Sem pretensão nem redemoinho
Cortando a corrida
Nos últimos dias tem sido difícil colocar a seriedade pra descansar na cadeira. Na verdade, tem sido assim desde o início disso tudo. Obstinação, metas, e outros entorpecimentos já me inundaram célula por célula. E o astigmatismo está me impedindo de ver com clareza as coisas bonitas que já guardei nas gavetas.
Sinto como se o vento estivesse parando de bater na beirada das coisas há um tempo. Como se a magia estivesse indo embora da terra. E tudo têm se tornado uma grande procastinação virtual que carrega minha culpa no trapézio e enfraquece meus joelhos.
Acho que em partes é só porque estou crescendo. E na medida em que creço, vou me endurecendo, até criar o rigor de uma rocha. Por medo.
É o processo até se tornar uma pessoa séria, adulta e responsável, não é? O medo de ouvir o barulho do nada e de enxergar a curva do silêncio — quando se sabe que não se pode controlar nenhuma dessas coisas.
Mas nem mesmo alguém feito pedra está imune à força da natureza. Ela, tal como a vida, é indomesticável. Mesmo assim, continuo nessa busca por uma perfeição irreal. Procuro amor e aprovação pelas coisas que faço o tempo todo. Por isso as metas. Por isso fazer sempre mais. Mas mais não é suficiente. E não deve ser.
Essa bagunça me faz lembrar de sair da rota de vez em quando. Deixar de ser mais uma pedra no mundo das pedras. Manter a leveza no peito, e deixar a corrida para trás. O que vier depois é um estudo de vida.
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