Sempre em frente

Rafael Barbosa
Revista Subjetiva
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2 min readAug 31, 2022

Estou andando há dias. Ou seriam meses? Depois de um tempo a gente para de contar.

Sempre em linha reta. Não sei exatamente aonde deveria chegar quando me disseram pra seguir em frente. Perdi o Norte que me guiava e não existe Sol para saber onde fica o Leste e o Oeste. É uma noite eterna e sem estrelas. Somente escuridão.

A boca fica tão seca que cola. Falta água. E o que mais me incomoda é não ter com quem conversar. Quando me dou conta, estou recriando diálogos que poderiam evitar o que me levou a caminhar sem rumo. Mas eu sei que o resultado será o mesmo.

Meus pés doem. Feridas abertas. Em carne viva. Uma dor que corrói e vai subindo pelas pernas, passando por todo o meu corpo. Mas é quando chega ao coração que a situação piora.

Ele ainda bate. Dá para contar as batidas. Tu-dum. Tu-dum. Mas agora estão fracas. Eu consigo sentir que ele está rachado e só precisa de um incentivo para se quebrar completamente. Milhões de pedaços pelo caminho. Cada um contando uma história. Assim como as minhas pegadas.

Apesar de caminhar, não consigo distinguir a paisagem ao meu redor. Às vezes me parece um deserto. Quente, com tempestades de areia que cegam e machucam. Em outros momentos parece a Antártida. Tão frio que queima. Sem o calor ao qual estava acostumado, tenho medo de me congelar.

Talvez esteja indo em direção ao abismo. Uma queda infinita, assim como essa caminhada. Sempre seguindo em frente, um passo após o outro, como me disseram pra fazer. Sempre para baixo, esperando o impacto que nunca chega.

Não há mais volta. Não tenho para onde voltar. Sempre em frente, como me disseram pra seguir. Um passo após o outro.

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Rafael Barbosa
Revista Subjetiva

Eu escrevo. Às vezes sai algo legal. Insta: @rafabarbosa