Sobre resoluções negativas, ou o que (não) fazer em 2021

Julia Hor-Meyll
Revista Subjetiva
Published in
2 min readJan 29, 2021

(Imagem: Divulgação)

Janeiro de 2021. Quase um ano após o início de um cenário potencialmente pós-apocalíptico, com a iminência e posterior aprofundamento de uma pandemia ainda sem solução definitiva, interrupção de planos, intensificação de medos e ansiedade. Ainda me pergunto se a mudança de calendário representa um novo ciclo ou se é finalmente o momento de aprendermos a viver no presente, um dia de cada vez, porque tudo que temos — e que, apesar de ilusões do contrário, é só o que sempre tivemos — é o aqui e agora. Sem descartar a importância de se planejar, estabelecer e cumprir metas pessoais, talvez seja o momento de refletir não sobre aquilo de que ainda não dispomos, mas de que forma podemos melhorar determinados aspectos já presentes em nós, mas que — talvez — não tenhamos prestado tanta atenção. Olhar para a frente, sim, mas olhar para dentro também. Uma resolução para um novo dia, em vez de um plano completo e infalível para os outro 364, ou uma resolução do que não fazer até janeiro que vem.

Acredito que nossos parâmetros de virtude devem gravitar em torno de nossas próprias capacidades, limitações e singularidades, de modo que, se formos um por cento melhor do que fomos ontem, estaremos progredindo para criar uma vida mais significativa e próspera para nós mesmos e, consequentemente, para aqueles ao nosso redor. As várias promessas que costumamos estipular na virada de ano muitas vezes são abandonadas logo após a largada porque idealizamos planos que nem sempre condizem com o que nossa realidade permite no momento, gerando frustração e um sentimento de culpa que dizima qualquer disposição para buscarmos mudanças positivas. O caminho mais curto para minar qualquer chance de sucesso é esquecer que não se chega a lugar algum sem se dedicar ao processo. E o que é o processo? É cada pequeno passo que damos, ou cada engrenagem, ou cada novo bloco que acrescentamos a uma construção, sem o qual toda a estrutura desmoronaria.

Este é uma breve sugestão, ou, quiçá, um singelo apelo, para driblarmos juntos nosso instinto de autossabotagem e deixarmos ao acaso somente o indispensável para conferir leveza à vida. Se conseguirmos nos dedicar a cada dia com a mesma intensidade que nos entusiasmamos com o futuro, estaremos mais confiantes, disciplinados, motivados e menos suscetíveis ao abandono de metas e sonhos. Vivamos o presente. É o único momento que temos. E se você não está convencido…bem, o futuro vai chegar de qualquer forma. Melhor fazermos o que pudermos com as ferramentas das quais dispomos. (Agora.)

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Julia Hor-Meyll
Revista Subjetiva

leitora, escritora, aspirante a roteirista, tradutora, uma amante das palavras. // reader, writer, aspiring screenplayer, translator, a lover of words.