“Todas as cores do Natal”: clichês e representatividade | #LeiaComASubjetiva

Carol Vidal
Revista Subjetiva
Published in
3 min readDec 24, 2019
Foto: Carol Vidal

Eu não sou o tipo de pessoa que costuma fazer leituras “temáticas” nessa época de Natal. Porém, por algum motivo, nunca consegui ler a coletânea de contos “Todas as cores do Natal” fora dessa época (e ano passado esqueci de colocar na lista de leitura quando chegou dezembro). E a melhor decisão que tomei foi esperar o fim do ano para conhecer essas histórias.

Lançado pela Agência Página 7, “Todas as cores do Natal” reúne cinco autores nacionais contemporâneos para dar a sua visão sobre esta festa que está presente no nosso cotidiano, quer queiramos ou não. E o melhor: todos os protagonistas são pertencentes a alguma “letra” da comunidade LGBTQ+ e todas as histórias se passam no Brasil.

A representatividade é o primeiro fator que chama a atenção no livro. Há inúmeras histórias por aí que se passam no Natal (sei, inclusive, de gente que gosta de fazer maratona de filmes e especiais temáticos). Porém, a maioria delas vai representar apenas uma parcela da sociedade. Por isso, por mais que você já não aguente mais esse tipo de histórias, “Todas as cores do Natal” pode te surpreender.

A diversidade da coletânea não está apenas nos personagens dos contos, mas também dos autores. Todos eles são LGBTQ+ e, a partir de uma perspectiva pessoal, dão a sua visão sobre como uma história de Natal deve ser. Assim, temos contos com diversos estilos e gêneros, culminando num todo de muita qualidade e para todos os gostos.

Histórias de Natal podem ser repletas de clichês, mas isso não precisa ser, necessariamente ruim. “A Aventura do Peru de Natal”, de Lucas Rocha, tem todo o clima de uma comédia romântica: passar vergonha na frente da pessoa que você gosta, perder a hora, tomar chuva e ter que correr pra salvar a ceia de Natal… Mas a diferença aqui é que todos esses elementos ganham nova vida quando são protagonizados por dois rapazes.

É o mesmo caso de “Vinte Bombons de Banana”, de Vitor Martins, que traz o clássico amigo secreto para uma história divertida e apaixonante de um menino aprendendo que ele pode ser aceito por ser quem é. Família e amizade dão o tom da história, assim como em “Os Quinze Natais de Benedita”, de Mareska Cruz, cuja protagonista relembra sua trajetória enquanto tenta aplacar antigas dores para voltar a se apaixonar por essa que sempre foi a sua época preferida do ano.

A ficção especulativa também tem vez em uma história de Natal. “Garotas Mágicas Super Natalinas”, de Bárbara Morais, traz elementos fantásticos em uma aventura que prende do início ao fim e deixa claro que há diversas formas de amar. Já “Entremarés”, de Alliah, aborda o tema ambiental durante uma viagem em família no fim do ano. Esse foi o conto que mais fugiu da minha zona de conforto, por não ser o tipo de história que costumo ler, mas, passado o estranhamento inicial, consegui mergulhar na trama e torcer que os personagens conseguissem ter o Natal em paz.

“Todas as cores do Natal” vem para provar que mesmo as histórias mais conhecidas sempre podem ser contadas de uma outra maneira e surpreender. Não precisa, necessariamente, ter neve e frio pra um conto de Natal ter validade — nossa realidade também oferece muitos elementos que são ricos em possibilidades. Para quem está procurando uma boa leitura para sentir acolhimento e ainda se divertir, essa é uma ótima pedida.

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Carol Vidal
Revista Subjetiva

Carioca que mora em Salvador. Escritora e podcaster que ama cozinhar (palavras e comidas). Conheça meu trabalho: linktr.ee/carolvidal_