Sobre os Detalhes

Yan Fernandes
Revista Subjetiva
Published in
3 min readFeb 6, 2021
Arquivo pessoal

É engraçado que quando começo qualquer coisa nova na minha vida fico observando os detalhes, as mudanças. Quando eu iniciei a terapia tentava ver uma mudança logo depois do primeiro mês. Eu meio que tenho pressa pelo novo, já queria ser uma nova pessoa. Alguém todo analisado e que já saberia lidar com todos os B.O’s que surgissem no meu caminho.

Me enganei. Talvez fosse acontecer lá pelo segundo mês, porque o primeiro foi mais pra vomitar os últimos acontecimentos, para se lamentar, chorar, vivenciar as fases do luto e me sentir acolhido naquilo que doía. E foi incrivelmente bom, encontrei um lugar que eu poderia ser vulnerável, sem me sentir constrangido ou culpado por me expor demais.

É curioso, me senti tão à vontade para falar dos meus piores momentos, do meu lado mais vulnerável e até egoísta, que meu psicólogo passou a pontuar essa característica como algo positivo. Ele me disse:

-Você está disponível pro processo terapêutico, isso é muito bom, Yan!

(Ora, não fazia sentido ir pra lá, me esforçar pra conseguir o dinheiro das sessões e ficar calado).

Depois aprendi uma lição: Têm coisas que não são fáceis de dizer, e chegou esses momentos pra mim também. Tive dificuldade em verbalizar, e receio de falar que aquilo que eu levei como demanda no 2° mês ainda doía no 6° mês. Pois é, descobri que o processo de cura não é linear. O sofrimento volta, desaparece, volta de novo e de novo até que perde o sentido, é que curou.

E demorei para reparar nesse detalhe. Algumas coisas curaram, outras estão no caminho, e novos machucados irão surgir e depois sarar. Não que eu queira me machucar do mesmo jeito, é horrível, agora tenho mais cuidado pra não ralar o joelho, é que provavelmente eu vou inventar outros modos de me machucar, não que eu seja masoquista. É porque vou continuar me relacionando com outros mundinhos particulares, e nisso corro o risco de me esbarrar em ‘interrogações’ nada agradáveis.

Os detalhes que vem do físico é outro processo. ai, como demora M-E-U D-E-U-S! Venho fazendo exercícios há alguns dias. Gostei da sensação de me sentir disciplinado e ter mais alguma coisa com que ocupar meu dia — vida de quarentenado não é fácil! Vou criando mini-projetos toda semana pra dar uma mudada na rotina. E o êxito disso depende muito de como eu acordo. Tem dias que acordo muito bem, tipo aquela luzinha de sol que bate na janela, é bonito pra caralho! e noutros tô bem trevoso, noites mal dormidas, preguiça e saudades de viver em um mundo sem covid-19. Fico menos atento aos detalhes. E isso não significa que as mudanças não estejam ocorrendo, porque sim, estão. É preciso ter paciência pra perceber os detalhes. E se dar tempo, o exercício mais difícil nesse momento. Vivo entre a euforia da novidade e a calmaria do tédio. E tédio é foda.

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