Viagem do Tempo: Jornada da Vida

Jil Soares
Revista Subjetiva
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14 min readApr 20, 2022

Dir. Terrence Malick

Revisão Textual: @clauzieferreira
Suporte Textual de Pesquisa: A Prosperidade do Vício — Uma Viagem (inquieta) pela Economia. COHEN, Daniel. //Homem, quem és? — GRELOT. Pierre. // O Estado do Cinema, 2021. BRENEZ, Nicole,(Trad. Marcelo Ribeiro).Incinerrante, 2022.

“A capacidade das imagens fotográficas de transmitir uma impressão tão viva da realidade, que inclui o movimento como um aspecto fundamental da vida a que a pintura e a escultura foram capazes de aludir, mas não copiar, instiga o desenrolar de duas histórias complementares: uma sobre a imagem e outra sobre o cineasta. A notável fidelidade da imagem fotográfica ao que ela registra dá a essa imagem a aparência de um documento.” Bill Nichols, Introdução ao Documentário, 2001.

*Abaixo o link do documentário completo.

O Cinema Metafísico de Terrence Malick

É do conhecimento da maioria dos cinéfilos que acompanham, ainda que de forma esporádica e circunstancial, o trabalho do cineasta estadunidense Terrence Malick, que a Metafísica é uma condição de pertença em seu modo de realizar e produzir cinema. E no documentário “A Viagem do Tempo — A Jornada da Vida, 2016” não poderia ser diferente.

Malick — antes de enveredar pela arte, mais especificamente no cinema, no movimento que surgiu por meados da década de 1960 que se convencionou chamar de ‘Nova Hollywood’, por introduzir nos estúdios hollywoodianos, princípios narrativos e estilísticos dos cinemas novos — formou-se em Filosofia na Universidade de Harvard em 1965 e em 1969 lecionou no MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O cineasta somente veio a estrear no cinema no início da década de 1970 com o filme Badlands (Terra de Ninguém, 1973), no American Film Institute (Festival de Cinema de Nova York).

Viagem do Tempo é o seu nono filme, de uma filmografia de 13. Ao que tudo indica, seria uma continuação do aclamado “A árvore da Vida, EUA, 2011”, Palma de Ouro no Festival de Cannes.

O filme é uma coprodução em parceria com a National Geographic, que levou cerca de quatro décadas de produção/realização. No documentário é explicita a sua reflexão/inquietação acerca dos mistérios da Criação da Vida e das consequências da ação do Homem sobre o Planeta Terra.

Foto de cena do Documentário A Viagem do Tempo — Terrence Malick

Conforme relata o economista francês Daniel Cohen em seu livro “A Prosperidade do Vício — Uma Viagem (inquieta) pela Economia”2009:

“… Até o século XVIII, a humanidade dependeu do Sol e mais modestamente da água e do vento como fonte de energia. Tudo mudou em seguida, segundo o prêmio Nobel de química, Paul Crutzen, que resumiu a evolução em andamento como uma emergência da “antropocena”: a passagem de um mundo dominado pela natureza, para um mundo dominado pelo Homem”.

Em paralelo a essas inquietações provocadas por Malick no documentário, o Homem no decorrer dos processos da Revolução 4.0, que surgiu como resultado das Primeiras Revoluções Industriais na história e que tem seu início na primeira década do século XXI, 2011, com a confluência de todas as tecnologias até então existentes, como: a Inteligência Artificial, a Engenharia Genética, a Filosofia Transhumanista, e a Algocracia, modelo de governança pelo algoritmo, sendo como uma evolução na forma de execução de poder, com o controle fluindo agora para os computadores e para quem os programa e os administra (Aneesh, 2009). E, como desfecho dos novos fenômenos sociais do presente século, na Era da Informação, forjou estratagemas, que têm conduzido o Planeta a um processo de artificialização global. Engendrando a Mundialização do Capital, de forma arbitrária e postiça, tanto na Ciência quanto na Sabedoria Ancestral dos Povos Originários, com o argumento falacioso de que por meio da Tecnologia podemos construir um mundo melhor, sendo que a realidade espelha como exemplo destes êxitos, ilações desastrosas; contraponto explorado pelo cineasta de forma sublime e espirituosa no filme, conforme ilustram as imagens abaixo.

