Versos da quarentena
Me abalo, e me abalo muito
Minha terra e a tua
Já foi a mesma
Mas a emancipação veio
Anos antes de nascermos
Resolveu visitar meu mundo
Um forasteiro, perambulando
Te fitei, te envolvi
Nossos corpos se entroncando
Foram a visão do momento
Houve certa comoção
Forasteiro veio outro
E te expulsou
Exilado, prometeu voltar
Agora leio sinais trocados
Sobre as memórias de atrás
E os desenhos do amanhã
Se tu não voltar
Se vier e eu não te sentir
Se vier e não me procurar
Por séculos minha terra sem a tua
Por décadas meu corpo sem o teu
Por milênios podemos viver, sem
Fosse só teu corpo
Fosse só teu toque
Que urgisse para mim
Não fosse também teu olhar
Tua risada despreocupada
Teu alento descomunal
Fosse só tua boca
Não todas as entranhas
Estaria sem temer
Te perder pra ti
Tu cair de mim
Tu não vale
Um conto
E me desfaço
Me abalo
Tu não presta
Mas faço a festa
Quando sei
Que vamos fuder
Sequer é meu tipo
Mas o gozo não liga
Tô molhado por você
Vivo em terremoto
Tua carne é podre
Teu espírito é invisível
Meu desejo é latente