“thank u, next”

Superando um pé na bunda com Neurociência, Clodovil, Ariana Grande, Tuyo e Estoicismo

Luiz de Souza
Revista Subjetiva
7 min readDec 3, 2018

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Na foto, cena do clipe “thank u, next”, de Ariana Grande / Foto: Reprodução (Google)

*Aparentemente nada que está presente neste título possui alguma relação direta. No máximo, o estoicismo e a neurociência podem ter alguma proximidade (mas não muita, olhando de forma superficial). Prometo que no fim desse texto tudo vai fazer sentido.

No momento, eu me coloco como um médico que receita aquele remédio amargo, mas eficaz.

Oficialmente, levei 3 grandes pés na bunda que me marcaram de alguma forma, até hoje. No primeiro, sofri mais do que o necessário, o que me fez decidir ser mais pragmático a partir de então. No último, evitei um pouco mais as músicas que me lembravam o desgraçado, e evitei também me deixar pensando nele mais do que deveria — embora fosse bastante complicado.

Evitei escrever e ler aqueles textos melosos sobre término. Hoje em dia eles costumam me dar um certo enjoo só de começar a ler. Se não existe uma base realmente racional, as palavras soam como um emaranhado de clichês. Tudo é muito meloso e sentimental.

Pra superar a dor de cotovelo eu andei investindo em leituras que tivessem como base estudos científicos. A lógica veio logo depois e complementou a receita.

Como, realmente, superar um pé na bunda?

1° etapa: Encare os fatos

Antes de tudo, é importantíssimo que você entenda que passar por um pé na bunda pode ser menos complicado, racionalmente falando, do que parece.

Você foi abandonado. Ponto. Não há muito o que se fazer.

Ok que cada caso é um caso, mas aqui eu falo daquele momento em que te disseram que não gostam mais de você e que não querem mais seguir contigo ao lado. Em meses de terapia, eu aprendi que a gente deve contar com aquilo que é dito, e somente isso. Lição super valiosa (inclusive pra diversos pontos da vida), e a gente já começa a receita desse bolo de superação através disso. Se te disseram que não querem mais estar com você, leve a sério. Nada de pensar que “não, mas talvez ele/ela volte e…”. Se ele/ela voltar e te falar que ainda gosta de você, aí sim você trabalha com essa informação. Mas se esse não é o caso, então não, ele/ela não te quer de volta. Trabalhe com o que é real e só.

(Desculpa ser cruel nesse momento. Mas o choque de realidade é necessário).

Pra te ajudar a encarar os fatos, trago essa música incrível do grupo Tuyo, que arrasam numa sofrência indie-pop-vibes-Brasil.

“Eu posso ser muito idiota, muito negativa, […] a rainha do planeta, o príncipe encantado, a vilã da novela, eu posso ter um monte de dinheiro, viajar o mundo inteiro, te chamar pra ir comigo… Mas nada disso vai fazer você me olhar, mas nada disso vai fazer você se apaixonar por mim […]”.

Aguenta, coração.

2° etapa: (Sofra, mas não muito, e) ACEITE

A partir do momento que você começa a encarar a realidade, é necessário entender como trabalhar a sua dor. E, bem, não existe uma receita exata pra isso. Eu aproveito a deprê e me jogo em Silva cantando Marisa, uns sertanejos universitários até, e, em casos especiais, Adele. Às vezes escrevo, também. Mas chega um momento que você vai cansar de sofrer. Das últimas vezes, eu nem me deixei sofrer muito, inclusive, porque não aguento mais perder tempo sofrendo. Tão pouco tempo e a gente gastar pensando em alguém que não quer estar com a gente? Não mesmo! (Aquelas tias conselheiras).

O baile tem que seguir, e pra isso é necessário transformar em mantra as palavras do sábio Clodovil, nessa entrevista maravilhosa no Planeta Xuxa:

“Eu acho bobagem você sofrer por coisas que você não pode resolver, a gente tem que fazer da vida da gente uma coisa bonita, uma coisa boa.”

Ainda vou citar outro trecho dessa entrevista, mas, por enquanto, a gente foca no que ele falou logo no início do vídeo acima. Basicamente, o que Clodovil citou foi uma premissa estoica. Eu, enquanto leigo em estudos de Filosofia, me atrevo a dizer que é estoicismo puro esse tipo de pensamento.

O estoicismo é uma doutrina fundada por Zenão de Cício (335–264 a.C.), mas que foi desenvolvida por vários filósofos. Para os estoicos, ser feliz é não se deixar perturbar e aceitar de forma resignada o destino. Resumindo: não sofrer pelo que não se pode alterar.

Existe um grande problema nesse ponto que é o fato de não podermos sempre controlarmos aquilo que sentimos. Afinal, se controlássemos de forma completa, não sentiríamos mais amor/paixão por alguém que não nos quer por perto. Mas… Será que não dá pra controlar nem um pouquinho?

Aqui, eu entro com a neurociência. Em alguns vídeos do canal NeuroVox, o neurocientista e pesquisador filiado ao Laboratório de Neurociências Clínicas (LiNC) da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Pedro Calabrez Furtado, fala sobre amor, paixão e o que acontece com o nosso cérebro quando estamos apaixonados por alguém.

O que a neurociência indica sobre estar apaixonado é que esse processo é muito parecido com o vício em alguma substância. Assim como uma droga, tipo o açúcar, ou a cocaína (vai saber como funciona pra você…), a pessoa por quem nos apaixonamos causa em nós a sensação de bem estar. Quando estamos afastados da pessoa por quem sentimos esse tipo de afeto por muito tempo, obviamente, vamos passar por algo como uma crise de abstinência.

