomial brasileiro. As histórias e experiências nos emocionam, impactam e fazem rir. Estas oficinas e a maneira de cuidar de pessoas com sofrimento mental, exemplificam as mudanças que a Reforma Psiquiátrica trouxe. É um filme sobre promoção de vida, arte e artistas, cuidado e cidadania.

Eu acompanho as páginas do filme no Facebook e YouTube, que possuem informações extras do Epidemia das cores.

Para assistir: Google Play.

2) Holocausto Brasileiro (2016)

Não localizei imagem do cartaz do filme. A foto acima é uma das impactantes fotos feitas por Luiz Alfredo (abaixo).

Originado do livro homônimo, este documentário foi produzido pela HBO e dirigido por Daniela Arbex (autora do livro) e Armando Mendz. O documentário traz relatos de sobreviventes, funcionários e ex-funcionários do Hospital Colônia, em Barbacena, no interior de Minas Gerais (MG). Documentário e livro denunciam uma história que não pode ser esquecida, em que tudo que não deveria acontecer, aconteceu. Em entrevista, Daniela Arbex disse que “ o livro complementa o filme e o filme complementa o livro, um não esgota o outro, porque o livro tem personagens que o filme não tem e o filme traz personagens muito poderosos”.

Curiosidade: As fotos do livro, que também aparecem no documentário, foram feitas por Luiz Alfredo, quando era jornalista do jornal O Cruzeiro.

Para assistir: Youtube. Ou, na HBO, com transmissões semanais.

3) Olhar de Nise: A psiquiatra das imagens do inconsciente (2015)

Este documentário, dirigido por Jorge Oliveira, traz depoimentos de Nise da Silveira e de pessoas que trabalharam nos ateliês organizados por ela e protagonizados pelos artistas residentes no hospital. Eu prefiro este documentário ao filme Nise: Coração da loucura, pois nesta obra fatos políticos e sociais que determinaram a vida e atuação de Nise têm mais atenção, dentre eles, uma acusação criminal (na época) de comunista, que a levou para a prisão.

Curiosidade: As produções destes ateliês, deram origem ao Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro.

Para assistir: Eu assisti ele em uma mostra no Sesc. Não sei indicar outra forma de encontrá-lo.

4) A loucura entre nós (2015)

Este documentário foi dirigido por Fernanda Vareille, e também foi inspirado em um livro, homônimo, de Marcelo Veras. Tem como pano de fundo o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em Salvador. Os relatos são de pacientes, ex-pacientes, familiares e profissionais do hospital. Esta obra me prendeu a atenção pela forma como aborda e problematiza a linha tênue que existe entre normalidade e loucura, afinal: Quais os limites da nossa sanidade? O que nos define como normais?”.

Página oficial: A loucura entre nós

Para assistir: Google Play.

5) Nise: O coração da loucura (2016)

Dirigido por Roberto Berliner, conta sobre o trabalho de Nise da Silveira no Manicômio Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Entendo que o filme caiu na apreciação popular brasileira em decorrência linguagem usada (mas, não só), tornando-o acessível e, consequentemente, popular. O filme conta apenas uma parte da história de Nise, que pode ser complementada com o filme supracitado: Olhar de Nise. Independente de qual dos dois filmes se tornar o seu preferido, ambos são geniais, nos deixam desconfortáveis e emocionados.

Curiosidade: Em 2017, o ator Flávio Bauraqui, que interpretou Otávio Ignácio (paciente do hospital), ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante, no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

Para assistir: Netflix ou Google Play.

6) Em nome da razão (1979)

Filme documentário dirigido, ainda na década de 70, por Helvécio Ratton. Em nome da razão foi gravado dentro do Hospital Colônia, de Barbacena (MG). São pouco mais de 20 minutos de angústia, tristeza e revolta em frente a tela. Não é possível ficar apático diante da condição de desumanidade dos pacientes. O filme, que impactou e impacta todos que assistem, é considerado um importante dispositivo para o início das discussões sobre o contexto de Barbacena e o Movimento da Luta Antimanicomial no Brasil.

Curiosidades: 1) “Porões da loucura” é uma menção ao período ditatorial que o país vivia naquele momento, em que pessoas era levadas e morriam nos porões dos departamentos militares. 2) Ratton foi diretor do filme Batismo de sangue, que conta um pedaço da história da ditadura militar, a partir das experiências dos frades Tito, Frei Betto, Oswaldo, Fernando e Ivo.

Para assistir: Vimeo.

7) Bicho de sete cabeças (2001)

Filme dirigido por Laís Bodanzky, baseado na autobiografia de Austregésilo Bueno, Canto dos Malditos, conta a história de um adolescente, com conflitos com pai, pego com um cigarro de maconha, interpretado como dependente químico e internado em um hospital psiquiátrico para tratamento. Bicho de sete cabeças denuncia as condições sofridas por pessoas com dependência química ou sofrimento mental internadas em hospitais psiquiátricos. Mais que isso, o filme permite analisar como estas instituições que tinham a proposta de “cura” acabavam agravando o estado de saúde dos pacientes, matando, ou, ainda, criando doenças que sequer existam antes da internação.

Curiosidade: Bicho de sete cabeça está entre os filmes brasileiros que mais receberam prêmios.

Para assistir: Youtube.

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