Cenas do Documentário — A Viagem do Tempo — Terrence Malick

Diante do contexto em que a humanidade está inserida na Agoridade: Crise Ambiental, Crise Migratória, Êxodo Climático, Crise Sanitária, Crise Alimentar, Vulnerabilidade Econômica, Superpovoamento e da Crescente Retomada da Guerra Fria na Europa (Rússia X Ucrânia) e Movimentos de Insurreição Moleculares em países do Sul Global, cabe aqui nos questionarmos a quem ou ao quê caberia impulsionar por meio de um fenômeno ou milagre, parafraseando David Landes, ‘desacorrentar o Prometeu do século XXI, para salvar a humanidade do iminente estado escatológico em que se encontra o Fogo da Razão? E da ameaça iminente de que as imagens do nosso planeta, imortalizadas pelo artifício do Cinema e da Publicidade, não estejam somente explícitas de forma episódica na semântica da Memória. A salvação estaria na Tecnociência, na ou em ambas?

Cenas do Documentário A Viagem do Tempo — Terrence Malick

Essas são algumas das muitas questões que nos atravessam, na medida em que somos agraciados, com tamanha beleza, torpor e grandiosidade, diante das imagens ali apresentadas. Deixamos-nos levar de fato, como se estivéssemos com os olhos presos a um anzol, indefesos, por essa poética paradoxal, à Viagem do Tempo ou Jornada da Vida; uma emulação arqueológica, visual, proposta por Malick, um devaneio consciente, entre a janela cinematográfica da Transparência e da Opacidade em que somos submersos à experiência do pulsar escópico da espectatorialidade, não deixando de autopsiar por fissuras às provocações estimuladas por meio dos agenciamentos das representações imagéticas que emergem da tela.

A Síndrome de Adão ou a Cegueira Epmeteíca Congênita da Razão

Foto de cena do Documentário A Viagem do Tempo — Terrence Malick

Através da cosmogonia judaico-cristã e de sua linguagem mítica, que lembra muito o Sagrado experienciado por Sociedades da Cultura Hidráulica na Mesopotâmia, região do Antigo Crescente Fértil, denominada pelos historiadores como o Berço das Civilizações, localizada atualmente nos territórios que correspondem ao Iraque, ao Irã e à Jordânia, no Oriente Médio, que Malick constrói sua narrativa visual, com o uso da Montagem de Evidência, sobre a Criação do Mundo e do Homem e sua relação com o Multiverso do Planeta Terra, organizando as supostas imagens dentro da cena, de modo que se dê a impressão de um argumento único, convincente, sustentado por uma lógica, em relação à suposta Gênese Humana.

Imagem retirada do Vídeo: Civilizações do Crescente Fértil — Youtube

Por mais que essa Montagem de Evidência esteja atravessada por divagações poéticas e com forte apelo Existencialista, o que não anula o ‘Trânsito Dialético’ diante da História, fato que nos remete à ideia de “Passado Inobservável”, a Preexistência do Homem antes da História Pré Escrita. Malick em sua “Viagem do Tempo” nos conecta de alguma forma à Quimera Mítica das Origens ou a “História do Nosso Universo”.

Cartelas do Documentário A Viagem do Tempo — Terrence Malick

A representação da Presciência por intermédio do VerboRazão, fenômeno que a própria razão, que persiste na dúvida ou na Hermenêutica da Suspeita, Oráculo do Fabular Esotérico, insistiu em negar conhecer enquanto Ciência pelo usufruto da Ética da Conveniência. Seria uma Ode aos Epônimos Ontológicos do Espírito? Ou o Concubinato Simbiótico à manifestação latente da Natureza no plexo paradoxal da Teleologia Evolucionista? Contrassensos à parte, a Rostidade Tecnocientificista não tem régua para mensurar por meio de seu ‘detector de desvios’ a Estepe Árida Inadequada da Razão. Pois a Presciência é um Deus Sem Rosto.

Foto de cena do Documentário A Viagem do Tempo — Terrence Malick

“Qual o momento de minha vida no qual a noção de criação pode ter algum sentido? Pode-se aceitar ao mesmo tempo a ciência e a fé? Até que ponto tudo que é anterior à Idade da Ciência é sem Razão? Como separar o Concordismo Biológico dos motivos literários” (alegoria mítica), quando estes se referem aos marcos iniciais enquanto Instâncias do Sagrado? [Grifo meu].

São questionamentos feitos pelo teólogo francês Pierre Grelot em sua obra “Homem, quem és?”1973, que acaba por se coadunar, aprofundar, problematizar e potencializar os tensionamentos do discurso fílmico de Terrence Malick na obra “A Viagem do Tempo: Jornada da Vida”.

