O Homem de Giz, de C.J. Tudor

Mateus Pereira
Revista Subjetiva
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3 min readJun 14, 2019

Tenho em mente a concepção que tudo capaz de gerar uma grandiosa expectativa pode se transformar em uma imensa decepção. Isso pode acontecer em qualquer aspecto da nossa vida, seja no campo profissional, pessoal ou em atividades rotineiras de lazer. Por isso, às vezes é reconfortante assistir um filme sem ao menos saber a sinopse e os atores envolvidos, bem como ler um livro de uma escritora que sequer ouviu falar. O resultado disso pode ser bem positivo, como foi a leitura de O Homem de Giz.

Adquiri o livro da britânica C.J. Tudor graças ao cartão fidelidade de uma livraria de minha cidade. Troquei os pontos acumulados por um livro que tinha uma capa e título intrigantes, poucas informações sobre a história e um capricho estético em sua edição. Saber que se tratava de uma história de suspense foi o suficiente para levar ele para casa e agora que terminei a leitura, tenho a convicção que foi uma decisão acertada.

Ambientada na cidade de Anderburry, a trama de O Homem de Giz traz em seu prólogo a descoberta de um corpo mutilado de uma jovem. Todos os membros da garota são encontrados em um bosque, com a exceção de uma parte do corpo: a cabeça. A partir desse momento, os capítulos são intercalados em duas linhas temporais: em 1986 e 2016.

Nos anos 80, Ed Adams é um garoto que aproveita as férias de verão com seus amigos na pequena cidade. São eles: Gav Gordo, David Hoppo, Nicky e Mickey Metal. Em um clima semelhante a IT, a Coisa e Stranger Things, o enredo conta as aventuras e desavenças do grupo, ao passo que apresenta os personagens adultos que terão espaço mais adiante.

A autora de O Homem de Giz, C.J. Tudor/Divulgação

Já no ano de 2016, cada um seguiu seu rumo e o contato entre os membros da antiga “gangue” é raro, por conta das mágoas do passado. No entanto, todos eles recebem a mesma carta, com o seguinte alerta: Cuidado com o Homem de Giz. Ed, que hoje é professor, é o que parece mais intrigado com o retorno do ocorrido há 30 anos e passa a desenvolver sua própria investigação.

Quando jovens, os amigos desenvolviam uma comunicação por códigos, através de bonecos de giz desenhados nas calçadas, sendo que cada símbolo tinha seu significado. E é por meio deles que o grupo encontra o cadáver de Elisa, num bosque próximo ao parquinho em que se reuniam. Apesar de uma pessoa ter sido responsabilizada pelo assassinato, para Ed, o crime nunca foi devidamente solucionado. E a visita inesperada de Mickey, que afirma saber quem cometeu o terrível crime, o põe na trilha para descobrir a verdade.

No livro, é nítido que C.J. se inspirou nos thrillers escritos por Stephen King, um de seus autores favoritos. Não só pelo clima oitentista, mas pela construção de personagens e por jogar na roda toda a hipocrisia do mundo adulto e conservador. Ao mesmo tempo, a autora desenvolve um caminho próprio, com uma descrição de cenários convincente, diálogos fluídos e informações essenciais distribuídas em diferentes trechos, dando ao leitor a possibilidade de montar o seu próprio quebra-cabeças.

Outro tópico que merece ser ressaltado é a conexão entre os habitantes que surgem ou aparecem na cidade, assim como os pontos de virada, que mudam a perspectiva do mistério nos instantes finais. Enfim, O Homem de Giz é uma grata surpresa, que irá cativar os amantes de mistérios policiais e tem potencial para se tornar em um dos livros mais recomendados do gênero na atualidade.

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Mateus Pereira
Revista Subjetiva

Jornalista tímido que gosta de escrever sobre cultura pop e aleatoriedades da vida. Reclama muito no twitter. E ama sorvete com batata frita. IG: m_pereiras