Tempo de sobra e pouca leitura, os males da internet são

Carolina Bataier
Revista Subjetiva
Published in
3 min readOct 18, 2017
Globo News

Essa imagem, de uma pesquisa da Globo News, vem circulando pela internet desde que os casos recentes trouxeram a arte para a pauta do debate cibernético. Elitização do conceito de cultura à parte, salta aos olhos o último dado: 70,1% não leem livro.

Não porque ler seja a prova máxima da capacidade intelectual. Minha avó nunca leu um livro e é uma das pessoas mais inteligentes que conheço. Tem uma inteligência aplicada ao que lhe é necessário: a vida no campo. Ali, entre espécies de plantas e pássaros, ela reina. A grafia correta, diante de tanto conhecimento, é mero detalhe.

Mas o déficit da leitura vira problema quando falamos de jovens alfabetizados e com acesso à internet. Eles têm palavras nas pontas dos dedos e não sabem articulá-las. Recebem todo tipo de informação: de nome de pássaro à situação política do Afeganistão, mas não são capazes de filtrar, avaliar, compreender e diferenciar, por exemplo, opinião de fato.

Interpretação de texto é difícil. E quem não lê, não interpreta. Já vi gente escolada, pós graduada, fluente em 3 idiomas, leitora regular, patinando na interpretação. Imagine, então, quando o sujeito passa longe que qualquer discurso que se alonga por mais de duas linhas.

Os resultados da negligência com o saber letrado têm sido postados em forma de comentários na internet diariamente. O caso da vez é o documentário, financiado pela Avon, que pede para que repensemos os elogios. Repensar. Re-pen-sar.

Não é apagar, esquecer, mudar a própria vida para todo sempre, entregar os futuros filhos para o capeta criar numa suruba. É, apenas, repensar velhos conceitos. Uma proposta valiosa numa sociedade que precisa olhar para os indivíduos com mais respeito.

O trailer foi postado no canal da marca no Youtube e, 8 dias depois e ainda sem divulgação oficial, havia recebido 45 mil dislikes e 4.942 comentários, a maior parte deles reprovando a campanha. Reprovar faz parte. Argumentar com coerência é arte.

Uma moça diz: “Meninas são princesas, sim!”. Outra protesta: “ Isso é ridículo, tenho nojo dessa ideologia. Vocês deveriam se preocupar em fazer produtos de qualidade e não destruir nossas crianças”. Um movimento em massa para demonstrar descontentamento quando uma marca de maquiagem lembra que meninas nem sempre gostam de ser chamadas de princesa.

O que me incomoda é também o que me traz esperanças. Numa leitura dinâmica dos comentários, percebe-se que a maior parte vem de pessoas de pouca idade. Dois lados da moeda: gente jovem, on-line, com tempo livre, mas que não lê. No entanto, gente jovem que tem uma vida inteira pela frente a ser preenchida, quem sabe, por boas leituras, novos pontos de vista, parcimônia, bons amigos, muitas surpresas e decepções consigo mesmo e com as pessoas que os cercam. Afinal, ninguém garante que um dia não teremos uma filha que vá olhar nos nossos olhos e dizer: mãe… princesa, não

*A foto lá em cima é do Facebook do Marcos Vinícius Almeida

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