“A Modern Romance: Using Tinder in the Sticks” Ilustração por: Alaina Wibberly

Sentimentos Virtuais.

Sobre carências, aplicativos e outras drogas.

Danilo H.
Revista Subjetiva
Published in
4 min readMar 29, 2018

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Quais foram mesmo as suas palavras? Era algo do tipo: “O carnaval já passou e agora? O que eu faço? O inverno está quase aí”. Lembro de ter lido essas palavras e pensando que ou você está assistindo muito Game Of Thrones ou você recebeu aquela visitinha de novo.

A sua prioridade é afastar essa sensação avassaladora que te persegue desde a primeira vez que você desejou alguém. A pior de tudo é que esse sentimento é parcialmente curável e aí é que está o perigo, afinal, quando pensamos que nos livramos dele… BANG! voltamos a estaca zero.

Se a carência fosse um ser humano, ela seria, sem sombra de dúvidas, a pessoa mais ingrata do mundo, ela sempre pede e pede e pede por algo que infelizmente falta em você… aquele amor própria do qual você tanto fala se esvaziou um dia e nunca foi reposto, não é? Eu bem sei.

Acho que você sabe onde eu quero chegar… Não se acanhe, eu sei que você o tem instalado ai no seu smartphone, aposto que ele não está na tela principal, eu diria que você acessa o menu e arrasta a tela duas vezes no máximo para encontrá-lo, o símbolo flamejante que tanto te assombra.

Quantas vezes você o desinstalou, mas depois mudou de ideia e o reinstalou naquele momento de fraqueza? É… acredito que você não é a única pessoa dentro desse barco.

Mas não sejamos hipócritas, um aplicativo facilita muito as coisas, por exemplo, você não precisa dizer que não gostou de alguém, basta passá-lo para a esquerda e ele ou ela nunca saberá. Em contrapartida, é muito ruim esperar aquele Like que nunca virá, mas tudo bem… sempre é possível tentar de novo.

Falando nisso, como foi o seu último Like? Você leu a descrição e passou para a direita ou só as fotos do/da pretendente foram suficientes? E você parou para pensar como aconteceu do outro lado? Será que ele/ela leu o teu perfil e pensou “Wow” ou você foi só um rostinho bonito na sequência?

Estranho pensar sobre isso, não é? E mais estranho ainda é pensar como por vezes o Like é suficiente para acalmar os ânimos, às vezes você não gosta daquilo que vê no espelho, entretanto basta a notificação subir na sua tela para você sentir aquela dose de amor próprio (bem de segunda mão) fluir pelo seu corpo abaixo.

Eu nem deveria tocar nesse assunto, mas acumular Likes e Contatinhos não te faz uma pessoa esperta ou prevenida, brincar com os sentimentos dos outros e organizá-los em uma fila prioritária não te torna alguém mais amado ou desejado. Acho que o mais prejudicial disso tudo é pensar que só você se antecipou, talvez você não seja a primeira opção dos seus pretendentes.

Você não acha engraçado como os nossos sentimentos se tornaram reféns de um pacote de dados e de um sem-fim de códigos binários? Aquela corrente de autoconfiança gerada através de um coraçãozinho verde (sendo alguns deles por puro engano) que toma nossas estruturas é reconfortante.

Um conforto que não dura o bastante.
Uma maquiagem colocada sobre as nossas expectativas.

Às vezes você culpa o querido Karma por toda essa patifaria que você chama de relacionamentos… como assim você dá amor, carinho e o escambau, contudo não recebe o mesmo de volta? Onde já se viu uma coisa dessas?

Você passa grande parte do tempo querendo um relacionamento fixo e quando alguém aparece você se assusta, imagine só se roubam a sua liberdade? Que loucura seria… Logo você que quer todo mundo e ninguém ao mesmo tempo.

E esse aplicativo simplesmente fica escondido até a sua próxima crise de carência, aí você volta correndo para ele em busca de uma aceitação e uma coragem que não flui naturalmente de dentro para fora…

Alguém terá que dizer o quão interessante e aprazível você é, alguém do outro lado da tela que possui (ou não) as mesmas intenções… alguém que pode (ou não) estar mentindo para conseguir o que quer… ou pior, alguém que pode não ser a mesma da foto.

Todo dia surge um aplicativo novo, todo dia passamos pessoas para a esquerda e para a direita enquanto agradecemos essa belezinha chamada de anonimato, mas ainda sofremos para acreditar que a plenitude se encontra dentro de nós. Ninguém deveria ter esse poder sobre nós.

Mas até lá não custa nada ligar a sua geolocalização e checar quem está por perto, talvez seja a pessoa que vai salvar o seu dia (ou aquela que é igual a todas as outras).

Um “Viva!” às nossas emoções virtualmente inócuas e dissipadas.

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.