E daí procuramos todas as formas de encontrar a substância/pessoa amada, que vai nos dar a sensação de bem estar. É aí que chegamos a fazer algumas loucuras, vibes quando o usuário de alguma droga resolver vender a geladeira da sua própria casa. Exemplo disso é criar perfil fake pra stalkear alguém no Instagram, por exemplo — não que eu já tenha feito isso (rsrs risos nervosos).

E agora a gente chega na resolução do que a neurociência indica que façamos para fugir dessa espécie de dependência química. O que você deve fazer é: esquecer.

3° Etapa: Apenas ESQUEÇA

Ok, esquecer não é tão simples assim. Mas você pode ao menos se esforçar para entrar cada vez menos em contato com coisas que te façam lembrar da pessoa, infelizmente, ainda amada.

Abandone as músicas do casal. Abandone as sofrências também, depois de sofrer o suficiente. Evite olhar mensagens antigas. Apague estas mensagens, se possível. Não fique sozinho ou em casa sem fazer muita coisa. Evite desabafar constantemente sobre o que sente (isso é bom pra você e os seus amigos vão agradecer também). Ah! E evite falar sobre o dito/a cujo/a. Se afaste de todas as formas possíveis. Tomar atitudes como essa vão te ajudar a esquecer, mesmo que lentamente, e superar melhor a sua situação.

Embora sofrer seja uma posição relativamente cômoda, já que criar estratégias para esquecer exige um esforço maior que dá play em Adele no Spotify, eu te apresento um motivo muito bom pra começar esta terceira etapa. Essa foi uma das falas de Clodovil na entrevista acima:

“Tenho pavor de gente que sofre porque quer uma pessoa que não a quer. Sabe esse tipo de gente que fica correndo atrás de uma pessoa que não a quer?… (Xuxa: você nunca fez isso??) Ah, mas não faço, nunca fiz e nem vou fazer, Deus que me livre! Eu tenho vergonha na cara! Imagina se eu vou gostar de uma pessoa que não gosta de mim? Eu quero é que ela faleça.”

Bom, eu não recomendo desejar a morte de ninguém (e claro que Clodovil foi hiperbólico aqui). Não é nada saudável. O que você precisa fazer é: deixar de alimentar os pensamentos que te fazem querer puxar o celular e mandar uma mensagem pra quem não deveria recebê-la.

Outra verdade maravilhosa que Clodovil deixou, para nós, mortais, foi:

“Agora, não tem obrigação nenhuma de gostar de mim, isso não, isso é outra história… agora, gente que mendiga afeto, isso é um absurdo!… Deus me livre, nem pensar. Amor é uma coisa somada, não dividida.”

Aqui a gente encontra duas lições incríveis que se misturam. As pessoas tem o direito de não gostar (mais) de você, e você não precisa mendigar o afeto de ninguém.

Você não é perfeito e nunca será. Aceite isso. Saiba que você vai agradar e desagradar muita gente. Abrace a si mesmo como você realmente é. Eu sei que esse parágrafo tá parecendo uma sequência mal organizada de clichês, mas lembre-se que não dá pra forçar, como diz a música de Tuyo. Seja lá o que você fizer, não vai trazer a pessoa amada de volta. Pelo menos não sem apelar pra algum feitiço ou coisa parecida (não recomendo).

Concluindo o que a gente viu até aqui, o passo a passo não é necessariamente difícil de compreender e assimilar. Em alguns pontos sim, porque fere o nosso ego; mas de forma geral, é fácil de compreender. Encare os fatos. Você foi deixado, e tá tudo bem. Isso não faz de você uma pessoa pior ou melhor. Fazer um balanço final é super importante, e aprender com isso é extremamente válido. Mas não se culpe, e entenda que as pessoas podem sim perder o interesse em você, e mesmo assim você continuar sendo maravilhoso/a. Absolutamente todo mundo já levou um pé na bunda (estando em um relacionamento afetivo ou não); com você não vai ser diferente. Por isso, sofra, mas se esforce para aceitar que você foi deixado/a. Por fim, após assimilar e decidir não sofrer mais porque você tem mais o que fazer da sua breve vida, decida também se permitir esquecer. É difícil, mas não impossível, e vai ser extremamente saudável tomar essa decisão.

De bônus, eu trago um último conselho:

Como decretou a querida Ariana Grande, seja grato pelo que aprendeu com o seu ex. Sejam eles saudáveis ou não, os relacionamentos afetivos nos trazem a oportunidade de aprendermos muito sobre nós mesmos, sobre a vida e sobre como nós, humanos e mortais, agimos, e o que procuramos de verdade. Aproveite as oportunidades que a vida te dá pra amadurecer. De verdade. Isso faz uma diferença tremenda. Ah, e boa sorte!

Lembra que é só uma fase, e vai passar logo logo :)

Alterno entre escrever microcontos e falar bobagem, no Twitter: twitter.com/agorasouluiz

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Quase formado em Letras pela UFRPE, o autor deste texto acredita que será um escritor decente em menos de três vidas.

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Luiz de Souza
Revista Subjetiva

Formado em Letras pela UFRPE. Alguém com licença poética pra escrever errado as coisas certas — do jeito certo. Atualizações twitter.com/agorasouluiz.