Vinhos e madrugadas

H.
Revista Subjetiva
Published in
2 min readMay 26, 2021
Arte por Anthony Cudahy

Dizem que o mundo gira mais rápido quando se está bêbada. Não sei. Bebo desde às 22h e sinto que tudo gira com a mesma intensidade, se não mais lento, de quando estava sóbria. Esta é a realidade de ser brasileira: viver num constante limbo em que nem a bebida é capaz de satisfazer a vontade de abstrair um pouco. Sumir, liquefazer-se no ar. Nem o álcool tira da gente esse estado febril da nacionalidade.

Tampouco me sinto estranha. É como esse estado embriagado me compusesse por inteiro: o médico me liberou que bebesse moderadamente; mas o que é moderado, afinal? Não sei, mas venho tentando descobrir, e a cada dia que abro alguma bebida alcoólica é como se isso me compusesse. Uma partícula de mim que descubro. E incorporo. E não gosto. Porque os excessos vêm se fazendo presentes com mais ardor do que de costume.

Sempre fui composta de excessos: exercícios físicos, dietas, álcool, cigarros, comidas não saudáveis. Em cada fase da vida, um excesso diferente, e não me meço. Não sei como equilibrar as variáveis da vida, porque nunca houve um estado saudável, o equilíbrio nunca foi uma realidade. Para ninguém, creio eu. A busca pela vida é a busca pelo equilíbrio, o que é uma falácia, uma falácia que tentam nos enfiar goela abaixo.

Acho que a busca pela potência da vida é a busca pela redução dos danos.

Completamente bêbada, sem ver o mundo girar, mas com a face ardendo e o corpo quente, até vermelho, escrevo esses parágrafos bestas sobre a vida. Que coisa isso de escrever. E houve uma época em que fazia com naturalidade.

Hoje é mais como uma súplica.

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H.
Revista Subjetiva

Um pouco mais que um grão de areia, um pouco menos que um cavalo.