Revisitando minha vivência da pandemia com “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija”

Regiane Folter
Revista Subjetiva
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3 min readAug 4, 2021

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A primeira coisa que pensei depois de ler “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija”, ebook de estreia de Thaís Campolina, foi no interessante que era visualizar a pandemia desde a perspectiva de uma criança. Esse livro-conto está narrado por Maria Eduarda, uma pré-adolescente lidando com todas as inseguranças e transformações típicas de sua idade, porém com a carga extra de viver uma crise mundial que modificou sua rotina, suas atividades e até mesmo sua família.

Na história, acompanhamos as ações e pensamentos de Maria Eduarda em um cotidiano marcado pela sombra da pandemia e pela adaptação que a menina e aqueles ao seu redor tiveram que incorporar para lidar com o isolamento, a dúvida e o conflito. Além de conviver com as mudanças em suas atividades, ressignificar espaços e relações, Maria Eduarda também precisou aprender a assimilar a perda de um querido familiar para a COVID-19 e até mesmo buscar sentido frente à polarização de opiniões sobre a doença, fruto da desinformação que assola nosso país.

As sensações que essa leitura provocou em mim foram mudando ao longo das páginas e das reflexões feitas pela personagem principal. Dei risada, me emocionei, refleti e principalmente revisitei minhas próprias opiniões sobre a experiência de viver uma pandemia. Entrar em contato com a experiência de uma criança e sua forma de fazer frente a uma situação de extrema insegurança e tristeza me levou a questionar minha própria capacidade de empatizar, compreender e ajudar aos demais, reflexão muito necessária para todos nós em um momento como esse.

A sensibilidade do relato e a forma singela e concreta que Thaís usou para contar essa história são características que já encontrei em outros trabalhos da autora e que admiro muito. Neste livro, reconheci uma vez mais a dedicação da escritora em se colocar no lugar do outro e, como resultado, gerar uma história que realmente parece ter saído da mente de uma pré-adolescente. Me fascinam os livros escritos em primeira pessoa, porque desfruto imensamente a oportunidade de mergulhar na mente de outra pessoa e viver sua história junto dela com todos os seus sentimentos, pensamentos e opiniões. A história em primeira pessoa é sempre uma visão fragmentada da realidade, porque se concentra naquilo que o narrador percebe. Mas não deixa de ser uma versão extremamente rica porque incorpora a diversidade que é o ser humano e nossa capacidade de interpretar e sentir as mesmas coisas de formas completamente únicas.

Recomendo “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija” a todas as pessoas que gostam de histórias curtas, mas profundas em sentimento e significado. Uma história muito indicada para refletir sobre esse momento difícil que todos estamos vivendo e, quem sabe, até encontrar sentido para os desafios e perdas que todos enfrentamos durante essa pandemia.

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Regiane Folter
Revista Subjetiva

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