Resenha | “Prisioneiras”, de Drauzio Varella

Mateus Pereira
Revista Subjetiva
Published in
2 min readMar 6, 2018
Reprodução: Ponte.org

Durante um período da minha vida, Drauzio Varella era aquele velhinho simpático que apresentava um quadro de saúde em um programa aos domingos. Um médico conceituado, mas nada muito significante ao meu ver. Anos mais tarde, encontrei “Estação Carandiru” em uma das prateleiras da biblioteca municipal e só então liguei os pontos e vi que o livro serviu de base para o filme que tinha visto anos atrás. As histórias narradas naquelas páginas me cativaram rapidamente, assim como a escrita do doutor. Rapidamente, se tornou um dos meus autores nacionais prediletos.

Por seguinte, Carcereiros me cativou da mesma forma e ao saber que seu novo lançamento Prisioneiras, seria seu último livro dessa trilogia sobre o sistema prisional, tratei logo de conseguir o meu exemplar. E após terminar a leitura, estou até agora buscando palavras e expressões para dizer como esse livro me impactou.

Entre os três títulos sobre a temática carcerária, virou o meu favorito. A estrutura narrativa se assemelha aos outros publicados. Capítulos curtos, fluídos, com uma capacidade de contar histórias reais de maneira sensível, com percepções pessoais que agregam ao conteúdo, uma fuga do maniqueísmo que poderia ser habitual, se não houvesse o zelo profissional em sustentar pontos de vista diversos.

Ao contar as trajetórias das mulheres detidas que ele conheceu em seu trabalho como médico na Penitenciária Feminina da capital paulista, Drauzio tem um estilo próximo do jornalismo literário, que consegue transcrever cenários e personagens de maneira humanizada. Ao mesmo tempo, não tem firulas ao tratar em temas necessários no aspecto social.

O ponto chave do livro é o retrato que as disparidades de gênero são ainda mais crueis atrás das grades. Se para o homem que é preso a reintegração social é complicada, o contexto para as mulheres é ainda mais doloroso. As mulheres, mesmo presas, se submetem muitas vezes aos valores morais e patriarcais da sociedade e mantêm os preceitos de respeito, submissão e devoção às suas famílias, o que raramente é recíproco, mesmo quando o crime que motivou a prisão era praticado para o sustento das mesmas.

Sexualidade, religião, assédio sexual, violência doméstica, pobreza, machismo. Com a abordagem de todas essas temáticas, mesmo as situações que possuem um viés engraçado tem em sua fala uma dor, um ressentimento. Prisioneiras é um livro que incomoda, pois no conforto de nossos lares, não temos conhecimento da pouca esperança de dias melhores que aquelas mulheres possuem. Um desconforto que apenas alguém com a bagagem do doutor mais simpático do youtube é capaz de causar.

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Mateus Pereira
Revista Subjetiva

Jornalista tímido que gosta de escrever sobre cultura pop e aleatoriedades da vida. Reclama muito no twitter. E ama sorvete com batata frita. IG: m_pereiras