Essas palavras são dedicadas a um escorpiano cem vezes mais intenso do que eu.
Ah! Ele também não tolera pedestais.
Me lembro da primeira vez que nossos olhos se cruzaram e eu senti a minha alma oscilar feito uma vela próximo a uma corrente de ar.
Você foi a corrente de ar que atravessou o meu corpo ardente.
Eu te quis por perto a todo instante.
O meu erro foi supor que você não notava essa admiração estratosférica que eu sentia por ti.
Bem, você não só percebeu, como se aproveitou do meu afeto.
Te dei um lugar privilegiado na minha vida e me arrependi quase que instantaneamente.
Te apresentei os lugares mais inacessíveis que existiam dentro de mim.
Eu te coloquei acima de todas as coisas.
Visão privilegiada.
Pedestal.
Eu não hesitei.
Mas você vacilou.
Abri a exceção-da-exceção-da-exceção apenas para acordar um dia e me deparar com um estranho ao meu lado.
Lá no fundo eu queria te olhar de igual para igual.
Olho no olho.
Ombro no ombro.
Contudo, você gostou deste lugar inusitado e único que eu criei para você, então, tive que te olhar sempre aqui de baixo.
Você me olhava de cima pra baixo e eu achei que era digno disso.
Errei tentando acertar.
Me feri em busca de um “certo” que não existia.
Nunca passou pela sua cabeça se relacionar com alguém igual a você, pois você não se suporta.
O silêncio fez morada dentro do seu peito, portanto, quando falo contigo, o que escuto é o eco dos sentimentos reprimidos e de tudo que poderia ser e nunca foi.
Com um golpe de amor próprio, eu parti o pedestal em dois!
Você se estatelou no chão, me arremessou um olhar assombrado e fugiu.
Típico!
Ao menor sinal de sentimento, eu me jogo de cabeça.
Ao menor sinal de comprometimento, você sai de fininho.
Como pude te deixar lá no alto por tanto tempo?
Por que você precisava estar lá e eu aqui?
Gostar de alguém não deveria ser uma queda de braço ou uma complicação sem fim.
Neste instante, eu olho para você e… e… sinto um imenso vazio.
Agora eu compreendo a sua essência.
O seu frio jamais poderá me corroer, pois dentro de mim há uma chama que nunca se apaga.
Ela se chama “esperança”.
Que mecanismo afetivo maluco esse tal de “pedestal”… ao analisar friamente, fico chocado com a minha capacidade de tirar algo de mim para dar ao próximo.
Quanto maior o pedestal, menor é o amor próprio. Preciso que você se retire.
Amo seu perfume, o formato dos seus lábios, aquela risadinha que você dá quando fica encabulado e até mesmo o seu olhar preocupado me encanta.
O desejo que sinto por você transcende as noções de certo e errado, porém, você quis que eu abdicasse de mim e isso jamais acontecerá.
Eu pago um preço muito alto pela minha intensidade, mas jamais lhe cobrei nada. Isso sim é amor de verdade, não o que você me deu.
Faça um favor a si mesmo e despeje os seus escombros emocionais em outro lugar, não tenho tempo para palavras e sentimentos fragmentados.
E leve o pedestal junto com você, pois ele não tem serventia alguma para mim.
