Paloma Palacio
Revista Transversal
3 min readFeb 3, 2019

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Três partes de um Bocejante Caos, de Goretti Smarandescu

Nesse domingo, a Transversal recebe a visita de Goretti Smarandescu. Atriz, performer, diretora, compositora, cantora, dançarina e palhaça. Passa a maior parte do tempo tentando ser ao menos uma dessas coisas todas.

Escritora por necessidade, nossa convidada possui um blog pessoal com poemas e pequenos textos, o http://bocejantecaos.blogspot.com/. Nojo, gozo e amor se misturam na escrita da Goretti como facetas de um mundo tropeçante de obviedades, reconstruível por força da urgência de se tornar palavra. Eis abaixo três textos que traduzem um pouco do Bocejante Caos da autora.

As lindas ilustrações são do Fernando Fernandes, amigo da escritora e da revista.


[sem título]

Nossos corpos entrelaçados se entrelaçam no estardalhaço do nosso gozo.
Nossos beijos babados no bulbo bubônico se babam na minha boceta amarga.
Nossa pele de melanina melada de melasma são como lesmas emburacadas.
Nosso suor soam suados no teu suvaco que tem cheiro de amparo.
Nossos sorrisos globosos no glóbulo do globo estrelar se envergonham por acarinhar.


Abacatada

A — Eu te conheço de algum lugar…
B — Ah! É que eu sou ator, faço muitas novelas…
A — …
B — Essa que tá reprisando agora eu fiz.
A — …
B — É sobre um casal homoafetivo que…
A — LEMBREI! Você é o cara do abacate no carro, não é?

2008. Uma tarde como outra qualquer. Estava no carro, vidros abertos, buzinando alto. Esperava minha namorada da época, a Tarsila. Fumava um carlton de filtro amarelo com o braço pra fora. Buzinava. Ela não aparecia. Buzinava e, eis que de repente, cai um abacate podre e gigante no para brisa do meu carro fazendo um barulho ensurdecedor que ocasionou na aparição de todos os vizinhos em suas respectivas janelas. Tarsila aparece. Finalmente. De vestido branco. Olho-a de cima a baixo, vestido curto. Saio pra fora do carro. Uma gosma verde amarelada escorre pelo vidro. “Você vai assim?” Pergunto. Ela nada me diz, parece surpresa. “Melhor trocar de roupa” Completo. Aparecem dois garotos curiosos querendo saber daonde surgiu aquele abacate gigante. Ela sobe, pé ante pé até sumir no prédio. Olhei pra cima e reparei que não havia nenhuma árvore por perto. “Devo estar ficando louco” Penso. “O senhor tem razão” Diz um dos garotos. “O que?” “O senhor tem razão. Aquele vestido… muito feio”. Os prédios são baixos e tem apenas dois andares, impossivel alguem ter jogado o abacate gigante pela janela. Mas daonde diabos tinha vindo aquele abacate?


Uma linda história de amor

Eu, dinossaura
Tu, meteoro

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