Pôsteres de Divulgação do filme Viagem do Tempo — Terrence Malick

Com imagens da terra, do universo e dos seres vivos em suas mais variadas formas de existência/ausência, Voyage of Time: Life’s is Journey, conforme relata a sinopse, é uma celebração do universo, exibindo todo o tempo, desde o início até o colapso final, examinando tudo o que ocorreu para preparar o mundo que está diante de nós agora: ciência e espírito, nascimento e morte, o grande cosmos e os minúsculos sistemas de vida do nosso planeta. Eis a ideia possível da Gênese da Humanidade reapresentada por Terrence Malick, perante a seu destino obscuro, se projetando em encenações dramáticas: ênfases, improvisações, variações de ritornelos em declive!

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Conforme relata Bill Nicholls, em sua obra Introdução ao Documentário, “Cada documentário tem sua voz distinta. Como toda voz que fala, a voz fílmica tem um estilo ou uma “natureza” própria, que funciona como uma assinatura ou impressão digital. Ela atesta a individualidade do cineasta ou diretor, ou às vezes, o poder de decisão de um patrocinador ou organização diretora” — no caso em questão aqui é a National Geographic.

Vale ressaltar que por mais influência que a National Geographic tenha exercido na produção do documentário, a marca autoral de Malick não fora invisibilizada. O diretor se utilizou dos modos de representação do gênero documentário para imprimir a sua personalidade e marca autoral no filme, que é a Fenomenologia por meio da Presciência e da Metafísica.

O Modo de Representação adotado no documentário A Viagem do Tempo tem porções amalgamadas do segmento Expositivo/Poético/Performático. O Documentário Expositivo remonta à década de 1920, e sua forte característica é conter em sua narrativa o mundo da ciência, da natureza e das biografias. Outro aspecto marcante deste modo de representação é a voz off ou voz de Deus, em que o orador é ouvido, mas jamais visto. O Modo Poético enfatiza associações visuais, qualidades tonais e rítmicas, passagens descritivas e organização formal. Esse modo é muito próximo do Cinema Experimental, pessoal e de vanguarda, o Modo Performático evoca, em sua estrutura estética, nuances expressivas, que constantemente nos lembram de que o mundo é mais do que a soma das evidências visíveis que deduzimos dele. (Bill Nichols, CAP. VI, p. 136, 2001).

Sendo assim, alinhado a uma potente visualidade poética na sua forma de narrar os fenômenos que volta e meia golpeiam as expectativas de respostas, tanto da fé quanto da ciência, através da Aporia Filosófica das Imagens, Terrence Malick nos lança em uma estepe árida, sem horizontes, que nos esmiúça e nos trivializa, por tudo que construímos e substantivamos de Civilização, Evolução e Progresso, diante desta complexa imensidão que é o Universo e a Vida. Homem, quem és, senão o Projeto Decaído do Engendrado Complexo de Adão em uma Cegueira Epmeteíca Congênita da Razão?!

A Protologia como Ritual de Consubstanciação - Um Requiém à Vida — Anunciação, Morte e Ressurreição em Gustav Mahler

Foto de cena do Documentário A Viagem do Tempo — Terrence Malick

A música no documentário é elemento unificador do discurso de evidência fílmica, se sobrepõe de forma visual e sintagmática, constituinte sonora do fluxo simultâneo das imagens. Seria o Terreno Subliminar das possibilidades de instâncias narradoras da Sinfonia Presciênte, ao qual Malick reduz o tom, pondo-o em suspensão, em estado de calefação difusa, puxando o espectador com um anzol pelos ouvidos, conduzindo-o a flanar pelo bosque da docu-ficção, com o intuito de reforçar e aquecer o argumento fílmico da representação do real em paralelo à música.

Para que essa coexistência adquira um Corpo Sinfônico junto ao filme, Malick nos presenteia com a Sinfonia Nº 2 de Gustav Mahler, compositor checo — austríaco, de origem judaica, do Período Romântico. A escolha da “Symphony №2 in C Minor — Ressurrection” é justamente, não para contrapor o compasso binário entre Vida e Morte, mas, para amalgamá-las em Unidade Biosonora, ou melhor dizendo em Biophilia, amor pela vida. A peça mahleriana é composta por três movimentos lineares de representação do ciclo da vida, numa perspectiva judaico-cristã: Anunciação; Morte e Ressurreição.

Gustav Mahler: Symphony №2 in C Minor, “Resurrection” 5. Im Tempo des Scherzo (wild herausfahrend) Diana Damrau: Soprano Petra Lang: Contralto Staatskapelle Berlin Pierre Boulez: Conductor Chor der Deutschen Oper Berlin Opera recorded a the Berlin Philharmonie (Berlin, Germany), 2005 © EuroArts Music International

A morte é um tema presente na obra de Mahler, talvez pelo fato de o compositor inspecionar em seus processos de inquietação criativa, fortalecer sua fé, nesta busca de respostas pela existência. E lógico que não foi por acaso que Malick selecionou a Segunda Sinfonia de Mahler como elemento enunciador para compor o argumento estético do filme, afinal de contas o Oráculo da Vida no espelho das cores é Cinzento e Obscuro.

