Solidão coletiva — Selvageria Urbana #3

Alvaro C. Adriano
Revista Subjetiva
Published in
6 min readJun 12, 2017
Foto reproduzida da Internet.

Téo gosta da Lena, mas ela gosta do Paulo, que gosta da Dina, mas Dina ama o Fausto, e ele ama a mulher do irmão, que sabe que não pode.

Todos estão em uma festa dos sonhos, se divertindo o máximo possível, para tentar esconder a tristeza da forte dor de amar sem ser amado, que nem os sorrisos e os brindes glamourosos conseguem aliviar. Estão todos ligados pela mesma força poderosa: o amor não correspondido e a esperança de conseguir fazer germinar na pessoa amada o mesmo amor que eles nutrem em abundância.

No palco, no controle da festa está o DJ, se dedicando no seu limite para fazer daquela festa memorável, selecionando criteriosamente cada música, de modo que os mais atentos podem perceber não só a adrenalina e alegria do bom som, mas também as lindas mensagens de amor que ele, subentendidamente, enviava para o seu grande amor, desde a infância, a linda Tânia, que desfilava e dançava sozinha no centro do salão, despojada.

O DJ ficava ainda mais animado, a cada gingado que ela dava, com um olhar que de tempos em tempos se encontravam, assim pensava o DJ. Mas, na verdade, Tânia estava a olhar para o garçom que a estava servindo no camarote que ficava bem atrás do palco, como se fosse um backstage.

O garçom olhava para Tânia, mas não a via, para tristeza dela, pois sua mente, coração e alma estavam focados em uma garota da sua igreja, que estava noiva do filho do pastor, mas ela era a paixão secreta do garçom que apenas queria ganhar dinheiro, para surpreender sua amada, na tentativa de conseguir roubar seu coração.

Mesmo sentido uma forte dor de amar sem serem amados, vivendo a dura realidade, mas a possibilidade da fantasia se realizar, mantinham acesa a chama da felicidade em seus corações, pois ainda havia esperança. E nada melhor que uma festa para conquistar a pessoa amada com um bom ritual do acasalamento, também conhecido como “dança”.

Então, Fausto depois de alguns copos decide tomar uma decisão e se dirige para falar com a sua cunhada.

— É hoje ou nunca. — Repetia para si mesmo, diversas vezes.

Chegou até ela e a pediu para dançar.

— Vamos dançar? — Disse Fausto.

— Sim. Vamos sim. — Respondeu a cunhada.

Enquanto dançava, Fausto começou a se declarar para ela, fazendo com uma voz sexy e acariciando o corpo dela. Mas ela não gostou da ideia, parou a dança e o empurrou gritando:

— O que é isso? Me respeite! — Em seguida saiu andando.

Fausto ficou no meio do salão, enfurecido.

O empurram e os gritos da amada que foram mais altos que a música, mataram a sua esperança. Então, ele decide se entregar ao jogo da sedução, na tentativa de apagar a rejeição que recebeu.

Sai em disparada, em busca da primeira mulher que achasse atraente e a que mais lhe chamou atenção foi Lena.

— Oi, tudo bem? — Disse Fausto.

— Tudo sim. — Respondeu Lena.

— O que uma joia como você faz sozinha? — Perguntou ele.

— Estou ocupada, por favor, me deixa sozinha. — Respondeu Lena, já desviando o olhar para Paulo.

Fausto não gostou da atitude e ficou nervoso. Pensou: “Primeiro a minha amada, agora essa daqui que seria apenas para o gasto.” Mas não se conteve apenas em pensamentos e gritou com Lena.

— Quem você pensa que é para falar assim comigo?!

Lena se chateia e, sem falar nada, atira a bebida que estava em sua mão no rosto de Fausto.

— Seu idiota, retardado. — Retruca ela.

Enfurecido, Fausto a puxa pelos cabelos. Téo, que estava perto olhando tudo e planejando como chegar no coração da amada, prontamente a defendeu. Mas, insatisfeito, ele começa a bater em Fausto, que mal sabia brigar com um homem de seu tamanho, mas com mulheres se sentia valentão.

