Imagem por Thiago Lucas, via Humor Político.

Sem esperanças para outubro

O que (não) podemos esperar da ausência de confiança nesse momento de eleições.

S. Paiva
Revista Subjetiva
Published in
7 min readOct 3, 2018

--

Vou te dizer por que não tenho esperanças: a política é algo em que nos envolvemos todos os dias, mas só nos últimos tempos vem sendo amplamente “debatida” (seria um debate se houvesse, em maior parte, troca de informações e opiniões respeitosas em vez de troca de ofensas pessoais), com episódios de radicalismo, bipolarização, fake news e discussões (brigas) nas redes sociais.

Como se não bastasse, agora existem as “fake news da fake news”, ou seja, alguém com intuitos escusos pega uma notícia que é verdadeira e a propaga como fake news. Aconteceu isso com uma foto da última passeata pelo #elenão ocorrida no último sábado.

Há menos de uma semana das eleições, não consigo ter qualquer esperança de um futuro melhor para o nosso país, dadas as chances claras dos possíveis vencedores.

Por me identificar mais com a pauta da esquerda (preferência à proteção das minorias e causas sociais), é claro que minha opinião pelo candidato do PSL não vai ser das mais favoráveis (na verdade, é a pior possível). Mas vou me poupar de tecer comentários diretos sobre o mesmo, pois de encrenca à toa que chame mais atenção dos propagadores do senso comum, isso pode ficar para o Facebook (inclusive, para os meus parentes e conhecidos que resolvem me equiparar a “amante de L*la” — lembrem que isso, hoje em dia, é xingamento de alto nível — por, simplesmente, opor-me ao candidato do PSL e ter-me formado em universidade federal). Além do mais, pessoas com mais saber histórico e político que eu podem discutir com mais propriedade sobre isso. Basta procurar e se informar.

De todo modo, se você não é uma pessoa aberta a diálogos e discussões respeitosas, não importa com que vertente política você se identifique (sim, isso serve para “esquerdistas” e “direitistas”, para falar na língua do contexto de polarizações), já te adianto que esse texto, pra você, é uma perda de tempo. Não é um texto científico, nem nenhum diagnóstico definitivo e imparcial sobre o futuro do Brasil.

É, muito pelo contrário, sobre sentimentos.

Via de regra, as pessoas que estão nessa plataforma de blogs chamada Medium conseguem discutir, mesmo com pontos de vista diversos, de maneira elegante, inclusive, sobre política. Mas nada impede que “um gato pingado” ou mais acabem caindo nesse artigo, certo? Então, vamos nos poupar: meu objetivo não é atingir views, nem criar polêmica. Se você gerar algo nesse sentido, a partir desse texto, é por sua conta.

Meu objetivo é mais fazer um desabafo do que qualquer coisa. Um desabafo sobre ausência de identificação.

A questão é que, porém, mas, contudo, todavia, entretanto, o outro candidato do Partido dos Trabalhadores (que, por eu me entender mais simpatizada com a esquerda, supostamente, seria “o meu candidato”) também não é alguém com quem eu me identifique.

Juro que tentei ter o mínimo de simpatia pelo mesmo. Pra vocês acreditarem, confesso que caí, por alguns momentos, até naquela “profecia de Chico Xavier” que circula por aí nas redes, atribuindo o futuro do Brasil a um homem em um cavalo branco que “seria honesto e leal” ou algo do tipo — é que, não sei se propositalmente, o candidato do PT postou, esses dias, uma foto montado em um cavalo branco em seu Instagram e meu espiritualismo me fez suspeitar em alguns momentos, que a passagem se referia a ele — pra vocês verem o quanto estou precisando (desesperada?) de um sinal divino para saber qual seria o “o futuro melhor” (ou “menos pior?”) do nosso país. Depois, fui informada de que a tal profecia seria uma “fake news” propagada por eleitores daquele-que-não-deve-ser-nomeado para atribuir a este a tal “profecia”. A mesma “profecia” havia sido atribuída, outrora, a Sérgio Moro e Aécio Neves (!) em outros momentos de cenário político. Nem preciso dizer que desrespeito isso é à memória de Chico, minha gente.

Então, sobraria o 3° potencial candidato vencedor das eleições presidenciais: o candidato do PDT, Ciro Gomes (acho que não tem problema citar o nome dele, pois seus eleitores costumam ser mais neutros em discussões). Ciro é nordestino. Ponto. Só por isso, eu já me identificaria um monte, pois cresci e tenho família no Nordeste. Mas pra completar, Ciro também é advogado. Eu sou advogada. Ele tem uma pauta condizente com o que penso, embora eu tenha meus receios de me admitir “centro-esquerda” — ora, temos receio de admitir qualquer coisa política publicamente nos dias de hoje!

Mesmo com sua inegável simpatia, Ciro, ainda, sim, não seria o meu candidato. E olha que eu tinha tudo pra gostar dele, né?

Então, por quê não gosto? Da mesma forma que não gosto do candidato do PSDB: simplesmente, não me identifico. Sabe quando “o santo não bate”? Deve ser algo do tipo.

Pra vocês verem, perceberem e concluírem: nem sempre a escolha de um candidato à presidência é uma escolha objetiva (indo atrás de pautas e propostas, vendo qual tem menos casos de corrupção, etc.). É algo relativo, também, ao que nos identificamos, às vezes, não consciente, mas inconscientemente.

