Sobre príncipes da Disney e capas da Playboy

Jóice Bruxel
Revista Subjetiva
Published in
4 min readJun 28, 2017

Desde o princípio da nossa existência somos condicionados a modos de ser e estar no mundo. Aprendemos gostos, preferências e ideais. Somos seres culturais e a cultura e o meio em que vivemos está diretamente ligado a quem somos, ou melhor, da forma que nos conhecemos e reconhecemos no mundo e nos outros.

Nos relacionamentos não é diferente.

O que consideramos ideal foi pregado, construído e reforçado.

A imagem de homem ou mulher ideal é algo que constantemente nos frustra, porque simplesmente, ele não existe. Passamos a vida achando que a grama do vizinho é mais verde, porque incutiram na nossa cabeça que existe a perfeição e que precisamos, a todo o custo, possuir esta perfeição, como uma espécie de troféu ou honra ao mérito.

Grande parte dessa ilusão seria evitada, se não existem duas coisas: os príncipes dos filmes da Disney e as capas da Playboy

Vou explicar:

Nós, mulheres, assistimos desde menininhas filmes da Disney, que mostram príncipes encantados, com uma aparência maravilhosa, que aparecem montados em um cavalo branco para nos salvar dos males e nos fazer viver felizes para sempre. Sim, pasmem! Como se a nossa felicidade dependesse deles…

Os príncipes são homens ricos, moram em um castelo, são sensíveis, apaixonadíssimos, românticos e nos compreendem. Eles resolvem todos os nossos problemas, porque claro, nos filmes, as mulheres são frágeis e indefesas. É de rir e de chorar ao mesmo tempo. Mas é isso que aprendemos desde pequenas! Felizmente este cenário tem mudado bastante nos últimos tempos e vejo grandes melhorias nos tempos futuros. Mas inconscientemente, ainda buscamos o príncipe encantado, e nos frustramos quando nos deparamos com os sapos e ogros da vida.

Essa é uma foto minha de 2013 que o Facebook me recordou há alguns dias atrás e se encaixa perfeitamente nesta postagem. A legenda era a seguinte: “Beije sapos, mas não os engula!”

Mas está errado quem pensa que só nós, mulheres, somos condicionadas a ideais totalmente irreais, os homens também são! Homens são visuais por natureza, e desde cedo, são visualmente poluídos com as capas de Playboy super photoshopadas, que estampam mulheres gostosonas, com super peitos, bundas e coxas, barrigas super chapadas e sem o mínimo de imperfeições. Mal sabem os homens (ou ignoram o fato) que para as mulheres chegarem naquele “estado”, foram necessárias muitas horas de photoshop e de “reboco”.

A construção dos homens de “mulher ideal” se baseia em um modelo totalmente fantasioso, e quando se deparam com as mulheres reais, com corpos imperfeitos e um cérebro (uau, que descoberta!), se frustram, e muitas vezes até sentem medo.

Eles foram condicionados ao modelo do corpo cheio de photoshop e também ao modelo de mulher frágil e indefesa (mostrado nos filmes da Disney) e se deparando com uma mulher inteligente, cheia de opinião e poder, frequentemente se sentem ameaçados, e em alguns casos, até fogem. Podem também querer competir, humilhar, desvalorizar e fazer pouco caso, e tudo isso, para alimentar o ego e a figura de “macho alfa” que muitos fazem de si mesmos.

Antes de qualquer coisa, precisamos entender que as nossas preferências e ideais de perfeição não são nossos, foram construídos; eles não são reais e não chegaremos a eles, portanto, buscá-los encontrar no outro ou nos adaptar para sermos esse ideal para alguém, é mera utopia.

Precisamos olhar o outro com carinho, com empatia, e amar as particularidades. O amor não idealizado entre duas pessoas imperfeitas é o amor real. E o amor implica decisão. É necessário entender que amor também implica em escolher amar os defeitos, e que estes precisam ser vistos com suavidade e acolhidos com delicadeza.

Precisamos também, nos olhar com carinho. Nos olhar com apreço e admiração. Parar de nos culpar por não sermos perfeitos. De odiar nossos corpos. De ser insatisfeitos e ingratos.

Nós não somos perfeitos, mas somos especiais, da nossa maneira!

Passar a vida em busca de um ideal que é apenas uma criação da mídia e de diversos tipos de indústria (estética, farmacêutica, etc), que lucra com a sua (nossa) insegurança é cansativo, é pesado. E nós não precisamos carregar este peso!

Esqueça os príncipes da Disney e as capas da Playboy. Desconstrua. Use como nota mental:

Eles não existem!

Jóice Bruxel
Psicóloga CRP-12/15179
http://joicebruxel.com.br

Gostou desse texto? Clique no❤ e deixe seu comentário!

Não deixe de nos seguir nas redes sociais: Facebook | Instagram | Twitter.

Entre no nosso grupo fechado para autores e leitores.

Conheça o nosso podcast oficial, o Subversivo Podcast!

Quer escrever conosco? Confira o nosso Edital!

--

--

Jóice Bruxel
Revista Subjetiva

Psicóloga e escritora. Amante do frio, de pimentas, gatos e seres humanos. http://joicebruxel.com.br :)