Uma atmosfera prazerosa

John Darceno
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJan 18, 2020
Mist, por Briana Sostrom

O tempo é chuvoso, mas as janelas do meu quarto me protegem da água. O som da chuva, por outro lado, consegue atravessar os vidros e penetrar meus ouvidos, ainda que baixo. É como um macio soundtrack presente em uma cena calma de um filme. Não há raios, e os únicos barulhos que se somam com o ruído da chuva são os meus próprios. Salvo essas satisfatórias melodias naturais, o silêncio reina. A temperatura é baixa o suficiente para eu poder usar calça e degustar de um afetuoso chá quente, mas não ao ponto de fazer minhas mãos tremer. O ambiente é aconchegante.

Está de dia, mas não há muita luz solar disponível, e como eu sou estranho, mantenho a lâmpada apagada. Uma camuflada dança entre sombras e luzes se desenrolam pelo cômodo. Alto contraste é o tema da coreografia. Isso me lembra as fotos que costumo tirar. De forma tênue, um azul predomina entre as cores, fazendo parecer que está ainda mais frio.

Eu ligo a luminária que fica na minha mesa, e a dança de luzes e sombras é intensificada. Quando eu respiro, consigo notar alguma pequena fragrância gerada pela chuva, mas o cheiro de papel é o perfume principal. Há livros e livros nos mais diversos cantos do quarto: em cima da mesa, na estante, no criado-mudo e até no guarda-roupa. Há cadernos também, embora em menor população. Eu sento na cadeira, em frente a minha mesa, e pego meu caderno pessoal. A folha dele é grossa, porém bastante lisa. A caneta desliza suavemente pela superfície da página, enquanto vou transferindo meus pensamentos para o papel. A sensação que tenho fazendo isso é como se eu estivesse liberando várias borboletas que estavam antes presas em um pote. Elas estão agora livres pelo mundo, e seus voos são belos. Às vezes é só isso que sinto escrevendo.

Após passar as palavras da minha mente para o papel, eu saio de minha cadeira e caio sobre minha poltrona. É extremamente mais confortável, e eu a uso para minhas sessões de leitura. Agora, porém, não quero ler. Já li demais na manhã, horas que agora estão enterradas no passado. Nesse momento eu sinto vontade de apenas existir. Então, eu pego meu celular e coloco uma música. Ela é lenta e suave, o que só aumenta o clima melancólico já presente no local. Eu gosto disso. Não permito seu volume estar muito alto, e ocasionalmente sua harmonia se mistura com a harmonia da chuva.

Os minutos vão se passando, e meu cérebro começa a ficar insensível com os estímulos externos. O som da música e o barulho da chuva agora mal chegam ao meu consciente. São apenas distantes imagens que vão se tornando cada vez mais imperceptíveis. Se perdendo no horizonte. O silêncio, como sempre acontece, volta a reinar.

Minha mente vaga, fazendo viagens cósmicas dentro do meu próprio eu. Devaneios transbordam de meus pensamentos. Passado e futuro atravessam meus olhos. Após um tempo, um sentimento afetuoso para com o agora começa a escalar meu coração, e eu só consigo concluir uma coisa: como eu amo a solitude.

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John Darceno
Revista Subjetiva

Refém de um impulso nascido nas estruturas do inconsciente, minha mente é obrigada a escrever.