E, sim, pode ser difícil de admitir que aquele seu (ex-)parente ou (ex-)amigo que apoia a candidatura do J.B. não seja realmente homofóbico, racista, xenofóbico e outras fobias. Claro que, apoiando a candidatura do mesmo, eles podem estar, ainda que indiretamente, coadunando com isso ou negando a existência dessas máculas sociais, já que “há um bem maior a ser preservado, como livrar o Brasil do PT”. Mas há a grande possibilidade de o J.B. simplesmente os lembrar de alguém importante. Alguém que fez parte da vida dos mesmos (geralmente, uma figura conservadora, como pais e avós) e eles sentem confiança naquela imagem.

(CARAMBA, AUTORA DESSE TEXTO, E COMO VOCÊ CHEGOU À ESSA CONCLUSÃO? VOCÊ FOI JEJUAR NO MONTE COM O DACIOLO????)

Não, gente. Não precisa ser alguém super iluminado ou ter ido jejuar no monte pra chegar à essa constatação. Sabe aquela fala de que “o brasileiro é um ser cordial”? Que cede às próprias paixões e vicissitudes em detrimento da racionalidade?

“A figura do povo alegre, agregador e tolerante, geralmente atribuída ao brasileiro, é mais um daqueles mitos que tardam, mas não falham em mostrar sua verdadeira face. O termo ‘cordial’ — imortalizado pelo historiador Sérgio Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil,– é comumente mal interpretado.

No caráter etimológico defendido pelo autor, não é exatamente ‘cortês’ ou ‘bondoso’ o que definiria o brasileiro. ‘Cordial’ vem de coração. Ou seja, é o tipo de pessoa que se orienta de forma passional, muito mais do que pela racionalidade. E isso, na prática, pode ser bem perigoso, como temos visto com uma assombrosa constância nos últimos tempos.” (Maíra Streit, na Revista Fórum).

Em tempo: ser “irracional” não quer dizer, necessariamente, “destituído de intelecto”. Nesse contexto, quer dizer “ceder às razões do coração”, ou seja, “ser cordial” impõe por os motivos racionais de lado, dando vazão aos sentimentos. E isso, logo em que momento?

Ora, estamos em um período confuso historicamente. Talvez, isso já tenha sido previsto pelos melhor-entendidos, dado o último processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff entre 2015 e 2016, episódio este que foi só a “cereja do bolo” da panaceia política que começamos a viver desde o movimento “não é só pelos 20 centavos”, que começou no Rio de Janeiro e em São Paulo e, depois, desencadeou para todo o Brasil em 2013.

Um impedimento sempre será um impedimento, não importa em que seja fundamentado. Um impedimento irá, basicamente, dizer para o povo: “Olha como vocês foram burros e não souberam escolher o melhor para o nosso país”.

Isso, pra mim, já é o suficiente para gerar ausência de confiança em ambos os lados de uma situação. A tormenta entre “o que é bem e o que é o mal” se instala, não só na forma de histeria coletiva, como no âmago de cada um. Com isso, surgem as propostas autoritárias e/ou antidemocráticas e os seus consequentes adeptos. Em sua oposição, os movimentos sociais e apoiadores da democracia também se inflamam.

Nessa disparidade de visões em que uns preferem que prevaleça a segurança, em detrimento de pautas importantes do sistema democrático, e outros, querem guarnecer a liberdade de expressão, em seu sentido lato, como princípio máximo de nossa Constituição, eu, simplesmente, fico na ala dos que perderam a esperança. Tanto que nem tenho mais fôlego para discutir sobre isso, embora esteja aqui escrevendo um texto sobre o mesmo. Devo estar querendo expurgar meus demônios, ou algo do tipo.

Não tenho previsões, nem profecias apocalípticas. Mas sei que, dessas dicotomias, não há de sair algo muito bom. Até porque os monstros dessa ausência de confiança de representação, em que se põem em xeque todas as instituições políticas, inclusive, do Judiciário já estão dando as caras por aí e caminhando à luz do dia, sem vergonha alguma, inclusive, endossados por membros de dentro dessas próprias instituições.

Isso me lembra o quanto o meu professor de História da época de escola estava certo ao dizer que a História é, mesmo, cíclica.

Por fim, faço constar aos desavisados que não irei votar. O meu voto será justificado, portanto, não adianta me convencer em votar em “candidato A, B ou C”, pois isso não terá impacto nenhum nos resultados das eleições. Meu texto foi só um mero relato de quem se encontra desesperançosa, para não dizer desanimada, sobre onde vai dar esse escarcéu todo.

Por ora, recomendo a leitura de textos do ilustríssimo jurista Lênio Streck, no portal Conjur, sobre o assunto (como esse aqui).

Beijos de luz!

Gostou? Clique nos aplausos — eles vão de 1 a 50 — e deixe seu comentário!

Não perca nada: Facebook | Instagram | Twitter | YouTube

Participe do nosso grupo no Facebook e divulgue seus textos por lá!

Saiba como não perder nenhum texto através do aplicativo do Medium.

--

--

S. Paiva
Revista Subjetiva

Escritora de porta de terapeuta | Filha do meio, millenial, potterhead e casada com o cara de TI