Você Não Me Pertence
E o desafio de aceitar que pessoas vêm e vão.
O mormaço subia do chão enquanto eu te olhava timidamente através dos meus óculos escuros.
Nossos corpos dividiam uma canga e estávamos lado a lado. A praia estava ocupada de forma modesta, sem muita gente.
Tomávamos sol em silêncio, nossas pernas se tocavam de modo descontraído e eu sentia aquele friozinho no estômago toda vez que eu escutava a sua voz.
Eu adoro a leveza das suas palavras, mesmo que calculadas e tímidas.
Estava tudo tão bem…
Você cochilou e então fui arrebatado pelo medo.
Eu não queria que você fosse embora.
Não houve uma atitude sua que me desse a entender que você iria sumir.
Sabe o que é mais maluco? Você não falou nada.
Tudo está caminhando muito bem, na verdade.
Você não me tratou diferente.
Sei lá, eu gostaria de guardar esse momento para sempre mesmo sabendo que isso é impossível.
Você chegou de fininho e já deixou marcas profundas dentro de mim.
Talvez isso tenha me assustado.
Bastou um olhar para eu me jogar de cabeça.
Eu nunca fiz isso antes.
Bem, os outros não eram você.
Aliás, confesso que a casualidade das relações me bagunça por inteiro.
Eu queria que você ficasse aqui o máximo possível, mas sei que determinadas coisas não são passíveis de controle.
Fiz pequenos planos idiotas para nós dois… parte de mim acha perda de tempo, já um outro lado diz que é bonito imaginar cenários (saudáveis) com o outro.
Uma viagem.
Uma tarde entrelaçado contigo.
Um jantar.
Velas.
Às vezes me pergunto se você está conversando com outras pessoas.
Se você quer ir embora.
Se você já se cansou.
Entretanto, afasto esses pensamentos com as mãos e tento focar no agora. Não cabe a mim te mergulhar em questionamentos.
O sol dança pelo seu rosto.
Eu sou fascinado pelos seus lábios.
Sua mão encosta na minha e você me puxa devagarzinho pra perto.
Você não me pertence e eu respeitarei a sua próxima decisão.
Talvez seja aquele 1% de ciúmes que habita algum canto perdido do meu coração… ou pode ser aquela sensação de que eu esbarrei em algo genuíno.
Você não é um chaveiro que eu guardo no bolso.
Você não é sinônimo de status.
Independente do que isso seja, eu não te impedirei de ir embora.
Parte de mim sabe que eu jamais encontrarei algo tão raro como você de novo e talvez o medo surja disso.
Que egoísta da minha parte querer que você fique aqui independente do que aconteça.
Meu coração te agarraria pelos pés caso você tentasse ir embora.
Todavia, meu cérebro seguraria meu coração pelos braços e tentaria evitar a dita cena.
Eis que você se levanta de repente, deixa um sorriso no ar e corre para o mar.
Vejo você indo e aceito.
Foi nesse momento que eu soube que havia um nome para o que eu sentia: paixão.