Do outro lado estava Dina, que morria de amores por Fausto, e ao presenciar tudo primeiro chama o segurança e, em seguida, decide entrar na briga, puxando Lena pelos cabelos e gritando:

— Sua puta, isso tudo é tua culpa.

— Puta é você, que vem lutar por alguém que não te quer — Respondeu Lena.

Chegaram mais seguranças e começaram a tirar todos.

Enquanto os briguentos estavam sendo expulsos, o garçom olhou para a porta e ficou acompanhando com o olhar a saída deles, mas neste percurso um casal que estava aos beijos chamou a sua atenção. Para confirmar quem era, ele foi se aproximando cada vez mais, até chegar perto da Tânia, que achou que ele estava indo falar com ela, pensando que finalmente ele tinha entendido o charme que a muito ela vinha jogando para ele.

Infelizmente, a realidade era diferente, o garçom queria confirmar quem era a menina que estava aos beijos. Chegando mais perto, ele viu que era a garota da igreja, beijando um outro homem que não era o noivo dela.

— Vida de cão. — Gritou o garçom.

Em seguida, apenas deixou a bandeja que carregava cair e falou:

— Foda-se, cansei de esperar vou embora desta merda.

E saiu murmurando ofensas ao mundo e a Deus.

Cada passo que ele dava a esperança de uma final feliz para Tânia ia diminuindo e desaparecendo até finalmente sumir pela porta.

Tânia abaixa a cabeça e em voz alta decide:

— Se não posso ter quem eu quero, pelo menos vou ter uma boa noite de prazer. Quem não tem cão caça com gato.

Levanta a cabeça e começa a procurar um homem solteiro. Vê um homem no canto sentado e vai falar com ele.

— Oi tudo bem? Disse Tânia,

— Oi, tudo sim. E com você? — Respondeu Paulo.

— Tudo sim. Posso me sentar contigo? — perguntou Tânia.

Mas antes que Paulo respondesse, ela já tinha se sentando e lhe deu um beijo, que foi retribuído calorosamente.

De lá do palco, o DJ viu tudo e se sentiu um lixo, afinal de contas a única pessoa que ele queria agradar, não estava nem aí para ele. Se distraindo com a cena, derruba o computador, paralisando o som.

Tânia aproveita que a música parou e convida Paulo.

— Vamos embora daqui?

— Agora? — Perguntou Paulo.

— Sim. Agora.

Enquanto o DJ tentava voltar com a música, eles se retiravam da festa.

Pouco tempo depois, eles estavam na casa de Paulo. E para alegria dos dois tiveram uma noite maravilhosa de sexo, mas apenas sexo, sem amor, sem paixão. E depois dormiram.

De manhã os dois acordam e não se reconheciam.

Tânia olhou para Paulo e pensou: “Até que não é feio, mas eu preferia o meu garçom gato.”; Coincidentemente Paulo fez o mesmo. Olhou para ela e pensou: “Não é a Dina, a baixinha do meu coração, mas o sexo foi bom.”.

Paulo interrompe os pensamentos.

— Então, querida, tens de ir, porque tenho que sair para ir trabalhar.

— Mas hoje é domingo. — Disse ela. E em pensamentos concluiu, está me dispensando para ficar sozinho, conseguiu o que queria.

— Trabalho no domingo.

— Sério? O que você faz?

— Sou barman.

Tânia fica pasma ao ouvir, pois, apesar de não ser a paixão dela, a vida trouxe para ela outra surpresa. Então ela fala:

— Quem não tem garçom se vira com o barman.

Minutos depois ela sai e tudo volta a ser como era. Ao velho ciclo de amor não correspondido de pessoas que apesar de estarem próximas, são coletivamente solitárias.

Como dizem os franceses: “C’est La Vie” (“Esta é a Vida”).

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Alvaro C. Adriano
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Sonhador, Escritor Sem Obra, Atleta Da Vida, Artista em construção!