“Sorte”: uma história sobre destino e mulheres

#LeiaComASubjetiva

Thaís Campolina
Revista Subjetiva
2 min readAug 5, 2020

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Sorte é uma palavra constantemente ligada à destino e, por isso, um ótimo título para um livro que busca contar uma história que poderia ser a de várias mulheres esquecidas que nunca puderam atuar ativamente para mudar os caminhos que foram traçados para as suas vidas quando elas nasceram. Caminhos esses que foram definidos por fatores como nascer mulher, nascer branca, negra ou indígena ou vir de uma família pobre.

Com apenas 95 páginas e nomeado com essa palavra de cinco letras e profundo significado, esse livro de Nara Vidal, brasileira hoje radicada na Inglaterra, narra uma história que nos faz refletir sobre as dores que a pobreza, o machismo e a colonização trouxeram para as mulheres.

Focado em Margareth Cunningham e sua família, mas com grande participação de Mariava, uma escrava negra que trabalha na mesma casa portuguesa que as irlandesas, o romance fala sobre imigração, violência, sororidade e exploração dos corpos das mulheres, abordando de forma sutil as diferenças dessa exploração entre mulheres negras escravizadas e mulheres brancas pobres e imigrantes.

A família para a protagonista não se apresenta como um espaço de conforto, companheirismo e amor, mas como um local de disputas, abandono e dor. Apesar de haver um carinho entre as irmãs, os homens da família parecem pertencer ao grupo apenas como detratores de todas as mulheres dali. O pai, por exemplo, insistiu em tentar ter filhos homens a todo custo, porque as várias filhas mulheres não serviam para ele.

O livro se baseia em fatos históricos, como a Grande Fome na Irlanda, a escravatura no Brasil e a existência de conventos católicos irlandeses que “acolhiam” mulheres caídas e cria, a partir disso, um romance que é marcado também pelo não dito, como toda a história das mulheres. Sem perder a chance de demonstrar o quanto o catolicismo, forte nos países que atravessam a vida dessa família, atua e afeta na vida das mulheres.

A partir de uma narrativa unida pelo compartilhamento de uma história sobre uma ilha mágica de esperança, fantasia e mentira, Nara Vidal escreveu sobre essas mulheres — e seus filhos — esquecidas e esquecidos enquanto personagens e pessoas, essas pessoas que ainda moram, na história oficial, na literatura e até nas histórias populares, no lugar anônimo reservados às Outras e Outros. O livro levou o terceiro lugar do prêmio Oceanos em 2019 e foi publicado pela Editora Moinhos.

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Thaís Campolina
Revista Subjetiva

leitora, escritora e curiosa. autora de “eu investigo qualquer coisa sem registro” e “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija” https://thaisescreve.com