La tête

Liana Monteiro
Revista Transversal
1 min readApr 17, 2019
Primeira fotografia de Notre Dame, tirada por Louis Daguerre da Pont des Tournelles, em 1839.

La tête, la tête, o telhado, a cabeça. A cabeça desabou. Pegou fogo, fogo! Feu! Incêncio, incêndio, incêndio! Eu grito, eu choro, eu rio. Onde foi parar, parar minha cabeça? Ah!!! É tanta dor, é tanta dor, não ter cabeça, não sinto dor de cabeça e sinto dor, tanta dor.

Mas é preciso parar

sem a cabeça

continuar

como dama cavaleiro

mula.

Eu sou mula. Pertenço a esta cidade, a você que joga guimbas de cigarro nos meus pés, o fogo que te deu aquela tosse, de querer por tudo pra fora, as tripas, as vigas metálicas, tudo. Eu sou tudo, e resta-me esta estrutura de oitocentos anos.

Que sei eu, nas minhas pedras, de fogos de artifício?

Que sei eu, aqui fincada, de princípios de incêndio?

Que sei eu, que sei eu, de revoluções e reformas e restos restos restos?

Quem me dera ter de novo a cabeça, prontinha para a guilhotina da vida.

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Liana Monteiro
Revista Transversal

Quase azul. Uma canção de jazz, uma caminhada pelo vento. E vou levando a vida. Escrevo: contos, crônicas, diários, feitiços e, sobretudo, poesia.