Revendo nossa História — Especial: “Descobrimento” e Resistência Indígena

Pedro Souza
Revista Subjetiva
Published in
3 min readApr 19, 2017

Um ponto pacífico na visão de boa parte dos historiadores é que a história é narrada do ponto de vista do vitorioso, do dominador. Por exemplo, há algum tempo os historiadores tem revisto o que se escreveu sobre a África, no geral e no particular, pois muitas das vezes as fontes usadas foram relatos de viajantes europeus pelo continente, o que de alguma maneira vai afetar no seu juízo de valor e atrapalhar o historiador na hora de lidar com as fontes.

No caso das Américas, essa corrente que busca rever a história já escrita é mais antiga, mas ainda assim precisa lutar para rever parte da história. Essa semana comemoramos duas datas que nos fazem lembrar sobre nosso passado, e que infelizmente deveriam estar mais presentes no nosso cotidiano: a Descoberta do Brasil e o Dia do Índio.

Sobre a primeira data, o que tem sido revisto é o conceito de descoberta. Acredito que hoje seja mais prudente usarmos o conceito de chegada, pois foi exatamente isso que os viajantes fizeram: eles chegaram a um monte de terra. E a partir dessa chegada foi sendo inventado e montado ao longo dos séculos o Brasil que hoje conhecemos, com graves cicatrizes ainda não curadas, fruto de anos de exploração constante e um sistema escravista de produção. Eles não chegaram aqui e descobriram o Brasil. A América sempre esteve aqui, inclusive com civilizações muito avançadas em técnicas e sistemas de organização social, como os Impérios Inca e Asteca.

Aqui, onde hoje chamamos de Brasil, tínhamos (e falo tínhamos porque os indígenas sofreram uma redução demográfica drástica, apesar de ainda lutarem por sua sobrevivência) uma infinidade de grupos indígenas distintos. Com organização própria, hierarquia, maneira de se relacionar entre si e com a natureza, de sobreviver. Ainda hoje cometemos sérios erros educacionais em apresentar os indígenas como seres sem cultura, sem passado e, principalmente, como um bárbaro, um selvagem. Grave erro. A historiografia preza muito pela documentação escrita, o que de fato vai prejudicar o estudo sobre civilizações e grupos que tinham sua vivência baseada na tradição oral, principalmente, como muitos indígenas e grupos que vivem no território africano.

Existem hoje correntes historiográficas que se debruçam sobre o caso dos indígenas e africanos, e buscam reaver ou resgatar processos complexos que esses grupos enfrentaram, de uma nova perspectiva, de um novo olhar.

E qual é a importância disso? Primordialmente entendermos quem somos, de onde viemos, nossas tradições, nosso relacionamento, nossa identidade, pois como diz o rapper e poeta Emicida: “Infeliz do povo que não sabe de onde vem”. Hoje vivemos uma grave crise de identidade nacional: o que é ser brasileiro? As conclusões dessa pergunta passam diretamente por questões que envolvem a revisão do processo de chegada portuguesa, dos conflitos com os holandeses que ocorreram em parte da costa brasileira na época colonial, na chegada de africanos escravizados que traziam consigo uma cultura complexa, que veio a casar com uma cultura, também complexa, portuguesa. No papel dos indígenas e suas culturas, que também eram complexas, na formação social brasileira, sua resistência aos portugueses.

Por tudo isso é importante não darmos atenção a essas datas somente uma semana no ano, e sim o ano inteiro, de maneira a dialogar sempre com o processo de aprendizado escolar, com o meio acadêmico e com os saberes populares, para podermos compreender de onde viemos, como viemos, porque viemos e clarearmos um pouquinho o futuro nebuloso de para onde vamos.

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