Refluxo

Liana Monteiro
Revista Transversal
2 min readMay 5, 2018

Bate e volta. Bate e volta. Pequeno ciclo doloroso. Incompletude. Um vazio cheio.

Descobri tem algumas semanas que estou com o mal da moda: refluxo. Para quem não segue a tendência, explico: é uma sensação de queimação que vem do estômago até a boca. Em dias poéticos, diria que é um dragão cuspindo fogo. Já os médicos dizem que é uma válvula que não faz o trabalho direito e deixa passar o suco gástrico e o que estiver sendo digerido nele para o esôfago.

Pronto, refluxo.

Refluxo, refluxo. Às vezes entramos num ciclo vicioso, pensando as mesmas coisas, alimentando as mesmas preocupações. Bate uma lembrança e tudo volta. Não deixamos fluir. Os pensamentos giram em torno de si mesmos, crescendo e ficando mais pesados, mais ácidos, mais corrosivos. E vamos enfraquecendo. Pensamentos fazem o corpo vibrar, sentir vigor, adoecer. Tudo depende da sua frequência cardíaca. Se um pensamento se repete demais, bate, bate, bate, pode nos tirar a energia, com o propósito de bater sempre com a mesma frequência. Agora, se um pensamento bate lentamente, quase linha reta no monitor cardíaco, ele vai transferindo sua energia para outras funções do corpo. Sem refluxo, o corpo flui. O alimento é digerido, passa pelos intestinos, vai embora para sempre. E deixa a energia para o próximo ciclo, novo alimento, nova digestão. Com refluxo, tenho que parar coisas que faço, sair mais cedo do trabalho, deixar de lado o TCC, recusar a pizza com os amigos…

Mas vai passar. Como todo pensamento, toda história, todo rio. Refluxo, fluxo, fluir.

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Liana Monteiro
Revista Transversal

Quase azul. Uma canção de jazz, uma caminhada pelo vento. E vou levando a vida. Escrevo: contos, crônicas, diários, feitiços e, sobretudo, poesia.