Sem Pressa: A escrita sem medo do tempo

Mateus Pereira
Revista Subjetiva
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2 min readNov 1, 2018

Katherine Funke não é uma pessoa que se destaca na multidão. Cabelos curtos, baixa estatura, mochila nas costas, um par de AllStar nos pés. Mistura uma timidez com simpatia, característica comprovada pelo seu sorriso singelo e uma fala mansa. No entanto, tal discrição não representa seu talento: ele é amplo, cativante e imaginoso.

As palavras de Katherine, que é jornalista, não têm pressa de ocupar seus espaços nos papéis. O que diga seu novo livro, “Sem Pressa”, que demorou 8 anos para enfim ser publicado. O título, que um compilado de produções textos de jornalismo literário, começou a ser escrito na Bahia e foi publicado em Santa Catarina, estados mais que simbólicos para a trajetória da autora.

Ao todo, são sete narrativas que mesclam as variadas vertentes do gênero. Há aqueles que se parecem com perfis literários, outros são descritivos e há que é a pura essência do jornalismo gonzo. Antes de cada nova história (ou capítulo), as sabedorias do tempo dão as caras, por meio de versos de autores clássicos e desenhos, de autoria da ilustradora Meryl Dith, que dão o tom de cada jornada peculiar.

Como de costume, separo aqui meus textos favoritos do livro, embora todos, sem exceção, proporcionem momentos de leitura cheio de prazer. “Ei, você viu aí um pedaço com uma cabeça?” traz o processo de restauração de louças e cerâmicas portuguesas que foram encontradas dentro do que sobrou do navio Galeão Sacramento, que naufragou no litoral baiano em 1668. Aqui, Funke conta a rotina dos profissionais responsáveis por catalogar e juntar os cacos dos materiais, enquanto remonta a história do trágico acontecimento, mesclando história e informação de modo sutil e agradável.

Na sequência, “Stella vai a um retiro em um mosteiro”, traz um perfil da neta de Dorival Caymmi, antes de uma temporada dela em um retiro espiritual. Observadora e participante da trama, a narradora descreve cenários, pensamentos e situações ao passo que a protagonista segue seu fluxo de tempo, intercalando fatos sobre seus hábitos cotidianos e a história de sua família. O último texto a ser destacado é “Amanhã já é maior e mais belo, Jorge”, em que a escritora mergulha em uma experiência sensorial e bastante curiosa para falar sobre a produção da Amma Chocolates. Fluxo de consciência, viagem no tempo, imaginação à flor da pele não faltam para representar as sensações de experimentar o doce produto.

Publicado pela editora da própria autora, a Micro Notas, o livro deixa aquele desejo de conhecer mais produções de Katherine e de reler as palavras transcritas com tanto cuidado. Enquanto esperamos um novo material da escritora, podemos reler seu livro conforme o título nos sugere: Sem Pressa.

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Mateus Pereira
Revista Subjetiva

Jornalista tímido que gosta de escrever sobre cultura pop e aleatoriedades da vida. Reclama muito no twitter. E ama sorvete com batata frita. IG: m_pereiras