Créditos: Débora Nisenbaum

relacionamento casual da pessoa ansiosa

Débora Nisenbaum
Revista Subjetiva
Published in
2 min readSep 22, 2017

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olha, desculpa.

eu nem devia estar falando isso, né? você não tem nada a ver com as merdas da minha vida e as minhocas da minha cabeça. a gente tá só ficando.

mas é só que ontem à noite eu senti você tão distante. achei que você preferia estar noutro lugar. não ali, comigo. sabe, eu tava tirando foto de nós dois juntos e você tava tirando fotos em que eu não aparecia pra poder mandar pra outra pessoa.

eu sei que você sai com outras pessoas e você também sabe que eu faço o mesmo. mas me incomoda você ficar no celular com um outro alguém quando eu estou ali, do teu lado, aguardando teu sorriso.

é claro que eu vejo as merdas dos emojis de coraçãozinho, eu não presto, esqueceu?

até porque você às vezes manda só o vermelho sozinho e ele fica lá, pulsando gigante na tela daquele jeito imbecil, troço brega do inferno.

ah, desculpa. eu não devia ter dito isso. olha, esquece, tá? é melhor mesmo a gente ser mais pragmático. finge que eu não disse nada.

eu preciso aprender a ficar mais calada. meu ex sempre disse que eu sou desequilibrada. talvez não valha a pena isso de tentar ser sincera e direta. eu não sei se eu tenho direito de sentir o que eu sinto. e se eu tiver, se posso cobrar dos outros que ajam no sentido de me ajudar. eu não quero ficar podando ninguém. não gosto de incomodar. você acha que devo me afastar? eu devia só te deixar em paz, desculpa. não sei pra que diabo eu tô criando DR onde nem tem R. quer dizer, eu não sei. tem? uma coisa existe se a gente não lhe nomeou? nossa, óbvio que não. tô viajando. desculpa.

é que eu gosto de passar tempo com você. merda, eu falo demais. se você não gosta mais de estar comigo não tem problema, pode me contar. me sinto dispensável pra maioria das pessoas então não seria novidade. só, sei lá, me incomoda esse limbo, entende? de não saber se você quer estar comigo só porque não tem nada melhor pra fazer ou uma buceta mais inédita na tua agenda.

pra falar a verdade, eu me importo sim. cacete, eu gosto de você e não vou fingir que não gosto. você já me viu chorar. porra, já passamos de algumas linhas aqui entre nós dois. não é mais só sexo. nem sei se um dia foi. até porque como eu já te disse, só transo com pessoas que eu admiro. e eu sinto sua falta quando você não está. é só que agora comecei a sentir quando você está também.

cacete, desculpa. eu não devia ter dito nada. tá tudo bem. esquece.

mas é. me avisa quando puder. quando sobrar um tempo. sobre nós.

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Débora Nisenbaum
Revista Subjetiva

Fotógrafa que escreve quando não cabe num frame. Dev em formação. Colaboradora na Ovelha www.ovelhamag.com