Você não precisa criar conteúdo o tempo todo

Stefani Del Rio
Revista Subjetiva
Published in
4 min readMay 3, 2020
Photo by Prateek Katyal on Unsplash

Sobre Instagram, nanoinfluenciadores e ser sua própria marca.

Nós vivemos em um mundo extremamente digital e, percebemos cada dia mais, que não dá mais para fugir disso. O que é ótimo, claro. Nunca consumimos tanto conteúdo e também nunca foi tão democrático criar conteúdo, ensinar, conversar com outras pessoas e compartilhar opiniões. Com as mudanças no meio digital, como o Instagram escondendo os likes, o conteúdo se mostra mais importante do que rostinho bonito. As pessoas se cansaram de grandes influencers com milhões de seguidores, vidas montadas e publis muito elaborados com aspecto de falsos .

A bola da vez era os influencers de nicho, de 10 a 100k seguidores e com uma linha de temas bem definidos e autoridade em algum assunto. Mais uma vez vemos as pessoas cansarem dessa galera e “surgir” então os nanoinfluenciadores. Pessoas como eu e você com menos de 10 mil seguidores, que dão dicas e contam coisas legais para quem os segue, bem papo de amigo.

O que é muito bom, não entendam errado. Mas o que eu venho percebendo é que o mercado bate cada vez mais na tecla de que não adianta ser uma referência off se não tiver uma boa base on-line, que a sua imagem pessoal é importante, que vender você mesmo também é tão importante quanto seu trabalho, você está atrelado ao que faz e sua imagem pessoal é sua marca.

Aqui eu pauso esse texto para dizer que ele já estava mais ou menos escrito bem antes da quarentena, mas nunca publiquei. Dito isso, preciso acrescentar que toda essa experiência de isolamento social criou ainda mais uma necessidade em ser relevante e criar conteúdo. “Quarentena não é férias”, eles dizem, o que é verdade, mas também não é um concurso para ver quem produz mais nesse período e faz mais massa de pão.

Tudo isso gerou uma ansiedade e angústia muito grande em ser relevante, em sempre estar criando conteúdo. Os stories e posts podem parecer mais amadores, mas a curadoria é intensa. Os temas são planejados e estudados para que você influencie outras pessoas com seu discurso, dê dicas sobre sua área de atuação ou até mesmo mostre sua filosofia de vida para que isso inspire outras pessoas.

Eu me incluo nessa, ano passado eu comecei um Instagram de textos para ver se eu conseguia uma rotina mais fixa de escrever, minha grande paixão. No começo foi dando muito certo para mim e eu fui vencendo a timidez e o medo de fracassar pouco a pouco. Só que, desde o começo do ano, eu fui diminuindo o ritmo e quase não venho postando. Eu tenho textos prontos, editados no formato feed e simplesmente não tenho vontade alguma de escrever. O motivo? Ficou mecânico demais e muito parecido com meu real trabalho, ser Social Media. Eu devia seguir uma série de regras no Instagram para obter um bom engajamento, procurar as melhores hashtags, o melhor horário, ter call to action e, claro, ainda patrocinar. Tudo isso foi aos poucos matando a minha vontade de escrever no Instagram e até mesmo de postar no meu perfil pessoal, o que levou a uma grande crise interna e um medo de não gostar mais de escrever.

Eu gosto de escrever, mas não gosto do sistema em volta para ter alcance nas redes sociais, para ser lida e para influenciar. “Mas Stefani, é só você voltar a postar sem pensar em nada disso”, eu sei gente, mas é mais fácil falar do que realmente abandonar tudo isso e não ligar 100% para o tal do engajamento/envolvimento, que permeia tanto nosso ser e nossas vontades atualmente.

Tudo o que é forçado parece que perde um pouco a graça. Os nano influencers dão resultado porque são autênticos, originais, são seus amigos, pessoas próximas. Mas o que vai acontecer quando todo mundo for autêntico e produzir conteúdo sobre si? Será que vai chegar o momento em que a gente não consiga abrir o Instagram e ver um story sem um grande propósito? E como estamos com isso de ter que editar a vida inteira cada vez mais? É claro que sempre fizemos isso nas redes sociais e mostramos só as partes boas, mas agora, além das partes boas, temos sempre que estar gerando um conteúdo de valor para nossos seguidores. Será que vamos conseguir viver assim por muito tempo? O que vai acontecer quando isso também saturar?

São perguntas que eu ainda não sei a resposta, mas vim falar para você que sim, tudo isso é importante, mas nada é mais importante que sua saúde e paz de espírito. Não se culpe por não seguir os seus planejamentos ou não fazer com a frequência que dizem que é importante. Principalmente nesse momento tão delicado que estamos vivendo, com tanto medo do futuro e angústias. É natural que a gente não esteja tão produtivo como antes.

Você também não precisa editar sua vida o tempo todo para engajar, criar conteúdo. Não caia no conto capitalista de que você é sua própria empresa e precisa gerar valor o tempo todo. Você é, acima de tudo, uma pessoa.

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