Tenho o infeliz hábito…

Léa Yasnaya
Revista Subjetiva
Published in
4 min readJun 18, 2019

…de esquecer algo muito fácil, uma ideia, uma compreensão, deve ser da minha natureza, uma parte da minha personalidade, aquela que não tem muita consciência do que está vivendo.

Tive um dia especial, daqueles que preciso escrever, nem tanto para que me leiam, mas para lembrar do que senti.

Assisti “Joy — O nome do sucesso”

Tinha lido Surpreendente, do Mauricio Gomyde.

A história de um livro, um filme e um momento que se cruzam e projetam assim, bem na minha frente, o lado bom da vida.

Peguei um ônibus para o trabalho, ficou bem cheio como sempre, veio uma garota e uma mochila nas costas, toquei em seu braço e perguntei se ela queria que eu segurasse, em resposta ela me deu um sorriso que foi tão inesperado, gentil e sincero que fiquei constrangida, mas que aqueceu meu coração; peguei a mochila e baixei a cabeça, depois olhei pela janela pensando por que isso me atingiu daquela forma.

Então vi que é raro demonstrar afeto, assim tão genuíno, sob qualquer forma com alguém que você não conhece. Essa garota plantou uma semente em mim.

Sobre o filme:

Jennifer Lawrence tem um talento, um poder, uma presença tão marcante na sua atuação que ofusca. Seus coadjuvantes são tão coerentes em seus papéis que não existe outra escolha.

Joy é uma inventora desde pequena, e sempre foi influenciada por sua avó na ostentação dos seus sonhos, no entanto, “a vida é colorida, mas a realidade é um preto e branco”, por isso Joy vive as consequências de suas escolhas e das pessoas a sua volta. Porém, é uma mulher forte, em contraste à sua vida bagunçada.

Determinado dia, inventa um tipo de esfregão, a partir daí, nem minhas teorias mais criativas atingiriam os diálogos, as cenas, o roteiro dessa história incrível. Não sou nenhuma crítica de cinema, veja bem, mas sei dizer exatamente o que senti, e isso pra mim é “Cinema Felicidade”, aquele que te toca profundamente, que é espelho, que mostra caminhos e lições.

Uma das partes que mais me tocou foram as opiniões das pessoas em seu círculo, uma lufada de opiniões divergentes, e a maioria pessimista, porém Joy tão convicta do que deseja, muito além das pessoas que a cercam, toma suas decisões. Sua escolha, sua visão, seu senso de integridade, responsabilidade, e acima de tudo sua inteligência, demonstram quem ela é. E ela é uma força da natureza!

A outra parte foi uma que sei bem como funciona: vender.

Certa vez em um curso no SEBRAE tivemos a tarefa de vender um produto e meu professor disse: não se iludam com as vendas do primeiro dia, porque no outro não pode ser a mesma coisa. E foi exatamente o que aconteceu, fomos vender água mineral e vendemos todo o estoque rápido, porém, no segundo dia foi um fracasso total. A sensação foi horrível e a partir de hoje não vejo mais um vendedor de rua com os mesmos olhos, é difícil, muito difícil convencer alguém a comprar. Joy demonstra bem tudo isso e eu pude reviver.

Algumas das frases que escrevi entre aspas e outras paráfrases, acima, inclusive algumas estão nas entrelinhas, se alguém leu o livro vai entender, foram tiradas e inspiradas na grande surpresa que Surpreendente — o livro do Mauricio Gomyde — foi para mim. Nas chances, nas oportunidades e escolhas, mas acima de qualquer sentimento e causalidade da vida, saber que a escolha será sempre minha.

Surpreendente conta a história de Pedro, um cara super otimista, aquela pessoa que se existisse você gostaria de ser amiga(o) - e crush - ama cinema, tem um roteiro a ser produzido e outro planos, mas então vem a vida, destrói suas perspectivas, abala seu otimismo; a doença que antes foi estabilizada, volta, a partir daí começa sua busca, inclusive pelo que ele ainda nem sabe.

Ele não desiste.

“- Aqui começa o maior filme de todos os tempos sobre as chances que o mundo coloca na vida das pessoas. Que as lições sejam aprendidas e voltemos milhões de vezes melhores do que quando partimos. Apenas os fortes sobrevivem, porque, mesmo a estrada sendo longa, já dizia o poeta: “Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como.”

Eu estava no ponto de ônibus, indo para casa, um garoto estava vendendo Ruffles, tinha uns 17 anos, semblante cansado, mas com aquela força da Joy, mostrando à vida que ele está escolhendo um caminho diferente frente à sua realidade, como no livro “Surpreendente”. Ele estava ali lutando, tentando convencer alguém, já às oito da noite.

Eu queria comprar a mini Ruffles de R$ 1,00 real, mas eu tive receio, por sua aparência. Depois de andar pelo ponto de ônibus todo, ele parou na minha frente e me ofereceu, eu sorri, aquele sorriso da garota do ônibus, agradeci, mas disse que não tinha dinheiro(mentira), então, ele disse que era de graça e me estendeu uma, fiquei constrangida, mas peguei e agradeci, ele foi embora.

Depois dessa experiência, depois de conectar os pontos com esses momentos na minha cabeça, cheguei em casa feliz, mesmo com o doce amargo, sabia que deveria ter feito mais por ele, mas aprendi, vi que a semente que a gente planta não é por acaso, e elas estão nos gestos simples, em um sorriso de incentivo, na arte, no elogio, na percepção… Mesmo que possa parecer pequeno, é vital, somos seres humanos e coexistimos neste planeta, estamos ligados por essa teia invisível, nós somos laços, somos apoio um do outro.

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