Você Está Aqui.

Sobre o Agora e a Síndrome de Cristina.

Danilo H.
Revista Subjetiva
Published in
4 min readDec 10, 2019

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Você estava certa todo esse tempo.
Eu deveria ter acreditado em você.

Por mais improvável que seja, nós estamos no mesmo lugar.
Nós estamos “Aqui”.

Obrigado.

Essa sua voz rouca que, com certa frequência, sussurrava indecências ao pé do meu ouvido calhou de me surpreender há pouco.

Acho que eu deslizei e você percebeu.

Você veio com um “Tudo bem?” e eu respondi prontamente que “Tudo”, só não disse o quê (no caso, era tudo péssimo) e sua esperteza me pegou no pulo.

Ao invés de compartilhar algum segredo ou alguma ousadia, você soltou um “Ei… não esqueça que você está aqui!” e saiu de cena pois estava atrasada.

Oras, claro que estou aqui… hm… né?
Ou será que não?

Onde foi que eu estive nos últimos tempos?

Self-Aware Bear

Tenho esse péssimo hábito de viver no futuro, de planejar o que eu vou ser e nessa brincadeira vou esquecendo de quem sou e onde estou.

Às vezes eu não estou aqui mesmo, não me dedico às pessoas hoje pois estou pensando no que vou faremos juntos daqui 2 semanas ou mês que vem.

Não estou satisfeito com esse tal de “Agora”, por isso planejado incessantemente o próximo passo (e o próximo do próximo).

Quando me envolvo com alguém tenho o indecente impulso de construir aquilo que nem sei se teremos ou viveremos, é algo automático e não o faço por maldade.

E o Agora? Nem me fale dele… porém estou ao seu lado todos os dias… o agora é o ambiente onde planejo o que quero ser, afinal, tenho a impressão de que o meu “Eu” atual não é suficiente.

Sinto que vim ao mundo para correr em busca do tempo perdido, essa perturbadora sensação de que o Agora não foi feito para mim.

Me sinto perdido e às vezes deixado à própria sorte nesse trajeto, porque não sei se estou fazendo as coisas certas e quando erro é como se eu merecesse o castigo de todos os deuses do Olimpo de uma só vez.

Não me chamo Cristina, mas sinto que tenho seu problema crônico.

Vicky Cristina Barcelona — Reproduzida da Internet.

Quando Maria Elena, descontrolada, olha para Cristina e diz: Insatisfação crônica, é isso que você tem!, eu tive a impressão de que era comigo (e talvez seja).

E nessa brincadeira acabo não vivendo.
Insatisfação por isso, insatisfação por aquilo.

Mas e tudo que eu tenho/conquistei/sou até agora? De nada vale?

PAH!

Quando toco nesse ponto eu pego o primeiro voo de volta para o presente.
Regresso para o hoje.
O
Aqui.

Quanto mais me agarro nesse tal Amanhã, mais me sinto encurralado pelo “e se…?” que me corroí por inteiro.

Por isso reitero, você estava certa, estou Aqui e daqui não posso sair… o corpo está aqui, só que a mente se ocupa de limpar o caminho (ou tenta) para eu passar.

Esses esforços seriam colossais caso eu não tivesse tropeçado no caminho ou rolado escada abaixo mais de uma vez (pois sou desses, por vezes ando de olhos fechados no terreno dos outros).

Nós precisamos estar Aqui.

Temos que estar presentes junto àqueles que verdadeiramente importam.

Precisamos focar no trabalho que temos agora (para o bem ou para o mal ele não será pra sempre, mas é o que tem pra hoje).

É preciso cuidar de nós mesmos nesse minuto, amanhã pode ser tarde e tudo pode se tornar mais confuso ainda.

As ações de hoje afetam o futuro (alerta de clichê) e, sem dúvida alguma, nós devemos traçar objetivos e tomar decisões agora… porém os nosso esforços de nada valem se não vivermos esse bem tão precioso que é o Agora.

Acho que temos que aprender a viver pelo caminho e não só na linha de chegada.

Só existir pesa demais.

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.