Tanta coisa bo(i)a por dentro.
Depois de anos sem pisar ali, estava de volta. Algumas barracas mudaram de lugar, as pessoas também eram outras pessoas e os prédios engoliram por completo os bares de pau-a-pique na orla. Correr até a beira d’água com os pés ardendo e marcando a areia era uma coisa que se perdeu em algum lugar da passarela de cimento.
O cheiro de praia — uma combinação de sargaço, fritura e protetor solar — me deu carona até o momento em que estar ali fazia algum sentido. As nuvens eram cavalos, baleias, homens; e o futuro, só uma promessa sem data pra chegar.
Sentei na areia tentando me reconectar com todo aquele sal, mas o tempo passou de verdade e o tempo dos meus dias era seco e denso.
Entrei no mar como quem anda pela primeira vez, sem saber o que esperar do próximo passo. Ele tocou meus tornozelos reconhecendo a pele, que retribuiu em arrepios. Dei o primeiro mergulho com algum respeito: a intimidade foi crescendo à medida que as ondas abraçavam minhas costas.
Passando da rebentação, soltei o corpo e olhei em direção ao céu. Cavalos e baleias dançavam às vistas dos homens outra vez.