Assim como não foi acidental a escolha do compositor estoniano Arvo Pärt, seu estilo minimalista eleva a música a um estado Imanente, como que se autopsiasse os indícios da existência, a Proto-Natureza. Estado fenomenológico da previsão, questionando e problematizando as formas e os caminhos que o homem convencionou entender e conceituar a ideia de vida, por meio de mecanismos cientificistas, descartando a presciência como outro acontecimento da manifestação da Razão, estado Impermanente dos Seres e das Coisas.

Te Deum; Dapacem Domine; In Principio; Litany” são as peças do repertório arvo-pärtiano que sublima e aurifica junto ao discurso fílmico, reconciliar-se com o Universo por meio de sua Força Criadora, no caso em questão, Deus ou a ‘Mãe Terra’. As peças são dispostas na banda sonora como o Ritual de Consubstanciação em que o homem é mediador constituinte do congraçamento, elã primordial entre o Universo e a Natureza. Incitado a urdir à contemplação dos instantes ativos e presentificados na simultaneidade dos eventos da Imagem-Som. Deslocando o centro de atração e gravidade e se estabelecendo no Instável, deixando-se prenhar o presente de transcendências mutáveis, por meio da música e do filme, num entressonho consciente, mediado pela Anástase ou por meio da Invisibilidade Matérica, criando possibilidades plurais de Territórios de Ressurreições.

Arvo Pärt lauscht in der Elbphilharmonie zusammen mit Manfred Eicher (ECM Records) der Aufführung einer Auswahl seiner bekanntesten Werke. Auf der Bühne: Das Tallinn Chamber Orchestra unter Dirigent Tõnu Kaljuste.

Talvez seja através destas polifonias reterritorializadas dos espaços por meio da sensibilidade e consciência do olhar que Terrence Malick evoque, a partir do Cinema e da , provocações/reflexões acerca de nossas práticas e modos de nos relacionarmos com o que ainda sobeja Vida em nosso Planeta Terra, propondo possibilidades de reencontro do Homem com o seu Devir Ancestral LUCA (Last Universal Common Ancestor) ou Último Ancestral Comum Universal. Tentativa esta de retomar e remontar as Sobrecodificações do Desejo na manifestação do quotidiano, assim como o era nas Sociedades Originárias, em que a dança, a música, a elaboração de formas plásticas e de signos no corpo, nos objetos, no chão, estavam intimamente mescladas às atividades rituais e as representações religiosas. (Caosmose — O Novo Paradigma Estético, GUATTARRI,p. 127, 1992).

Foto de Cena do Documentário — Viagem do Tempo de Terrence Malick Fonte: https://www.sentieriselvaggi.it/venezia73-voyage-of-time-lifes-journey-di-terrence-malick/

O Tempo Retorna à Fonte — A Grande Onda de Kanagawa

Antes, as imagens estavam no mundo. Hoje, é o mundo que se banha em um oceano de imagens. BRENEZ, (Nicole,2022).

A Grande Onda de Kanagawa — Katsushika Hokusai — 1820–1831 Google Arts & Culture

Não é novidade que em tempos sombrios o Homem sempre demonstrou ser/ter em sua porção animalesca espírito inquieto, a fim de manter-se enquanto espécie diante de qualquer fenômeno que possa ameaçá-lo: seja por causas naturais ou por meio da violência — aniquilação Global, pandemias ou até mesmo Guerras Mundiais. Foi assim nos tempos de Noé, com a criação da “Arca” e assim é/será na agoridade, com a criação de Bunkers. Presente e Futuro se agenciam em imbricamentos, diluindo-se em azáfama, Temporalidade da Refração Absoluta no vácuo do desassossego.

Como possibilidades da perpetuação de Si, o Homem, enquanto espécie, se utiliza das tecnologias e do saber do seu tempo. No início do século XIX o Japão tinha um projeto ambicioso de criar um “Grande Livro Fotográfico de Tudo” e o pintor e gravurista Katsushika Hokusai foi convocado para ilustrar a nababesca enciclopédia. Primeira década do século XXI, Terrence Malick junto à National Geographic apresentam um trabalho de pesquisa, que durou cerca de 40 anos - “A Viagem do Tempo ou Jornada da Vida”.

