Um café e um amor
Ô, moço,
Tá ocupado?
chega aqui, vamos tomar um café
Deixa eu te observar.
Ô, moço,
sabia que seus olhos são de um castanho
tão claro
quanto a madeira deste seu violão?
Ah, não sorri assim
que você acaba comigo…
-Com ou sem leite?
Ô, moço,
sabia que se eu chegar pertinho assim,
dá pra ver suas sardinhas?
Parecem respinguinhos de tinta.
Não, parecem… estrelinhas.
É.
Estrelinhas que completam o universo
da tua alma,
que enxergo pelos teus olhos.
-Ah, açúcar ou adoçante?
Ô, moço,
me conta de você.
Não, não conta.
Deixa eu te decifrar.
Deixa eu desbravar tua pele
como pincel que pinta
uma tela em branco.
- Psiu, cuidado. Tá quente.
Ô, moço,
aqui, segura minha mão.
Sentiu? Não?
Então, olha nos meus olhos.
Sim, minhas pupilas estão dilatadas.
Sabe o porquê?
Por sua culpa.
- Vai um biscoito para acompanhar?
Ô, moço,
não me leve a mal, mas acho que eu gosto de você.
Acho, não. Gosto sim.
Ah, mas não tem por quê.
Eu gosto e pronto.
Acredite, é verossímil.
Ô, moço,
se você quer mesmo saber,
esse seu jeitinho
sem jeito
me pegou de súbito.
Tua fala mansa,
Teus pensamentos,
Tuas camisas de botão,
Teu modo de ver a vida
e até este violão.
Foi tudo.
Foi todo.
Ô, moço,
entra aqui no meu coração
deixa eu te mostrar o lugar que reservei pra você.
Cuidado, ali tá um pouco bagunçado
mas é aconchegante, não é?
Não liga pra esses caquinhos,
são resquícios de algumas ex-certezas
que mudaram de lugar.
Ô, moço,
tá vendo aquela janela ali?
Então chega mais perto.
Olha só que vista.
É imenso, né? O mundo.
E a gente pode conhecer isso tudo
assim, juntinho.
Basta querer.
- Quer mais uma xícara?
Prometo te servir sempre que quiser.
Só me deixa te mostrar
que esse café e as notas desse violão
podem se prolongar por uma vida inteira.
Que meus dedos
podem passear nesses seus cachinhos
pra te fazer dormir nessas noites insones.
E que eu não vou reclamar
da sua barba.
Eu até gosto.
Faz cócegas.
Ô, moço,
isso não é um abismo.
E se for, deixa que eu seguro a sua mão
pra gente pular.
Não se preocupa,
lá embaixo não tem espinhos
Apenas um mar
pra gente
(se)
amar.
E eu tenho um paraquedas
na mochila.
É só se
E
N
T
R
E
G
A
R
Viu? Nem doeu.