Ser LGBTQ na escola

Um pouco de como foi a minha trajetória na escola, enquanto LGBTQ.

Guilherme Aniceto
Revista Subjetiva
Published in
4 min readMay 30, 2017

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O que vou contar aqui eu nunca contei a ninguém. Diz respeito à minha experiência como homossexual na escola, desde criança, ao impacto disso na minha vida e a como isso quase me levou ao suicídio.

Eu sempre soube que era gay. Desde bem pequeno, eu já tinha as minhas inclinações em relação aos meninos. Sempre achei eles mais atraentes e as meninas sempre foram somente minhas amigas. Nunca me interessei pelo sexo oposto de forma amorosa ou sexual, nem mesmo platonicamente.

O que me ocorreu foi que eu me obriguei a fingir que me apaixonava pelas meninas, fingia tanto que eu mesmo acreditava.

Uma vez, inclusive, chorei porque a menina não quis nada comigo. A pressão dentro da família, entre os colegas, ditava que a heterossexualidade era o normal.

Quando os meninos xingavam uns aos outros, as palavras “boiola”, “bicha” e “viadinho” eram as mais usadas. Por isso, eu me esforçava ao máximo para esconder a minha identidade e orientação sexual diante desses colegas. Um belo dia, eu estava sentado no pátio da escola, com as pernas esticadas, e um menino tropeçou em mim e caiu.

Ele me bateu muito e, enquanto batia, repetia que não me batia somente por ter tropeçado, mas porque eu era “bicha” e precisava apanhar mais por isso.

Sempre fui muito magro e franzino, por isso eu nunca revidava, apanhei até os supervisores segurarem-no e nos levarem para a diretoria. Essa experiência serviu como sinalizador de que eu não podia deixar que soubessem que sou homossexual.

No Ensino Médio, cheguei a namorar uma menina, após ser pressionado por algumas amigas, que diziam que ela gostava de mim. O relacionamento não foi para frente. Não aconteceu nada, sexual ou amorosamente, com essa menina. Andávamos de mãos dadas e não trocávamos beijos.

Nessa experiência, eu tive a certeza de que algo não estava certo em mim. Por muito tempo, depois disso, acreditei que a homossexualidade fosse essa coisa errada comigo.

Somente na faculdade, após conhecer outras pessoas da comunidade LGBTQ, eu comecei a enxergar que eu tinha razão em ter aquela sensação de que havia algo errado, mas eu não tinha razão em atribuir isso à homossexualidade. O errado era eu fingir não ser homossexual, era ter vergonha e medo de ser quem sou. A partir disso, comecei a interagir com outras pessoas LGBTQ, até que, finalmente, percebi que eu poderia ser feliz dentro de mim mesmo. Conheci alguns homens, meu primeiro beijo foi com outro homem, e eu conheci a felicidade.

Hoje, estou noivo e pretendo me casar no ano que vem.

Infelizmente, as escolas ainda não são lugares seguros para as crianças LGBTQ. Infelizmente, o bullying ainda é frequente. E, infelizmente, as consequências da discriminação dentro desse ambiente são desastrosas, para a autoestima e para a vida adulta de pessoas LGBTQ. Muitos jovens não chegam a ter uma vida adulta, recorrem ao suicídio para que o sofrimento termine, porque não enxergam apoio em parte alguma.

Eu poderia ter sido um desses jovens, estive a um passo do suicídio.

A minha sorte é que eu tenho um irmão, com quem eu me dava muito bem. De alguma forma, ele foi a minha salvação, mesmo sem saber. Não me matei porque eu não queria que ele sofresse.

Depois de ter tido uma educação conservadora, inclusive dentro da igreja, a minha autoestima chegou ao fundo do poço. Mas eu consegui me reerguer e sentir orgulho de ser homossexual. Hoje, acredito que se eu consegui, qualquer um consegue. Todas as pessoas LGBTQ merecem sentir orgulho de si mesmas, de viverem suas vidas a despeito do que o mundo diz que é certo. E é por isso que eu gosto de compartilhar a minha história e as minhas vivências enquanto LGBTQ.

Se eu conseguir que pelo menos mais um LGBTQ comece a sentir-se especial, eu já serei a pessoa mais feliz desse mundo.

Devemos nos empoderar, enquanto irmãos de causa, e não segregar ainda mais. Independentemente da letra dentro da sigla, nós LGBTQ somos diferentes, e isso não nos torna aberrações. Pelo contrário, nos torna especiais, nos faz únicos!

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Guilherme Aniceto
Revista Subjetiva

Escritor. LGBTQIAP+ (ele/dele). Poeta no portal Fazia Poesia. Contato pelo instagram @guilhermeaniceto ou pelo e-mail: guilhermefaniceto@gmail.com