A mudança virá por meio das imagens? Não só. O cinema pode contribuir, em paralelo a outras ações de cunho político e social, como agente transformador no uso de seus enunciados de reparação e conscientização global acerca das causas emergentes que envolvem e assombram o homo digitalis e a atual realidade do Planeta:

Para observar o cinema contemporâneo é preciso inscrevê-lo no contexto desse exponencial aumento quantitativo e qualitativo da potência das imagens, interrogar o papel que ela desempenhou e continua a desempenhar. (BRENEZ, Nicole, 2022).

Qual a relação que une espíritos criativos de épocas e lugares tão distintos?Poderíamos dizer, de modo elementar, que os dois são unidos por expressar o mundo por meio da Filosofia das Imagens. Não fosse somente a fronteira do ofício, o pensamento de ambos se assemelham no sensível que tange o horizonte temporal definido. Entendendo, contudo, que cada época ofega o seu fim, então, por que não criar arcas e bunkers como tautologias contemporâneas de perpetuamentos. Soteriologias Pós-Modernas como redenção.

Sabemos que os gestos intuídos de perenidade em relação a extinção das espécies vai aquém do século XIX e tampouco se fará inerte no século XXI. O que é a Suspensão Criônica ou Criogenia, se não o processo de Mumificação sofisticada, praticadas por Povos da Antiguidade?!

O documentário A Viagem do Tempo, assim como o Grande Livro Fotográfico de Tudo, são produtos em meio a tantos outros que nos servem como pontes de intermédio a problematizar/pacificar nossas zonas de conflitos — Condição (demasiada) Humana, nesta busca e luta por Permanência de Espírito entre as políticas arbitrárias da Ciência e da Religião no mundo tal qual construímos. Conforme nos incita Nicole Brenez em seu texto O Estado do Cinema, 2021(Trad. de Marcelo Ribeiro):

Como humanos, nós estamos agora conscientes de que a humanidade, e em particular sua parte ocidental, provou ser a espécie mais tóxica, predadora e absolutamente louca do planeta Terra, ao ponto de destruir seu próprio habitat. Como cinéfilos, nós passamos agora a compreender que o Cinema, filho do Mundo Industrial, representa um conjunto de despesas extravagantes de recursos naturais, despesas em sua maior parte inúteis e danosas para o imaginário. Enquanto nossa existência como espécie ameaça o conjunto do vivente, os filmes do século 21 investigam como o Cinema pode se livrar de suas determinações antropocêntricas e industriais.

A Natureza, o recurso inesgotável de encontros dignos de comunicação sem palavras.

Terrence Malick na Construção Dialética de “O Último Planeta”

Foto de Cena — O Ultimo Planeta — Terrence Malick 2019.

Terrence Malick segue na sua busca incansável pelo sentido da vida. E o Cinema é o recurso pelo qual o cineasta expressa a sua aflição. O diretor está trabalhando em seu mais novo projeto; “O Último Planeta”. O filme é sobre “a humanidade, do Big Bang ao Apocalipse, narra várias passagens da “vida de Cristo” com representações de parábolas evangélicas”’. Ao final das filmagens do seu mais novo filme, Terrence Malick disse:

“Acabamos de filmar e estou muito feliz. Há alguns dias terminamos as filmagens no deserto da Jordânia. Será um filme com um elenco que reúne atores do Oriente Médio, uma trupe alemã e até artistas italianos do departamento de figurino e cenografia (figurinista Carlo Pogjoli e desenhista de produção Stefano Maria Ortolani). Agora vou voltar ao Texas para editar e editar o filme. Vai demorar pelo menos um ano porque temos muito material. E, à medida que nos tornamos digitais, obtemos muito mais imagens. Meu momento favorito de trabalho é editar. Não há mais pressão definida, incerteza do tempo no set. Estou muito feliz por estar aqui no final desta longa jornada. Eu gostaria de ficar mais tempo em Roma. Mas de manhã cedo temos um avião que nos levará a Austin. “ Fonte: pt.literatur-tv.com

  • Voyage of Time, foi lançado em duas versões: uma versão IMAX de 40'mnts. com narração de Brad Pitt, e uma edição de longa-metragem de 35 milímetros (também conhecida como Voyage of Time: Life’s Journey) narrada por Cate Blanchett. A edição de longa-metragem foi selecionada para concorrer ao Leão de Ouro no 73º Festival Internacional de Cinema de Veneza. A versão IMAX do filme foi lançado em 7 de Outubro de 2016, pela IMAX Corporation e Broad Green Pictures.

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Jil Soares
Revista Subjetiva

Bacharel em Cinema pela UFBA. Colaborador: Revista Subjetiva e Revista Impublicável ex - editor de conteúdo da Revista de Arte GRAVIDADE