Confetes chuva luzes — não saber o que esperar

Liana Monteiro
Revista Transversal
1 min readMar 1, 2019

Veio correndo com um sapato só, o outro caiu num bueiro. Colã e balangandãs dourados, o corpo purpurina, o brilho dos olhos ofuscado pelo glitter. Beijou uma moça desconhecida, sentiu o gosto da cerveja misturada com suor com espetinho de gato molhado e gloss sabor cereja.

A chuva caía lá do alto dos arranha-céus, fina e dourada e cor de bronze, a luz da rua. Beijou um rapaz vestido de melancia. Gosto de Brahma ou Antactica misturado com gosto de cu. O céu lá do alto jorrando, querendo fazer parte da festa, do mijo, do esgoto.

Um ônibus passou e encharcou todo mundo. Se fosse outro dia, se fosse outro dia tacariam uma pedra, xingariam o motorista viado, filho da puta, mas hoje não.

Funk na barraquinha, pede mais uma cerveja, precisa da latinha, abre, ah, que delícia! Passa a língua pela boca toda, procurando os gostos de todas as bocas, procurando a felicidade que tinha perdido no ano passado e ninguém devolveu.

--

--

Liana Monteiro
Revista Transversal

Quase azul. Uma canção de jazz, uma caminhada pelo vento. E vou levando a vida. Escrevo: contos, crônicas, diários, feitiços e, sobretudo, poesia.